09/10/2008

MEDITAÇÃO: DIRECIONANDO O FLUXO DA CONSCIÊNCIA

A meditação é geralmente considerada como uma prática em que a pessoa fica sentada calmamente, contemplando os pensamentos ou analisando os problemas pessoais. Ou ainda como um treinamento em que a mente não pensa em nada, dando a sensação de paz, devido ao alheamento dos problemas diários. Mas nenhuma dessas idéias corresponde efetivamente ao conceito iogue de meditação.

Na terminologia iogue, meditação é chamada dhyana, que literalmente significa “deixar a mente fluir”. É um estado de pura concentração, no qual a mente flui livremente em direção à Consciência Cósmica. A princípio, a pessoa que medita pode ser capaz de se concentrar por apenas alguns segundos a cada vez, mas com o esforço regular, sua habilidade para direcionar a energia mental aumenta.


Quando a meditação se torna tão profunda que todos os sentimentos de individualidade são absorvidos pelo pensamento único da Consciência Cósmica, o aspirante atinge a absorção mental total, conhecida como samadhi. Nesse estado, sente-se o êxtase da união transcendental com a Consciência Cósmica.

Os iogues referem-se a essa bem-aventurança cósmica como Anandam. Aqui, a mente é libertada de todos os apegos, submergindo na realização bem-aventurada da Consciência Universal.

As práticas de meditação do Tantra ajudam a controlar e direcionar de forma sistemática a energia mental. Para controlar a mente durante a meditação, precisamos de um ponto sobre o qual possamos nos concentrar. A mente segue sempre em direção àquilo que é agradável; portanto, através do uso do “mantra”, ou vibração sonora especial, a mente é direcionada àquilo que é mais agradável - a bem-aventurança da Consciência Cósmica. Mantra literalmente significa “aquilo que liberta a mente” – é uma palavra sobre a qual a mente se concentra durante a meditação.

Os mantras são prescritos em sânscrito – um idioma muito antigo, conhecido por sua sutileza e exatidão no significado das palavras. Foi desenvolvido há milhares de anos por iogues que se submeteram a estados de profunda intuição. Há vários tipos de mantras, tais como os mantras cantados e os mantras exclusivos para a meditação. O mantra mais efetivo para meditação é o Ista mantra (Ista significa “meta”). Este é um mantra pessoal, através do qual o aspirante identifica o próprio ser com a meta de sua meditação, a Consciência Cósmica. 

Qualidades do Ista mantra

 1. PULSANTE: O mantra é composto de duas sílabas, que podem ser entoadas de acordo com o ritmo da respiração - uma sílaba é usada na inspiração e a outra, na expiração. Dessa forma, com a ajuda do mantra, a respiração natural mantém um fluxo calmo na mente e o mantra, por sua vez, regula o ritmo da respiração. A respiração profunda e pausada acalma a pessoa, que absorve mais oxigênio, induzindo-a a praticar meditação. Já a respiração curta, rápida e irregular está relacionada com os estados mentais de agitação e excitamento.

 2. CONCENTRADOR: A imersão da mente no oceano de consciência pura é comumente entendida de forma enganosa, como se a mente se tornasse vazia. Entretanto, a mente não pode funcionar sem que ela tenha um objeto ou um pensamento. O mantra ajuda a pessoa a se fixar num ponto de focalização, desligando-a do contínuo fluxo de pensamentos e imagens mentais.

 3. IDEATIVO: Cada palavra se constitui num símbolo. Ao ser pronunciada, ela cria uma imagem mental. Por exemplo, se alguém menciona a palavra “flor”, nossas mentes criam imagens de flores. Essa associação mental é chamada de paralelismo psicofísico, pois a vibração de uma determinada forma física cria outra vibração semelhante na mente.

A afirmação de que “somos aquilo que pensamos”, neste caso, se aplica perfeitamente. As pessoas que se apegam demasiadamente a objetos materiais têm dificuldade de sintonizar-se com pensamentos expansivos e idéias magnânimas. Sua visão do mundo é geralmente limitada e egocêntrica. Por outro lado, aqueles que se preocupam com o bem-estar dos outros e se esforçam em desenvolver ideais mais profundos, mantendo pensamentos elevados, estes são os que mais facilmente conseguem a expansão mental. É mais ampla ainda a visão daqueles que refletem sobre a Consciência Infinita e vêem Sua expressão em todas as coisas. Tal associação mental é chamada de paralelismo psicoespiritual.

