Algumas pessoas dão palestras eloqüentes sobre
economia e filosofia e convencem outros de que suas idéias e teorias
garantem a independência econômica e podem uní-las. Elas
consideram apenas a utilidade que os outros têm; não se importando
de lhes dar qualquer incentivo, inspiração ou estímulo ao trabalho
e de reconhecer o valor especial da eficiência individual. Quando
dão palestras superficiais e professam slogans vazios, elas, na
verdade, de forma subreptícia, estão criando desagregação
artificial entre os seres humanos. Quando surge mesmo um pequeno
ataque a estes sentimentos de desunião, eles se defendem e afirmam
que estão envolvidos em questões políticas, as quais não podem
ser caracterizadas como crimes sociais, e que não podem ser
penalizados.
Muitas pessoas adotam cegamente dogmas de famosas
religiões. Uma religião é uma coletânea de “ismos”, e um
“ismo” é uma coletânea de dogmas. (Na linguagem comum, religião
é equivalente ao termo sânscrito dharma, porém, em linguagem
filosófica, “religião” e dharma não são a mesma coisa). A
religião que define idéias abstratas relacionadas à consciência
unitária, à Consciência Suprema e ao mundo manifesto não é o
único tipo de religião. Também, há alguns “ismos” baseados em
vários tipos de dogmas que soam e funcionam como a religião da
esfera sócio-econômica. Como certas religiões que, com freqüência,
orientam incorretamente seres humanos, incitando-os ao conflito
comunitário, também esses “ismos” específicos causam a
degeneração da raça humana ao nível da animalidade, em nome da
luta de classes.
As pessoas que seguem uma mesma religião podem se dividir em vários grupos e subgrupos. Por
exemplo, o jainismo tem as seitas Shveta’mbar, Digambar e
Thera’panthii. Entre os budistas há as seitas Maha’ya’nii,
Hiinaya’nii, La’ma’va’dii, Sthavirva’da, Sammitiiya etc. Da
mesma forma, no que diz respeito à religião sócio-econômica,
pode-se notar que um determinado partido político ou econômico se
fragmenta em diversas tendências, devido a pequenas diferenças de
opinião.
Isto já aconteceu, está acontecendo agora e
continuará a acontecer no futuro. Portanto, devemos compreender esse
fenômeno claramente. Da mesma forma que o mundo hoje padece sob
intensa opressão das religiões, também ele se desintegra diante da
ameaça alarmante da religião sócio-econômica.
Os seres humanos civilizados e que amam a paz
devem encontrar uma forma de se proteger desses problemas. Eles devem
agir. No caminho da moralidade, os seres humanos seguirão rumo à
liberação, com perseverança e racionalidade. Não há outra
possibilidade.
P.R. Sarkar - Calcutá, 10 de abril de 1988 Shabda Cayanika’ -
Parte 1
Dharma significa retidão. O dharma está sempre
firme em uma posição, enquanto os seres humanos estão sujeitos a
variações. Às vezes, os seres humanos abandonam o caminho do
dharma e causam danos a si mesmo e à sociedade, em conseqüência de
intelectos mal-orientados, filosofias imperfeitas, más companhias e
orientação incorreta.
Recentemente, vocês devem ter visto marxistas que
clamavam em altos brados, até ficarem roucos, não aceitar o dharma. Agora, juntamente com seus líderes, eles
caíram na armadilha da própria filosofia inconsistente. Eles mataram
centenas de milhares de pessoas simples e inocentes, sob alegações
levianas, sem sequer submetê-las a qualquer julgamento. Foi isto um
ato humanitário? Esse genocídio bestial ocorreu porque os marxistas
se desviaram do caminho do dharma.
Hoje em dia, tais pessoas merecem a condenação
severa por parte da humanidade. É um pecado desperdiçar o dinheiro
público na construção de monumentos colossais ou estradas, em
memória a essas pessoas. Até alcançarem o poder político de um
país, esses hipócritas repetem os agradáveis slogans da democracia
como papagaios, meramente para o consumo público. Mas, uma vez no
poder, sem nenhum escrúpulo, eles jogam a democracia no cesto de
lixo e reduzem a pó as sensibilidades humanas sutis e os valores
humanos superiores sob o rolo compressor de uma ditadura de partido
impiedosa.
P.R. Sarkar - 10 de julho de 1988, Calcutá Shabda Cayanika’ -
Parte 17
O termo “comunismo” deriva da palavra
“comuna”, que consiste no prefixo “co” e na raiz “muna”.
“Co” significa “juntos” e “muna” significa “fazer
alguma coisa”, portanto, “comuna” significa “fazer alguma
coisa juntos”. “Comuna” mais “ismo” é igual a “comunismo”.
O termo “comunismo” só é aplicável onde há o sistema de
comuna. Aqueles que seguem o sistema de comuna são comunistas. No
sistema comunista não há uma relação que estimule as pessoas a
fazer algo juntas, pois tudo é imposto do âmbito superior. Assim, a palavra “comuna”, como usada por Karl Marx,
é imprópria e falaciosa.
