05/03/2017

Krśńa Concede Seis Estágios de Realização¹

Shrii Shrii Anandamurti 
Calcutá, Índia, 7 de setembro de 1980. 

Quando Parama Purusá Se encarna como Táraka Brahma [a Entidade Suprema Liberadora] em um certo período de transição, as pessoas daquele período desfrutam certos privilégios especiais. Os privilégios desfrutados pelas pessoas são a verdadeira prova do advento ou encarnação de Táraka Brahma. Vamos analisar como Vraja Krśńa e Párthasárathi Krśńa procuraram ajudar e realmente ajudaram as pessoas no caminho da espiritualidade. 


Quando as pessoas obtêm progresso no reino da realização espiritual, esse progresso é dividido em seis estágios: sálokya, sámiipya, sáyujya, sárúpya, sárśth́ i e kaevalya

Sálokya: No estágio de sálokya as pessoas sentem que vieram à Terra ao mesmo tempo que Parama Purusá. A maior realização da vida humana é que a pessoa veio viver neste mundo na mesma época em que o Próprio Parama Purusá escolheu encarnar nesta Terra como Táraka Brahma. O grande devoto Vrindavana Das observou: “É meu maior infortúnio eu não ter nascido ao mesmo tempo em que o Senhor decidiu encarnar-Se nesta Terra.”

 E hena sampad kále goránábhajinu hele Tachu pade nákarinu ásh; Shrii Krsń́a Caetanya T́hákur Shrii Nityánanda Guoa gáy Vrindávana Das. 

Ele lamentou: “Quão desafortunado eu sou por não ter vindo quando o Senhor estava fisicamente presente nesta Terra. Eu nasci mais tarde.” É realmente um grande infortúnio, uma aflição espiritual, nascer um pouco antes ou depois do advento do Senhor – realmente é uma aflição espiritual. O próprio pensamento de que “Parama Purusá estava na Terra ao mesmo tempo em que eu estava” traz um senso de êxtase, uma alegria imensa. Esse estado de alegria ou de bem-aventurança é chamado de sálokya. (Loka significa “o mundo”. Em bengali, loka significa “ser humano”, mas em sânscrito significa um nível [neste caso, o mundo].)


Quando Krśńa estava em Vraja, as pessoas sentiram alegria intensa e um senso de orgulho de que uma grande personalidade na forma de um jovem homem havia escolhido viver entre eles. Aqueles que entraram em contato com Párthasárathi Krśńa também sentiram que Krśńa estava com eles, guiando-os, em todos os níveis. 

É bastante curioso que Duryodhana, ainda que aparentemente fosse um inimigo de Krśńa, estava convencido de que Krśńa não era uma pessoa comum . Ele pensou que se pudesse conseguir o apoio de Krśńa, ele seria muito afortunado. Assim, no limiar da guerra de Kuruksétra ele foi até o Senhor Krśńa pedir ajuda a Ele . Tanto Duryodhana quanto Arjuna foram até Krśńa em busca de ajuda². Arjuna estava mais avançado do que Duryodhana no que diz respeito à realização de sálokya.

Duryodhana chegou no palácio de Krśńa antes que Arjuna e encontrou Krśńa deitado na cama com os Seus olhos fechados, fingindo que estava dormindo profundamente. Arjuna chegou depois e sentou -se próximo dos pés de Krśńa. [Duryodhana havia se sentado ao lado da cabeça de Krśńa.] Subitamente Krśńa sentou-se e agiu como se tivesse recém acordado. Ele o fez de tal jeito que Ele olhou primeiro para Arjuna, sentado próximo dos Seus pés, e disse: “Ó, bem-vindo Arjuna, você veio. É bom ver você.” Então ele viu Duryodhana e disse: “Bem-vindo Duryodhana, você também veio. É bom te ver.” 

É claro que isso era tudo fingimento, porque na verdade Duryodhana havia chegado antes. Mas a realização de sálokya dele era menor do que a de Arjuna; ele não tinha a realização profunda de que Parama Purusá, Táraka Brahma, havia encarnado na Terra. Por isso ele não conseguiu obter os benefícios de sálokya, ao passo que Arjuna facilmente conseguiu. Agora, a entidade que estava fingindo estar adormecida não era Vraja Krśńa, aquele que constantemente segurava e tocava a flauta mágica , e sim Párthasárathi Krśńa, a pessoa perspicaz, a pessoa com o intelecto focado no ápice. Tivesse Ele sido Vraja Krśńa, Ele teria tocado a Sua flauta mágica, atraindo Duryodhana tão próximo de Si quanto Arjuna. Aqui está a diferença entre Vraja Krśńa e Párthasárathi Krśńa. Párthasárathi Krśńa empregou as táticas da diplomacia sempre que necessário – e naqueles dias isso era muito frequente. 