Para ajudar os praticantes a desenvolverem um paralelismo psicoespiritual mais profundo, o significado fundamental de todos os Ista mantras é inspirar a união do indivíduo com o Ser Infinito.

4. ENTITATIVO (VIBRAÇÃO AJUSTADA À PESSOA): A vibração sonora do mantra deve se ajustar à vibração mental do indivíduo. Normalmente, uma pessoa tem preferência por coisas que tenham uma vibração semelhante à sua vibração interior. Os povos de diferentes nações têm suas preferências em relação à música, às cores etc., de acordo com sua própria vibração mental.

Assim como um tipo de música pode acalmar uma pessoa e não representar nada para outra, os mantras pessoais também têm a propriedade de se ajustar à vibração individual.

O método de utilização do mantra é importante, pois se o mantra for utilizado sem uma preparação adequada da mente, muito de sua eficácia se perderá. A mente deve, em primeiro lugar, se libertar de tensões, apegos e distrações da vida diária e, então, se desligar dos sentidos. Somente depois de cumpridos tais requisitos, o mantra poderá atingir a sua total eficácia. Importantes processos são ensinados juntamente com o Ista Mantra. 

Mantra e kundalinii

 Além dos efeitos acima mencionados, o Ista Mantra tem ainda uma importante função: despertar a “divindade adormecida”, ou a energia espiritual latente nos seres humanos. Essa energia espiritual, conhecida como “kundalinii”, está relacionada com o despertar de diferentes centros de energia psíquica conhecidos por cakras (pronuncia-se “tchácras”, e sua explicação consta do Capítulo 8). A energia da kundalinii, quando passa através dos diferentes cakras, proporciona o controle das propriedades físicas e psíquicas que eles detêm. Controlando suas tendências, é possível desenvolver o controle total da mente, permitindo que ela atinja o estado da realização absoluta - a expressão plena da Consciência Imaculada. 

A iniciação

 A iniciação é um dos eventos mais significativos na vida do aspirante espiritual. Além de ser a ocasião em que a técnica individual de meditação é ensinada, o mais importante é que nesse momento a potencialidade espiritual latente (a kundalini) é despertada.

No Tantra, diz-se que, quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Quando a pessoa desenvolve um desejo intenso pelo despertar espiritual, não é por mero acaso que ela entra em contato com o Mestre, seja em uma experiência mística com o Mestre, seja por meio do contato com alguém que o conduza ao caminho espiritual.

O processo individual de meditação e o mantra são ensinados por pessoas que receberam treinamento especializado na ciência do Tantra, baseados em instruções e recomendações do Guru, que também tratou de purificar e fortalecer a vibração dos mantras usados desde os tempos antigos. Embora o Guru não esteja presente fisicamente, é o seu poder espiritual, embutido no mantra, que proporciona o despertar espiritual.

A iniciação é o começo. Após receber os instrumentos e os mapas necessários para a jornada, o aspirante deve então seguir o caminho com sua própria força e determinação.

 

“A verdadeira educação é aquela que conduz à liberação”.

Shrii Shrii Anandamurti

 Prática regular

 Para ser efetiva, a meditação requer uma prática regular. Portanto, ao receber a iniciação, o aspirante espiritual é aconselhado a meditar duas vezes ao dia, começando com um período de 15 a 20 minutos a cada vez. Os melhores horários para a meditação são antes das refeições e durante o nascer do sol e o pôr-do-sol, pois nesses horários as vibrações da natureza são propícias para a reflexão e a prática espiritual.

A meditação feita de manhã cedo proporciona um início de dia com atitude mental positiva e ideação no Ser Infinito; a meditação da tarde ajuda a desconectar a mente das atividades normais do dia-a-dia, reconduzindo-a a um estado elevado de consciência. Com uma ideação bem direcionada, a pessoa mantém um novo padrão de comportamento, eliminando a ansiedade e o estresse emocional e conseguindo calma interior e contentamento. 

Benefícios práticos

 Os benefícios da meditação só podem ser sentidos integralmente através da experiência pessoal. Mas esforços da Ciência para compreender os estados mais elevados de consciência, durante a meditação, têm dado bons resultados. Pesquisas sobre as mudanças psicofísicas ocorridas durante a meditação permitiram sua utilização prática.

