27/03/2009

O QUE É UM DOGMA?

                 O tópico de nossa discussão anterior foi sobre a ação, a reação e o autor da ação (karma, karmaphala e karttrtva). Em relação a isso, eu falei sobre o que Parama Purusá pode fazer e quais são as ações que Ele realiza diretamente e quais as que Ele efetua através de Seus próprios agentes. Nesse contexto, surge uma pergunta fundamental: Que passos toma Parama Purusá para resgatar os assim-chamados pecadores? As pessoas dizem que quando os pecadores e malfeitores ficam sob a proteção de Parama Purusá eles alcançam a salvação. Agora, se essas pessoas podem ser redimidas do pecado, os intelectuais naturalmente podem perguntar: Como conseguir a salvação? Vocês sabem que a coisa mais prejudicial, tanto para a sociedade humana quanto para o progresso humano, é o dogma.

            

             O que é um dogma? Aquela situação onde não existe nenhuma lógica, onde não há apoio do intelecto, onde não existe nenhum debate e discussões livres, mas somente imposições severas, que forçam as pessoas a aceitarem alguma coisa, aí está o dogma. Que tipo de pessoas pregam este tipo de dogma? A resposta é: os seguidores cegos da religião pregam dessa forma. É muito natural para a religião pregar todos os tipos de coisas dogmáticas. É por isso que as pessoas dizem – não há espaço para a lógica na religião. Mas o Dharma genuíno é completamente baseado na lógica e apoiado pelo intelecto. Na morada do Dharma, as pessoas se convencem pela lógica; elas o analisam e o aceitam após uma discussão livre e franca e, de acordo com isso, começam a se conduzir pelo caminho da vida. A pergunta é: como as pessoas podem seguir alguma coisa da qual elas não possuem uma compreensão adequada? Daí surge outra pergunta: As pessoas conseguem ou não a redenção de seus pecados? É dito:

 

            Na’bhukttam’ `K’siiyate Karma Kalpakot’i Shataerapi

            Avashyameva Bhoktavyam’ Krtam’ Krma Shubh’ashubham

 

            A não ser que haja expressão das reações em potencial, a pessoa não poderá alcançar a salvação. Em relação a isto, a regra é que as boas ações trazem bons resultados e más ações trazem maus resultados. E esses Sam’skaras não resolvidos ou reações em potencial devem ser expressados. Então, se alguém está destinado a passar pela reação má de uma má ação, como pode esperar ser redimido do pecado, já que sabemos que os pecados acarretam reações correspondentes que devem ser sofridas? Mas, por outro lado, o Senhor Krs’n’a, para consolar os seres humanos, declarou: “Não importa o quão pecador (Dura’ca’ra) uma pessoa possa ser, se ela ficar sob minha proteção, eu certamente a salvarei de todos os pecados, eu a ajudarei a alcançar a liberação ou a salvação.” 

          Aqui Dura’ca’ra significa uma pessoa cujas ações são opostas à ideologia, cujos pensamentos e atividades são contrários à da moralidade, justiça, consciência e ao espírito do Dharma. E Sudura’ca’ra significa uma pessoa que é considerada pecador mesmo entre os pecadores, que é chamada de pecador pelos próprios pecadores e que, dessa maneira, é evitada por eles. Então não seriam essas duas coisas contraditórias? Por um lado, diz-se que a pessoa deve colher o fruto das suas ações, e por outro, ela é aconselhada a se abrigar em Parama Purusá para alcançar a salvação. Isto também é um dogma.

            De fato, é uma questão complicada. Agora, a pergunta é: Quem realiza a ação? A mente humana é quem realiza a ação.

             Mana eba Manus’ya’nam’ Ka’ran’am’ Bandhamoks’ayoh,

Bandhasya Vis’aya’sangii Mukto Nirvis’yam’ Tatha’.

Manokaroti Karma’ni Man Lipyate Pa’toko

Manashca T’anmona’ Buddhaya’ na Pun’yam’ na Pa’tako.