Sámiipya: O segundo estágio da realização espiritual é sámiipya. No primeiro estágio, as pessoas entendem que nasceram ao mesmo tempo e no mesmo mundo que o Senhor delas. Já no segundo estágio, elas se sentem próximas de Parama Purusá, próximas o bastante para falarem com Ele como amigos, até mesmo sobre assuntos extremamente pessoais, e assim podem ser aliviadas e confortadas por Ele. Algumas vezes as pessoas se sentem tão íntimas Dele que vão até Ele não necessariamente para expôr suas dificuldades pessoais, mas para obter alívio, consolo e para ganhar força suficiente para aguentar as dificuldades e problemas, as tempestades e tensões da vida pessoal. 

Muitas pessoas que se aproximaram de Vraja Krśńa – e elas eram pessoas muito comuns – tiveram essa realização de sámiipya. Mas aquelas que tinham o privilégio de entrar em contato com Párthasárathi Krśńa eram ou pessoas altamente instruídas e grandes santos, ou reis e dignatários. Não era qualquer pessoa que tinha o privilégio de entrar em contato com Párthasárathi Krśńa e desfrutar da realização de sámiipya

As pessoas que tiveram a experiência de sálokya ou sámiipya tiveram de passar por várias dificuldades e provações. O caminho da realização não era de forma alguma simples ou suave. No caso de Vraja Krśńa, a realização de sálokya e sámiipya era alcançada com muito pouca dificuldade , mas no caso de Párthasárathi a pessoa não necessariamente obtinha a realização de sámiipya como um concomitante inevitável de sálokya.

Sáyujya: Em seguida vem o estágio de sáyujya. Ele implica um contato íntimo, quase contato corporal – a maior proximidade imaginável. A maioria das pessoas de Vraja desfrutou da realização de sáyujya, pois elas comeram, cantaram, tocaram a flauta, dançaram com, e sentaram-se próximas de Krśńa, o mais querido delas. Mas não era tão fácil alcançar o estágio de sáyujya com Párthasárathi Krśńa. Somente Arjuna, o terceiro dos cinco irmãos Pandavas, foi abençoado com essa realização. Nenhum dos outros irmãos teve essa oportunidade.


Sárúpya: O próximo estágio da sádhaná [prática espiritual] é sárúpya. Ela implica que “Não apenas eu estou próximo Dele, mas sempre que eu penso Nele, eu O vejo por todos os lados.” Agora, como é que as pessoas atingem esse estado de realização? Uma pessoa pode atingir esse estado tornando-se Seu companheiro mais próximo e íntimo – Seu pai, mãe, esposa, filho ou qualquer parentesco próximo e querido – ou a pessoa também pode realizá-Lo de outro modo. Se uma pessoa comete muitos pecados e torna-se um pecador consumado, ela sempre terá um medo mortal e pensará Nele: “Ah, eu; eu estou fazendo essas coisas ignóbeis; o Senhor está vendo tudo.” Ao pensar desse jeito, a pessoa ou fica louca ou morre. Ravana³  via Parama Purusá como seu inimigo, e por fim morreu pelas mãos de Parama Purusá

Kansa também encarava Parama Purusá como seu inimigo. Consequentemente, apenas uma semana antes da sua morte, Kansa via o reflexo de Krśńa em todo lugar: no céu, no vento, nas árvores, na terra e na água. A história nos conta que naqueles tempos as crianças do ensino primário eram ensinadas que “Ka é de ‘Krśńa’” . Os seguidores de Krśńa diziam: “Ka é de ‘Krśńa’”. Mas Kansa, por um medo extremo de Krśńa – um tipo de complexo de medo – exigiu que os professores ao invés disso ensinassem “Ka é de ‘Kansa’”. Kansa O via em todo lugar e consequentemente ficou louco: ficou louco uma semana antes da sua morte, e então deparou-se com a sua morte física. (Ravana também via Parama Puruśa como seu inimigo.) 