Por exemplo, comprovou-se que sua prática regular leva a redução da pressão sanguínea de pacientes com hipertensão, devido à estimulação do hipotálamo, que causa um efeito chamado “resposta de relaxamento”. A diminuição da atividade do sistema nervoso simpático durante a prática da meditação pode também ser notada ao longo do dia.

Entre outros efeitos se incluem: melhor oxigenação, o que diminui a produção de ácidos láticos e seu acúmulo nos músculos e, conseqüentemente, evitando a fadiga nos mesmos; redução significativa da pulsação cardíaca - eletrocardiogramas comprovam uma redução média de 8 batimentos por minuto; melhora da vitalidade da pele; aumento da percepção auditiva, bem como do reflexo e da coordenação motora; registros de eletroencefalogramas demonstram que o ritmo alfa aumenta sua amplitude, diminui a freqüência e atinge maiores áreas do cérebro. Esses sintomas exercem um grande efeito para o tratamento de certas doenças.

 

“As pessoas que se dedicam por completo ao pensamento do Grandioso e à inspiração do Ser Supremo são os verdadeiros heróis. Tais heróis certamente são virtuosos, somente eles podem fazer com que a história da humanidade seja levada da obscuridade para a luz.”

Shrii Shrii Ánandamúrti


A Liberação da Mente Através do Tantra Yoga - Compilação dos ensinamentos do mestre indiano Shrii Shrii Ánandamúrti (P. R. Sarkar)  

04/10/2008

TANTRA - A CIÊNCIA DA LIBERAÇÃO ESPIRITUAL

Tantra significa literalmente “aquilo que liberta da obscuridade”. Suas práticas espirituais, tendo a meditação como ponto básico, consistem no esforço para remover o véu do egocentrismo e da estreiteza mental, que inibe e impede a expressão do potencial ilimitado da mente humana. As características mais significativas do Tantra são a sua visão extremamente positiva do universo e a sua explicação abrangente sobre o mundo fenomênico, como uma expressão da Consciência Essencial e Infinita.

Com a visão de que toda existência surge da mesma Consciência Infinita, o princípio inerente ao Tantra é que cada indivíduo, ao imergir no âmago de sua consciência individual, pode vivenciar a unidade em todas as coisas e transcender o fluxo turbulento da percepção sensorial e a visão fragmentada do mundo relativo. O objetivo final do Tantra é a união com a Consciência Infinita e Não-Qualificada – um estado situado além do ego limitador e sua realidade compartimentada.

Liberação da Consciência

Vivemos num mundo de mudanças fantásticas - um mundo que dá grandes saltos no conhecimento e na compreensão da vida cotidiana. A sociedade pós-industrial é considerada como a era da informação e dos meios de comunicação, que colocam ao nosso alcance uma vasta quantidade de informação.

Enquanto nossas mentes são estimuladas pela era dourada da Ciência e as empresas se lançam na corrida desenfreada pelo domínio de mercados emergentes, a sociedade está em conflito, devido à falta de compreensão da natureza espiritual do ser humano. No corre-corre das atividades cotidianas, a harmonia e a compreensão interior são sufocadas, porque nossos sistemas nervosos ficam sobrecarregados.

À medida que a sociedade global se torna mais urbanizada, o estresse e a tensão crescem exponencialmente. As pessoas sofrem diversos impactos em todos os níveis: físico, emocional e social. A vida urbana, o foco da sociedade pós-industrial, apresenta novos e mais complexos dilemas.

Atualmente, a combinação das mais diversas pressões psicológicas e ambientais tem resultado na desintegração da personalidade, talvez a mais acentuada da história humana.

O estresse, em seu ponto máximo, criou a necessidade de se encontrar meios de alcançar a quietude interior. Psicólogos e pesquisadores da área de psicologia têm comprovado a eficácia das técnicas de meditação, que expandem a mente e reintegram a personalidade. Todavia, como veremos nos capítulos seguintes, a meditação e outras práticas tântricas constituem um sistema que não se limita em amenizar o estresse, porque visam à elevação do indivíduo a um estado de liberação da consciência.

“Devemos lembrar que as teorias não são fatores de libertação dos seres humanos. O que liberta é a elevada capacidade de manter livre e desimpedida qualquer perspectiva, grande ou pequena, de uma existência sutil - a vigorosa capacidade de conciliar a dura realidade da vida com o último estágio do mundo visionário.”