                   A mente humana é a causa da escravidão ou da liberação. Se a mente estiver sob limitações, então, a pessoa também estará. Da mesma forma, se a mente estiver liberada, a pessoa também estará. Afinal, é a mente humana que se engaja em ações auspiciosas. Agora, se essa mente se mantiver absorvida na ideação de Parama Purusá, então, ela se unirá totalmente à Consciência. Neste caso, para tal pessoa, que condições haverá para o vício ou a virtude? Se um pecador comum, ou reconhecido como tal, permanecer absorto no pensamento de Parama Purusá, excluindo todos os outros pensamentos, então, a sua mente se tornará direcionada a um único ponto. Isto, em sânscrito, é chamado de Agrya Buddhi ou intelecto unidirecional. Neste estado concentrado da mente, o aspirante espiritual fica firmemente estabelecido nesse intelecto unidirecional. A não ser que e até que o intelecto humano comum seja elevado ao seu mais alto grau; ao seu ápice, os altos e baixos contínuos das inumeráveis vibrações dentro do corpo humano continuarão. Estas vibrações psíquicas são algumas vezes vibrações de virtude, outras de vício, vibrações de reações às ações pecaminosas ou às ações virtuosas. A não ser que a mente humana seja unidirecional, os altos e baixos das vibrações psíquicas continuarão em uma sucessão. No momento em que a mente estiver unidirecional, no momento em que a mente estiver centrada em Parama Purusá, então, essa mente naturalmente irá ao seu ponto culminante. Neste estado, não existem condições para altos e baixos de quaisquer ondas – nem das ondas da virtude nem das do vício. Portanto, se diz que, quando o intelecto do aspirante espiritual for unidirecional, não existirá a questão de vício ou virtude. Assim, uma pessoa que se protegeu no abrigo cósmico vai além do domínio do vício ou da virtude. Isto é algo muito natural. E, por isso, os assim-chamados pecadores e malfeitores não devem, de forma alguma, se preocupar. Portanto, Krs’n’a corretamente disse: “Mesmo que um criminoso obstinado busque a minha proteção, eu o salvarei de todos os pecados, eu cuidarei para que ele alcance a liberação ou a salvação. Assim, ninguém, nenhum aspirante espiritual, não importa quão negra ou desprezível tenha sido a sua vida passada, deve se preocupar com qualquer coisa.” Esta afirmação de Parama Purusá é inalterável. Ela não é uma afirmação filosófica nem um dogma. Então, que tipo de afirmação é essa? Isto é claro e simples. Ela contém a idéia de que os seres humanos não devem se preocupar sob nenhum circunstância. Parama Purusá está sempre com todas as pessoas. Se existe amor por Parama Purusá a porta da liberação ou da salvação para os seres humanos imediatamente estará aberta.

                                                    P.R.SARKAR (Abhimata, 05/43)

 

05/03/2009

LIBERAÇÃO DA FORÇA ESTÁTICA

            Anteontem, o tópico do discurso no Clube de Renascença Universal (RU) foi A liberação do intelecto. Uma questão poderá surgir em suas mentes: o que significa a liberação do intelecto? O intelecto é, essencialmente, um idéia impessoal ou uma idéia abstrata. Agora, como pode surgir a questão da liberação de uma coisa que seja impessoal, um conceito abstrato? A este respeito, a minha opinião ponderada é: sim, de fato existe a necessidade da liberação do intelecto. De fato, o que quer que exista neste universo – matéria densa, idéia sutil ou consciência – tudo precisa de liberação. Na ausência de liberação, não pode haver a expressão natural de um objeto ou de um indivíduo. Isto é, se queremos ver a expressão total do objeto ou o desdobramento completo das qualidades e capacidades que estão latentes em um indivíduo, a liberação do objeto ou desse indivíduo é indispensável.

            Os seres humanos anseiam pela liberação do domínio da força estática. Agora, qual é a natureza dessa liberação? Não é possível alcançar a liberação desse corpo físico denso. A liberação do corpo físico significa a morte. Para alcançar a liberação das restrições da força estática, o indivíduo terá que empreender esforços persistentes. Os esforços combinados para alcançar a liberação das restrições econômicas, submissão política e todos os tipos de dependência social, no mundo físico, é a liberação da força estática no mundo material. Para obter a liberação desses tipos de restrições do mundo físico, os seres humanos terão que fazer esforços conscientes. Se um país estiver subjugado por outro país, então, este país subjugado terá que empreender uma guerra para alcançar a liberação das correntes da servidão. É por isso que a liberação das limitações do mundo físico é essencial para os seres humanos. Notamos que onde existe subserviência neste mundo – seja econômica, política ou social – o desenvolvimento apropriado das qualidades subjacentes ou da genialidade dos seres humanos permanece um sonho distante. É por isso que em todas as esferas da vida existe a necessidade de liberação. A liberação das limitações da força estática é imprescindível.

