23/11/2010

Existe Óleo no Gergelim

E o sentimento inteiro de “eu” é chamado de guhá. Ele é guháyita tattva [a entidade dentro do sentimento de “eu”]. Ele reside dentro do seu sentimento de “eu”, mas você não pode sentir a Sua existência. Para sentir a Sua existência, a pessoa tem que fazersádhaná, a pessoa tem que praticar sádhaná. Porque Ele está oculto dentro do seu sentimento de “eu”.

Tileśu taelaḿ dadhiniiva sarpirápah srotahsvarańiiśu cágnih;

Evamátmátmani grhyate’sao satyenaenaḿ tapasá yo’nupashyati.

[Ele está escondido em tudo, como o óleo nas sementes de gergelim, como o ghee na coalhada [curd, em inglês], como a água no fundo do leito de um curso d’água, como o fogo na madeira. Apenas aquelas pessoas que aderem estritamente a satya, e que realizam práticas espirituais, podem bater [churn, em inglês] a mente e realizar a Entidade Suprema de dentro dela.]


Existe óleo no gergelim, mas se você quiser obter óleo, o que você terá de fazer? Você terá de esmagá-lo com a ajuda de uma máquina para prensar, e o óleo sairá. Agora a parte essencial será o óleo, e a outra parte, a parte remanescente, será o resíduo.Tileśu taelaḿ [“Como o óleo nas sementes de gergelim”]. Similarmente, batendo o seu sentimento de “eu”, você irá obter dois fatores: a essência, ou seja, Parama Puruśa, e o resíduo, ou seja, a sua mente depravada.

Dadhiniiva sarpih - “existe sarpi no dadhi, na coalhada existe sarpi”. Sarpi significa “ghee”. Em sânscrito, existem três palavras populares para ghee - sarpi, ghrtam e upasecanam. Agora, existe ghee na coalhada, mas você não pode vê-lo, você não pode pegá-lo. Se você quiser separar o ghee da coalhada, você terá de batê-la. Similarmente, se você quiser separar a faculdade cognitiva do seu sentimento de “eu”, você terá de batê-lo. E o que é essa bateção? Prática espiritual.

Ápah srotahsu. Na estação de verão, você verá que os rios sazonais [i.e., intermitentes] não terão nenhuma água. Um rio sazonal fica cheio de areia, como um deserto. “Mas há água, há uma fluxo subterrâneo de água.” Se você quiser pegar a água, você terá de remover a areia, e você verá que existe um fluxo subterrâneo de água. Similarmente, você não pode vê-Lo em sua mente, mas se você remover as impurezas de sua mente, você verá que Ele está presente ali como a essência da mente - ápah srotahsu.

Arańiiśu cágnih - “No combustível, na madeira, existe fogo”, mas você não pode ver o fogo. Se você quiser ver o fogo, o que você terá de fazer? você terá de criá-lo através de fricção. Similarmente, você não consegue vê-Lo em sua mente, mas como resultado de fricção, você irá obtê-Lo no núcleo do seu coração.

Evamátmátmani grhyate’sao satyenaenaḿ tapasá yo’nupashyati - com a ajuda de satyam [uso correto das palavras] e detapasya [serviço aos outros, às custas do próprio conforto e prazer], você irá obtê-Lo como a essência da sua mente.” Você terá de fazer sádhaná, porque Ele está presente dentro da sua mente, em forma encoberta, não em forma expressa. Ele está dentro da sua guhá.

Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ. Na noite anterior eu disse que Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ [“a essência dedharma está nas profundezas da mente”]. Os rśis [sábios] também dizem isso:

Brhacca taddivyam acintyarúpam sukśmácca sukśmataraḿ vibháti;

Dúrát sudúre tadihántike ca pashyatsvihaeva nihitaḿ guháyám.

[A Entidade Suprema é a entidade mais vasta, a fonte última de todas as emanações cósmicas. A Entidade Suprema, que é difícil de ser concebida, é a mais sutil do sutil. Ele está mais distante do que qualquer outra entidade, mas Ele também está mais próximo do que o mais próximo. Apenas a pessoa que procurar nos recônditos mais internos de si mesma pode realizar a Entidade Suprema.]

Também aqui eles usaram a palavra guháyám.

Brhacca taddivyam acintyarúpam – “Ele é brhat.” Em sânscrito há duas palavras similares [...], brhat e vishála.

Em sânscrito, vishála significa “grande, muito grande, muito muito grande, mas que pode ser medido”. As poderosas montanhas Himalayas - elas são muito grandes, mas você pode medí-las - “Oito mil metros” - você pode dizer algo assim. Ou seja, os Himalayas são muito grandes, mas podem ser medidos. Quando uma entidade muito grande pode ser medida, nós dizemos que ela é vishála. E quando uma entidade muito grande não pode ser medida, nós dizemos que ela é bhrat. Bhrat e vishála. O país Índia é vishála, não brhat. Agora, no universo inteiro, há somente uma entidade que é bhrat, que é Parama Puruśa, o SupremoPuruśa [Consciência Suprema], e não há outra entidade que seja bhrat. Ele [o Ser Supremo] é bhrat. Brhattvád Brahma, brḿhańatvád Brahma - “Ele é chamado Brahma [Entidade Suprema] porque Ele é bhrat; Ele é chamado Brahma porque Ele faz outros serem bhrat.” A faculdade que torna os outros em brhat, aumentando os outros, é chamada brḿhan em sânscrito. Ele é chamado Brahma porque Ele é bhrat e porque Ele tem a faculdade de brḿhan. Brhattvád Brahma, brḿhańatvád Brahma.