Shrii Shrii Anandamurti

Por que meditar?

Grande parte da psicoterapia moderna se baseia no conceito de que, durante a sua vida, a pessoa é condicionada por fatores ambientais e sociológicos, entre os quais se incluem os pais, os amigos, os parentes, os colegas de escola e de trabalho, todos eles impondo padrões de comportamento ao indivíduo, moldando sua personalidade. Estes condicionamentos, através de diversos processos mentais, criam tensão na psique humana, acarretando diferentes neuroses e psicoses.

Muitas terapias estão baseadas no princípio de que, ao se localizar e reconhecer a fonte de uma determinada tensão mental, esta pode ser compreendida e dissolvida; ou que, ao se reviver a situação na qual uma determinada tensão foi formada, a raiz da tensão pode ser expressada e conseqüentemente eliminada.

O tipo e a gravidade do condicionamento analisado depende de cada escola de pensamento. Por exemplo, muitas escolas acreditam que, ao nascer, o indivíduo é como uma “folha em branco”, sobre a qual todos as preferências, aversões e crenças são impressas.

Outras dizem que a origem do condicionamento e da tensão está no ventre materno e nas experiências pré-natais.

Para melhor compreendermos a meditação, uma análise do condicionamento e de seu impacto psicológico também é importante no Tantra. Mas mesmo que a visão do Tantra a respeito do condicionamento seja, em vários aspectos, semelhante à análise da psicologia moderna, a sua compreensão do grau de influência do condicionamento é significativamente diferente.

No Tantra, a análise do condicionamento leva em conta a totalidade do ser. Todas as impressões obtidas pelos sentidos e todos os pensamentos vivenciados pelo indivíduo combinam-se para moldar a identidade do ego.

Assim, num estado sem condicionamentos, a mente se liberta do ego limitador e se identifica com a Consciência Universal. A individualidade cede espaço para o sentimento de unificação com todas as coisas.

Essa reprogramação do condicionamento mental é facilitada pela meditação. No processo de identificação da mente com a Consciência Essencial – que está além da visão limitadora do ego – este é gradualmente lapidado, permitindo a revelação de uma identidade mais significativa e uma nova visão do mundo, com maior clareza e sem preconceitos.

Uma questão em aberto

Podemos colocar de lado as complexidades do condicionamento e ver de forma muito mais simples a consciência espiritual obtida com a meditação.

Durante uma reflexão profunda, às vezes nos perguntamos o que somos. Nossa mente reflete sobre a questão fundamental a respeito do significado da consciência. A sensação contemplativa de que possuímos consciência é até hoje um mistério para nós. Da mesma forma que o físico questiona a origem da matéria, a mente reflexiva analisa a origem da consciência humana.

Entretanto, raramente temos essa sensação, porque estamos envolvidos com as ocupações do dia-a-dia, com as responsabilidades profissionais e com as tarefas que visam satisfazer as carências físicas e emocionais, tanto nossas quanto de outras pessoas. Gradualmente, a inspiração da consciência se desvanece, por não lhe darmos a devida atenção.

A meditação constitui uma técnica de auto-ajuda, um momento em que podemos manter contato com nossa própria consciência. Na meditação, podemos sair da superficialidade dos pensamentos da vida cotidiana e atingir o interior de nossas mentes; e, quando retornamos à nossa existência normal, ela passa a ser interpretada de forma diferente e adquire um novo significado.

A mente meditativa interrompe o processo de extroversão e deixa de ser atraída pelo mundo fenomênico, concentrando-se na consciência e criando uma nova perspectiva de vida.

Expandido o nível de consciência

Para muitos, a realidade percebida por meio dos cinco sentidos significa tudo, ou pelo menos é tratada como se assim o fosse. Assim como uma pessoa que viveu em um único lugar por toda a sua vida pensa ser aquele o único lugar no mundo, também acreditamos que nossa limitada percepção do mundo é completa.

A ciência nos mostra quão limitados são nossos sentidos. Apenas um pequeno espectro das vibrações luminosas que circundam nossa existência diária é percebido por nossos olhos e, da mesma forma, somente uma fração das ondas sonoras é captada por nossos ouvidos. Em suma, percebemos apenas uma parte da realidade – aquela que a ciência também consegue comprovar.