Assim, é verdade que se pode alcançar Parama Purusá sendo Seu inimigo, mas esse caminho é torturante e cruel. Seria melhor que ninguém tivesse que passar por tais sofrimentos, porque uma pessoa assim acaba ficando condenada pela sociedade enquanto durar a história humana. Quando essa realização de sárúpya (ver Parama Purusá em toda e cada partícula deste universo) é consequência de um amor imenso por Parama Purusá, essa é a realização genuína, a verdadeira realização – e é algo que se pode desfrutar; algo extremamente doce e precioso. Quando os seres humanos ficam ansiosos para encontrar Parama Purusá; quando eles dão duro para realizá-Lo em todas as suas ações (e por fim conseguem) – o zelo deles, o seu anseio irresistível pelo Senhor, é chamado de arádhaná em sânscrito (a - rádh + anat́+ tá [sufixo feminino] = arádhaná). E a entidade que pratica essa arádhaná é conhecida como “Rádhá”. Aqui Rádhá representa a mente de um devoto . As pessoas de Vraja sentiram e realizaram Krśńa em todos os seus pensamentos e ações.

 Jale Hari, sthale Hari, anale anile Hari, Graha tárásúrje Hari, Harimay e trisaḿsár.
Hari está em todo lugar, Hari está em todas as coisas: na terra, na água, no vento e no fogo. Ele está no sol; Ele está nos três mundos.] 

No caso da sárúpya de Párthasárathi, as pessoas O viam em todas as coisas. Os Pandavas experimentaram essa realização como amigos e devotos inseparáveis de Krśńa, e os Kaoravas como os formidáveis inimigos Dele. As pessoas que são criminosas ou pecadoras pensam em Parama Purusá como sendo inimigo delas. “Vejam só”, pensam com medo os inimigos de Krśńa, “aqui vem o inimigo Párthasárathi Krśńa.” Portanto, o mundo inteiro ficou polarizado durante a vida Dele. Essa polarização também aconteceu durante o período de Vraja Krśńa, mas ela foi apenas parcial. Na época de Párthasárathi Krśńa polarização ficou completa. A sociedade ficou dividida em campos opostos: de um lado aqueles que eram extremamente comprometidos com Ele, sempre dispostos a dar suas vidas pela Sua missão e Sua ideologia; e do outro lado aqueles que ficaram tão raivosos e tão hostis que não podiam sequer tolerar o Seu nome – que dirá a Sua existência. 

Sárśth́i: E então temos sárśth́i. Sárśth́i acontece quando os aspirantes espirituais percebem Parama Purusá de todas as formas possíveis e de todas as maneiras concebíveis. Os devotos não somente O vêem – eles também permanecem unidos com Ele, unos com Ele. Ou seja: o sádhaka tem o sentimento de que “eu existo, Ele também existe, e há uma ligação entre nós.” Existe um sujeito, existe um objeto e existe um verbo que conecta os dois. Esse é o significado próprio de sárśth́i. Existe uma certa diferença entre os significados de sárśth́i e de sárúpya. Em sárúpya o sentido é “Eu existo, e Você, meu Senhor, também existe”, ao passo que em sárśth́i é “Eu me tornei uno com Você.” Mas ainda resta a questão dessa minha unificação com Você. Ou seja: existe um sentimento de “eu”, ainda que muito tênue. Do contrário, como é que eu poderia dizer que eu me tornei uno com Você? Colocando a ideia de outro modo: aqui em sárśth́i o devoto e o Senhor estão extremamente próximos, mas mesmo assim a dualidade ainda permanece. O devoto existe e sente que o seu Senhor também está ali – portanto há um dualismo. “Eu não quero me tornar açúcar, eu quero saborear o açúcar. Se eu me transformar em açúcar, como é que irei desfrutar o sabor dele?”

 Cini hate cáine re man, Cini khete bhálabási.
            – Ramprasad 

Portanto, tem de haver algum senso de dualidade. Esse senso de dualidade, ainda que muito tênue, é a palavra final na maioria das escolas de filosofia Vaeśoava e na maioria das religiões do mundo . Existem algumas escolas Vaeśoava que insistem que a última palavra é “Senhor, somente Você existe.” Esse estado de realização – “Somente Você existe” – é chamado de kaevalya. Nas escrituras Vaeśoava, não é feita muita menção a kaevalya (ainda que não seja completamente inexistente), pois sárśth́i em geral é considerado o estágio mais elevado. Esse estágio de realização foi alcançado através de Vraja Krśńa, e também através de Párthasárathi Krśńa, mas de um modo diferente. Falando de forma geral, a realização é similar tanto no caso de Vraja Krśńa quanto no de Párthasárathi Krśńa, mas para Vraja Krśńa as realizações de sámiipya, sáyujya, sárúpya e sárśth́i vieram através de madhura bháva [doçura], de ideação agradável e intimidade em cada estágio – através de alegria e bem-aventurança transbordante. Já no caso de Párthasárathi Krśńa, a realização veio através da luta, através de privações e adversidades. Diferentemente de Vraja Krśńa, Párthasárathi Krśńa no estágio de sálokya não inspira os corações dos Seus devotos tocando música bonita em Sua flauta. Pelo contrário, Suas instruções para os Seus devotos são: “Cumpram suas tarefas mundanas, construam uma sociedade estável sobre uma economia firme, lutem contra a injustiça e formem uma base segura para os indivíduos e para a coletividade. Sejam pragmáticos e permaneçam unidos contra todas as forças malignas. Unam os diferentes grupos na sociedade sobre uma plataforma comum.” 