            Mais sutil do que a matéria é a mente. A mente também deve ser liberada da escravidão psíquica. Notamos na sociedade várias formas de pressão psíquica, inúmeras formas de exploração. Para alcançar a liberação desta forma exploração e tirania, os seres humanos devem esforçar-se para se liberarem das limitações psíquicas. O anseio interno para alcançar a liberação é uma necessidade natural de cada ser humano. A essência da mente humana é conhecida como intelecto. A intuição não pode ser chamada precisamente de essência da mente. Na verdade, a intuição é mais sutil do que a mente; é um aspecto muito especial da existência humana. Melhor seria chamar a intuição de décimo primeiro órgão ou sexto sentido. A chamada discriminação entre o sagrado e profano, o permanente e o transitório, o puro e o impuro possui uma medida própria. Esta medida deve permanecer necessariamente imaculada. Devido às limitações dos vários tipos de exploração e tirania contra o intelecto, na esfera física, o espírito humano se debate em agonia reprimida. De maneira semelhante, a capacidade humana de pensar, no mundo psíquico, é também arrebatada. Na esfera intelectual, quando os seres humanos tentam agir de forma a alcançarem seu desenvolvimento espiritual e intelectual, vários tipos de dogmas surgem e criam obstáculos.

            O que é um dogma? A resposta é a seguinte: dogma é uma idéia preconcebida que proíbe os seres humanos de irem além dos limites dessa idéia ou objeto. Nessa situação o intelecto humano não pode funcionar livremente. Algumas pessoas dizem: “Está bem, nós podemos não obter a máxima utilização de nosso intelecto, mesmo assim podemos dispor de dez ou vinte por cento de sua capacidade.” Minha opinião ponderada é que, com o dogma, não se pode utilizar apropriadamente nem mesmo dez ou vinte por cento do intelecto humano. A utilização de uma mísera quantidade do intelecto é inadmissível. O maior tesouro dos seres humanos é a sua faculdade psíquica, o seu intelecto. Este intelecto não pode ser utilizado para o seu proveito máximo. Que situação mais trágica do que esta poderia existir?! Portanto, precisamos da liberação do intelecto humano. Deixem-me explicar um pouco mais o que é dogma. Suponhamos que o intelecto queira seguir um determinado caminho. Entrementes, o dogma vem por todos os lados e proíbe: “Oh! Não! Não! Dê mais um único passo e irá para o inferno eterno. Se você for, você será queimado no fogo eterno do inferno. Você estará condenado ao inferno pela eternidade.” Quando o intelecto deseja a utilização máxima dos recursos materiais, o dogma interfere e diz o seguinte: “Oh! Não! Você não deve fazer isso! É perigoso para os seres humanos, é um ultraje absurdo. Isto levará a humanidade à ruína.

            Quando o intelecto humano fica ardentemente estimulado a se aventurar em um novo empreendimento, na esfera psíquica, o dogma aparece novamente e determina: “Oh! Não! Você não deve fazer isso. Isto trará a sua ruína.” Assim, em cada esfera, a cada passo, os dogmas colocam obstáculos na mente humana, no intelecto humano. Para servir à humanidade, o intelecto terá que se libertar de todos os tipos de limitações, de todos os tipos de dogmas, de todas as formas de influências profanas. A não ser que isso seja alcançado, a raça humana não poderá ter um futuro radiante. Se a humanidade atual quiser anunciar o advento de uma alvorada dourada, ela terá que alcançar a emancipação completa do intelecto humano através de uma luta implacável contra o dogma, apoiada por uma coragem ilimitada e desinibida. Esta é a razão pela qual, em todos os cantos e direções do mundo, somente um slogan, vindo de todas as vozes, deve ecoar, Dogma – nunca mais, nunca mais!

 P.R.SARKAR(Abhimata, Parte 4)

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