O mais surpreendente ainda é que, ao analisarmos o mundo perceptível, descobrimos, no nível das partículas subatômicas, uma realidade diferente da que vemos. O que vemos como matéria sólida é, em nível subatômico, um grupo de várias partículas movendo-se em alta velocidade, em grandes espaços vazios. E, para aumentar ainda mais o dilema, os físicos atuais explicam que não podem determinar se aquilo que denominamos de “partículas” possui qualquer “substância” verdadeira. Portanto, o que pensávamos ser tangível e passível de uma definição torna-se, num outro nível de análise, incompreensível, transformando nossa concepção e entendimento em algo absurdo.

Os diferentes comprimentos de ondas atestados por instrumentos sensíveis não eram de nosso conhecimento há pouco mais de um século. A Ciência está agora descobrindo essas ondas e aprendendo a utilizar esse novo conhecimento. Fica a critério de cada um especular o que a Ciência poderá descobrir no futuro. Mas o Tantra, há milhares de anos, já reconhecia a infinidade de vibrações existentes no universo e descrevia a criação como um processo de ondas de diferentes comprimentos em movimento.

A Ciência só consegue comprovar o comprimento das ondas da matéria e da energia física, enquanto o Tantra explica também a existência da mente e da energia psíquica como manifestações em forma de ondas. Aquilo que percebemos com os sentidos e a Ciência comprova com a ajuda de instrumentos, de acordo com o Tantra, é apenas um nível da realidade relativa, ou seja, o nível mais denso. Além da realidade física, há vários níveis mentais que não podem ser explorados com o uso de instrumentos físicos ou dos sentidos, mas que podem ser compreendidos com o uso de um instrumento mais sutil: a mente. A meditação é um meio para sintonizar a mente e direcioná-la para um plano superior, retirando-a da apreciação puramente física do mundo. Poderemos, então, apreciar os reinos mais sutis da existência e reconhecer a beleza mais profunda do mundo em que vivemos.

“A espiritualidade não é um ideal utópico, mas sim uma filosofia prática que pode ser aplicada e realizada na vida cotidiana. A espiritualidade prega a evolução e a elevação ao invés da superstição e do pessimismo”.

Shrii Shrii Anandamurti

Motivação ampliada

Por ser fundamentada na busca da essência da vida humana, a meditação não possui definição única, nem as pessoas que iniciam sua prática têm apenas uma motivação. A verdadeira meditação não está limitada à motivação inicial, seja ela qual for.

À medida que, através da meditação, a mente expande seus horizontes, a consciência é despertada e as razões iniciais se dissolvem, devido à gradual expansão do sentimento espiritual. Finalmente, descobrimos que aquilo que pensávamos ser as razões pessoais para a meditação, na realidade, era um reflexo do desejo de expressão da nossa natureza espiritual.

Uma visão histórica

A meditação é uma prática espiritual que vem se desenvolvendo há milhares de anos, tendo no Tantra suas raízes mais antigas. O Tantra foi difundido pelo Senhor Shiva, mestre espiritual, que viveu há 7.000 anos, na região entre as montanhas do Himalaia e o Norte da Índia.

Mesmo naquela época remota, o Tantra já era uma ciência completa da vida, cobrindo vários aspectos do desenvolvimento pessoal e social. Tal filosofia não estava restrita à meditação subjetiva, já que se estendia aos ramos da literatura, da arte, da dança e da medicina, constituindo uma abordagem holística da vida.

Ao longo dos anos, surgiram ramificações e adaptações do Tantra, que gradualmente formaram disciplinas mais especializadas, conhecidas como diferentes ramos do Yoga.

Yoga significa “união” e se refere à união da consciência individual com a Consciência Cósmica. Vários ramos de Yoga propõem a realização dessa união cósmica enfatizando determinados aspectos do Tantra, enquanto outros igualmente importantes são deixados de lado. As formas mais conhecidas de Yoga são as mencionadas a seguir.

JINANA YOGA: Literalmente significa “Yoga do Conhecimento”, que enfatiza o estudo e a abordagem filosófica para um despertar intelectual que conduza à realização do Absoluto.

KARMA YOGA: “Yoga da Ação” consiste em realizar ações voltadas para o serviço ao próximo, fazendo com que a mente se torne desapegada de sentimentos de autoria da ação, vaidade e expectativa de resultados e os entregue à Consciência Cósmica, que habita o íntimo de todas as coisas e seres.