Brhacca taddivyam acintyarúpam – “Ele é brhat. Ele está além do escopo de medições.” Brhacca taddivyam acintyarúpam. Esta faculdade divina é brhat e acintyarúpam.

Divya. Divya significa “divina”.

Acintyarúpam. Acintya significa “que não entra dentro da periferia da mente”. As entidades que entram dentro do escopo dos três fatores relativos fundamentais - tempo, espaço e pessoa - fator temporal, fator espacial e fator pessoal - também entram dentro do escopo da mente. E qualquer entidade que não entra dentro do escopo de tempo, espaço e pessoa, que não entra dentro do escopo da causalidade, dentro do escopo da teoria de causa-e-efeito, também não entra dentro do escopo da mente. E é por isso que, neste shloka, foi dito acintya - ou seja, “que não entra dentro do compasso da mente”. Brhacca taddivyam acintyarúpam.

Mas será que Ele é somente bhrat? Não. Sukśmácca - Brhacca taddivyam acintyarúpam sukśmácca sukśmataraḿ vibháti. As pessoas dizem que Ele é pequeno. Bem, Ele não é apenas pequeno. Ele é muito, muito pequeno. “Ele é menor que uma minúscula partícula, menor que um íon.” Ele é muito, muito pequeno. Sukśmácca sukśmataraḿ vibháti. E sukśmatara significa “mais sutil que o mais sutil”. Sukśmácca sukśmataraḿ vibháti - “Ele é mais sutil que o objeto mais sutil deste universo manifesto”. Agora, veja você, no caso de uma entidade muito grande, no caso de uma entidade bhrat, esse objeto não entra dentro da periferia da sua mente porque ele está além do escopo de tempo, espaço e pessoa. E também no caso de uma entidadesukśmatara, ou seja, de uma entidade mais-sutil-que-o-mais-sutil, a entidade não entra no escopo da sua mente. Você não pode ver um átomo com olhos ordinários, e sukśmatara é menor que um átomo, menor que um elétron. Sukśmácca sukśmataraḿ vibháti - quer dizer, neste caso, “Ele é a Entidade Efulgente”.

Dúrát sudúre tadihántike ca. Dúra significa “distante”. Em sânscrito, a palavra dúra é usada quando a distância está dentro do escopo da medição. Tantos quilômetros, tantas milhas. Mas quando a distância não entra dentro do escopo da medição, dizemossudúra. Agora, a este respeito um rśi diz: Se um sádhaka, um aspirante espiritual, uma pessoa - se uma pessoa pensar que ‘Ele está distante de mim’, então Ele não é dúra e sim sudúra para mim”.

Tadihántike ca. Em sânscrito, iha significa “aqui”. Mas você sabe, se nós dizemos “aqui”, então também queremos dizer que há um afastamento que pode ser medido - tantos centímetros ou tantas polegadas - mas ihántika, em sânscrito, significa “o ponto mais próximo, que não entra no escopo da medição”. A pessoa que pensa que Ele é dúra, para ela Ele é sudúra. E a pessoa que pensa que Ele está aqui comigo, para ela Ele é ihántika -- ou seja, “o ponto mais próximo, que não entra no escopo da medição”. Você pode dizer qual é o seu ponto mais próximo? Não. Será este? Não, este. Este? Não, este. Este? Não, este. Qual é o ponto mais próximo? Ninguém pode dizer qual é o seu ponto mais próximo. Dúrát sudúre and tadihántike ca -- “Ele é o ponto mais próximo”.

Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ [“a essência de dharma está na profundeza da mente”]. Aquelas pessoas que têm olhos para ver, o que elas vêem? Nihitaḿ guháyáḿ -- “Ele está escondido dentro de guhá, dentro do próprio sentimento de ‘eu’.” Portanto, se o sádhaka, o aspirante espiritual, deseja desfrutar da Sua proximidade, o que a pessoa tem de fazer? Ela não precisa ir até diversos tiirthas [lugares de peregrinação]. Ela não precisa gritar para Ele em voz alta. Porque Ele é o ponto mais próximo. Ele pode pode ouvir a sua linguagem mental. Então, aquelas pessoas que querem desfrutar da Sua proximidade, o que elas tem de fazer, o que elas deveriam fazer? Elas tem de procurar por Ele dentro de seu próprio sentimento de “eu”, dentro de seu próprioguhá; e isto é chamado de sádhaná.

* * *

Shrii Shriii Ánandamúrtijii

Publicado em: Ánanda Vacanámrtam Part 34

Quem sou eu ?