Todos vocês sabem que foi o Senhor Shiva quem primeiro ensinou aos seres humanos como viver uma vida sistemática e harmoniosa, e como opor-se às tendências divisivas resultantes das propensões animais. Isso foi considerado como suficiente durante a época de Shiva, mas durante a época de Krśńa havia uma consciência social maior. Krśńa queria despertar nas mentes das pessoas um forte anseio de lutarem contra as forças malignas. Ainda que Krśńa não tenha fornecido qualquer teoria sócio-político-econômica, Ele tornou as pessoas conscientes nas esferas social, econômica e cultural e fez a sociedade avançar dando inspiração do Seu próprio jeito inigualável. Ou seja: Párthasárathi Krśńa ajudou as pessoas a avançarem expandindo a consciência social delas. É por isso que aqueles que receberam o treinamento de Párthasárathi pularam do estágio mais baixo, sálokya, direto para o estágio de sárśth́i. Eles não ascenderam gradualmente a estágios cada vez mais elevados através da alegria e de experiências doces e bem-aventuradas; em vez disso, avançaram para o estágio mais elevado de uma só vez. Mas essa expansão repentina envolveu trabalho, esforço árduo e luta. Ela implicava grande risco e exigia espírito de luta sem concessões.

No caso Vraja Krśńa, o devoto desenvolvia uma consciência espiritual especial. O único pensamento que preenchia a mente do devoto era “Eu quero ir até Parama Purusá”, e essa jornada passava por madhura bháva. Os ensinamentos de Párthasárathi eram bem diferentes. Ele disse: “Bem, você quer avançar. Isso está certo, mas outros terão de vir com você. Vocês devem vir todos juntos.” Essa abordagem certamente dificulta madhura bháva em certa medida porque ela envolve um elemento de aspereza. Se fôssemos usar uma analogia, poderíamos comparar Vraja Krśńa com uma manga muito doce de casca grossa. Você pode facilmente descascar e saborear a doce e suculenta fruta à vontade – sem problemas, apenas felicidade. Se alguém lhe perguntar quão doce ela era, você não conseguirá expressar o seu deleite em palavras e ilustrará a doçura através de gestos . Mas Párthasárathi Krśńa pode ser comparado com uma fruta bel [“maçã-de-madeira”] firme e madura com uma casca dura. Você terá certo trabalho para quebrar a casca, e quando for quebrá-la, terá de ter cuidado para não deixar a fruta cair no chão e se despedaçar. A polpa sem dúvida é muito boa para o estômago, talvez até melhor que uma manga , mas não é tão agradável de se comer . Ela não é tão suculenta quanto uma manga . Se Vraja Krśńa fosse comparado a bolos de alta qualidade como gokulapiith́ á ou pátísáptá́, Párthasárathi Krśńa poderia ser comparado a doces feitos de caldo de cana fervido e condensado.

Ao analisar-se esses seis estágios sucessivamente mais elevados, uma coisa mais deve ser considerada. Não somente os seres humanos, mas todas as expressões deste universo têm forma e cor. Uma pessoa deve estabelecer-se permanentemente acima de todos os tanmátras – elevando-se acima de som, toque, forma, sabor e cheiro. Quando a mente de vocês eleva -se acima das inferências com seus variados comprimentos de onda e finalmente alcança o comprimento de onda mais sutil – uma linha reta –, vocês realizam que Párthasárathi é o amigo mais querido de vocês, e o seu parente mais próximo. 

Atyágasahano bandhuh sadaevánumatah suhrd; Ekakriyaḿ bhavenmitraḿ samapráoah sakhá smrtah. 

“Alguém que não consegue tolerar a separação dos seus amigos é chamado de bandhu.” Os laços de amor são tão fortes que não podem ser rompidos. 