BHAKTI YOGA: “Yoga da Devoção” cultiva a força atrativa de um amor genuíno pela Consciência Cósmica. Conduz o aspirante ao contato profundo com o Ser Adorado, de tal forma que a realização se torne possível.

HATHA YOGA: É uma abordagem com várias prescrições para o corpo, incluindo as posturas de Yoga, exercícios de respiração e outras técnicas purificadoras. O controle e a regularização das funções corporais ajudam a adquirir domínio da mente, para assim se atingir a meta individual.

RAJA YOGA: Também conhecida como Astaunga Yoga, ou Yoga dos Oito Passos, os quais são: 1) Yama e 2)Niyama (ética iogue); 3)Posturas de Yoga; 4)Controle da energia vital através da respiração; 5)Abstração das vibrações recebidas pelos sentidos; 6) Concentração, 7) Meditação e 8)Realização da meta (samádhii). Embora esse passos do Raja Yoga tenham sido praticados por iogues desde a época de Shiva, há milhares de anos, eles só foram sistematizados como Aforismos de Yoga, por Patanjali, cerca de 2.200 anos atrás.

A divisão do Tantra em áreas diferentes e especializadas fez com que ele deixasse de ser um modo de vida efetivo e completo. Diferentes escolas, ao se concentrarem em determinadas áreas, negligenciaram a sabedoria global do Tantra.

O que é meditação?

Muitas pessoas, erroneamente, acreditam que a meditação produz resultados instantâneos: pensam que basta se sentar e aguardar que o processo funcionará como um passe de mágica, encantando o meditador e levando-o a um mundo sem pensamentos, pleno de bem-aventurança, quietude e brilho. Quando essas experiências não acontecem nas primeiras semanas de meditação, os novos praticantes crêem que estão fazendo alguma coisa errada ou que a sua técnica é ineficaz. Conseqüentemente, devido a esse entendimento errôneo, eles interrompem a prática.

O que se deve esperar das primeiras semanas de meditação? “A mente é como um macaco enlouquecido por picadas de escorpiões”, disse o grande iogue Ramakrishna, e as pessoas que começam a meditar e tentam concentrar-se sabem que isto é verdade. Principalmente no começo, a mente é insubordinada e incontrolável. Quando você se senta para meditar, muitos pensamentos surgem e sua mente vagueia, por vários motivos: sons e ruídos externos desviam sua concentração, seu corpo não fica quieto e você finalmente se levanta pensando que nada aconteceu.

Mas algo mudou! Com a prática regular você desenvolve a capacidade de manter a mente firme. Assim como o corpo de um atleta adquire grande força física e vitalidade com o treinamento diário, a pessoa que medita com dedicação desenvolve força mental e capacidade para concentrar-se. Somente com o passar do tempo é que surge o estágio em que conseguimos verdadeiramente fixar nossa mente no objeto da meditação e permanecer nele - então, a verdadeira meditação é realizada.

Outra experiência intrigante para alguns é que a mente parece até mesmo mais instável após começarem a meditar. Surgem mais pensamentos do que antes, e isto leva as pessoas a pensarem que o processo não está sendo feito corretamente. O oposto é que é a verdade. A função da meditação é trabalhar o interior da mente e eliminar todas as reações de ações passadas, registradas em nosso subconsciente. É como limpar uma casa. No meio do processo, a casa pode parecer mais suja do que no início, mas perseverando e não desistindo no meio, conseguimos limpá-la. Da mesma forma, perseverando na meditação, a mente se purifica cada vez mais.

Meditação é o esforço para controlar e desenvolver a mente, a fim de realizar a verdadeira natureza do ser humano (Dharma). É o meio através do qual podemos desenvolver todo o nosso potencial em todos os níveis da existência: físico, mental e espiritual.

“A espiritualidade provê à humanidade uma força sutil e extraordinária à qual nada se compara. Assim, adotando a espiritualidade como base, deve-se desenvolver uma filosofia racional que possa solucionar os problemas físicos, psicológicos, sociais e filosóficos da vida cotidiana.”

Shrii Shrii Anandamurti


A Liberação da Mente Através do Tantra Yoga - Compilação dos ensinamentos do mestre indiano Shrii Shrii Ánandamúrti (P. R. Sarkar) 

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