Sadaevánumatah suhrd 

– “quando dois amigos sempre concordam em tudo, jamais divergindo um do outro, eles são suhrd”. 

“Quando as pessoas praticam a mesma profissão e executam tarefas da mesma natureza, elas são chamadas de mitram.” (Por exemplo: dois advogados ou dois físicos são mitram.) 

“Quando o amor entre dois amigos é tão íntimo que eles parecem ser uma só vida, diz-se que eles são sakhá.” Arjuna era o sakhá de Krśńa. Párthasárathi era o sakhá de Arjuna. O amor mútuo entre eles era muito profundo. 

Arjuna alcançou Krśńa, o verdadeiro Krśńa, depois de superar os diferentes estágios que vão de sálokya até sárśth́i. Arjuna teve de passar por enormes dificuldades, sofrimentos e por um treinamento rigoroso. Quando ele sofreu uma crise psíquica no campo de batalha, ele recebeu vários golpes psíquicos duros até voltar à sua normalidade. Então ele reconheceu Krśńa clara e perfeitamente, e a sua vida tornou-se frutífera. 

Como é que se pode alcançar Puruśottama [o Núcleo Cósmico ], Párthasárathi Krśńa? No caso de Arjuna, nos estágios iniciais havia murmurinhos suaves, mas no estágio final havia o ruído ensurdecedor da Páiṋcajanya [o nome da concha de Krśńa], resultando na realização final e suprema de Arjuna. Contudo, as coisas eram diferentes com Vraja Krśńa. A Sua flauta produzia notas diferentes em momentos diferentes. Quando devotos obtêm algum progresso espiritual através de madhura bháva, eles ouvem um som similar ao som de um grilo. Se você meditar em um lugar solitário com profunda concentração, você ouvirá o som de grilos. É claro que os grilos ficam em silêncio após certo tempo, ao passo que o refrão contínuo do som Cósmico jamais cessa. Esse é o primeiro estágio do som da flauta de Vraja Krśńa. Existem outros sons em outros estágios, tal como o bramido de mares, o ribombar das nuvens e, finalmente, no estágio de sárśth́i, o som pluta do oṋḿkára, cujo fluxo eterno continua sem interrupção ou pausa. Mas enquanto ouvem o som do oṋḿkára, sádhakas escutam dentro dele o som da flauta. Eles o escutam com os seus próprios ouvidos físicos. 

Adyápi sei kálácánd bánsharii bájáy; Kona kona bhágyabán shuńibáre páy.

[Até hoje o Senhor Krśńa ainda toca a Sua flauta. Somente os poucos abençoados conseguem ouvir esse sagrado som.] 

Quando um sádhaka atinge esse estágio, ele ou ela atinge sárśth́i e sente “Senhor! Você existe. Eu existo. Nós estamos tão próximos que eu me tornei Você. Você se tornou eu.” Sem dúvida que se pode atingir sárśth́i através de Párthasárathi, mas não desse tipo. Em tal caso a ideação é: “Ó Parama Purusá, ó Senhor, ó Párthasárathi! Tu me fizeste exclusivamente Teu. Minha existência independente não pode ser mantida intacta. Eu sou um mero instrumento em Tuas mãos. Eu vou apontar minha flecha para onde Tu quiseres. Eu estou preparado para todos os tipos de trabalho.” 


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1 Nota do Tradutor em português: Este discurso é o Discurso 3 que integra o livro Namámi Krśńasundaram. 
2 N.E.: Duryodhana era o mais velho dos irmãos Kaorava e o líder do lado Kaorava na guerra do Mahábhárata. Arjuna era um dos irmãos Pandava e foi como representante do lado Pandava.
3 N.E.: O rei mitológico de Lanka no épico Ramáyána.
4 N.E.: Tanmátra significa literalmente “a menor fração daquilo”, i.e., de um dado fator rudimentar da matéria. Também se traduz como “onda inferencial”. Os vários tipos de tanmátra transmitem os sentidos da audição, toque, forma (visão), sabor e cheiro. 
5 N.E.: Prolongado. Veja também o Capítulo 5.

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Título original: Krśńa Imparts Six Stages of Realization (Discourse 3) 
Fonte: Edição Eletrônica das Obras de P. R. Sarkar – versão 7.5 (em inglês) 
Publicado em: Ananda Marga Philosophy in a Nutshell Part 6 [a compilation] Namámi Krśńasundaram (obra a ser publicada em português)
Tradução e revisão: Mahesh – Petrópolis, 2012-2017.¹¹

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