Embora Marx tenha professado muitos conceitos,
nossa discussão aqui é se restringe àquilo que, em sua filosofia,
vai de encontro à psicologia humana. Isto é, estamos preocupados
apenas com a parte de sua filosofia que pretende construir castelos
de areia.
O comunismo baseia-se em uma filosofia
materialista rudimentar. A meta é aproveitar o que é produzido,
submetendo todos a privações. Não há chance de se conduzir a
mente num fluxo intelectual direcionado para a entidade mais elevada.
Quando a mente absorve a forma do objeto — quando a mente toma a
forma do seu objeto — quer o objeto seja denso ou sutil, a mente é
pulverizada. A tendência natural da mente é decair, mas quando a
ideação se fixa na entidade mais sutil, ela lentamente se converte
em espírito. Um aspirante espiritual deve elevar sua mente.
Quando o objeto da mente é sutil, ela se torna
sutil, e quando a sutileza se estabelece na estrutura psíquica, o
poder do pensamento é desenvolvido, permitindo o surgimento de
idéias mais elevadas. Se a pessoa concentra-se em temas
materialistas, a mente se torna densa e materialista. Se a mente
meditar sempre no sistema de comunas, ela se tornará sutil ou densa?
Certamente ela se tornará densa, porque o sistema comunista é
desprovido de humanidade e moralidade. A própria teoria do comunismo
torna a mente densa.
O comunismo não consegue estabelecer um ambiente
apropriado ao desenvolvimento de uma forte e sólida estrutura
psíquica e intelectual. Por este motivo, a força moral — a santidade moral — não existe em países
comunistas. Tal fenômeno ocorreu na Índia, no período
imediatamente anterior ao da era budista, por causa da
influência da filosofia Ca’rvaka. A filosofia Ca’rvaka, embora
fosse de natureza materialista, surgiu em protesto contra a
superficialidade védica. Durante esse período não havia um mínimo
sequer de moralidade — a sociedade perdeu toda sua força moral.
Hoje a mesma coisa está ocorrendo e continuará a ocorrer nos países
comunistas. Em países comunistas não há nenhuma santidade em
relação à vida moral — a sociedade não possui princípios
morais.
Em nome dessa teoria inconsistente um dos
governantes da [ex] União Soviética assassinou mais de 500 mil
pessoas e enviou muito mais do que isto aos campos de concentração,
na Sibéria. Dentre todas as teorias anti-humanas e homicidas
estabelecidas neste mundo, o comunismo é a mais bárbara. É chegado
o dia de atirá-la para sempre no cesto de lixo.
Há alguns dias saiu num jornal uma reportagem
relatando que na China comunista nascem um milhão de crianças
ilegítimas por ano. Isto é uma prova de que o comunismo encoraja a
imoralidade. Se esta imoralidade prosseguir desenfreadamente, ela
devorará a humanidade e causará a decadência moral da ordem
social. Um certo dia, toda a estrutura social será desmantelada. Não
podemos tolerar tal filosofia. O simples ato de pensar nessa
filosofia causa repugnância.
Os países cujos cidadãos são trabalhadores e
têm intelecto desenvolvido nunca aceitaram o comunismo. Por exemplo,
Karl Marx nasceu na Alemanha, mas esta teoria não foi aceita nesse
país. Da mesma forma, a Inglaterra acolheu Marx, mas não aceitou
sua teoria. O movimento cooperativo teve início na Inglaterra e o
espírito de cooperação se reflete em muitos aspectos da sociedade
britânica; por conseguinte, o marxismo não foi capaz de se firmar na Inglaterra. O Japão
está cercado por países comunistas, como a Coréia do Norte e a
China, [inclusive, no passado, a União Soviética], mas não aceitou o comunismo. Os cidadãos desses países, bem como
os de outros países, são trabalhadores e, também, têm o intelecto
desenvolvido, daí o fato de terem rejeitado o comunismo. Algum tempo
atrás, na Índia, alguns estudantes talentosos costumavam selecionar
o marxismo como a melhor dentre tantas outras teorias falhas, mas
eles não a adotavam como ideologia de vida. Hoje, a nata dos
estudantes universitários não se sente mais atraída pelo marxismo,
por ser um símbolo do vazio intelectual.
A atitude de intelectuais com relação ao
comunismo deveria ser semelhante ao ataque do furão contra a cobra.
Do mesmo modo que é natural para o furão devorar a cobra, também
as pessoas intelectualmente desenvolvidas podem facilmente expor os
defeitos do marxismo.
A filosofia de Gandhi se extinguiu antes de a
Índia conseguir a independência — morreu muito antes do próprio
Gandhi. Mas o comunismo sobreviveu por muito tempo após a morte de
Marx. Sobreviveu somente devido ao poder das armas e à constante
propaganda. Se uma coisa é freqüentemente alardeada, então, as
pessoas começam a pensar que há alguma verdade no que está sendo
propagado. Por exemplo, se alguém diz constantemente que Gopal é um
menino muito mau, então, as pessoas um certo dia passarão a
acreditar no que ouvem. Gopal se tornará um mau menino para eles. Os
comunistas estão sempre se vangloriando de sua teoria. Por isso as
pessoas recebem lavagem cerebral e, nessa condição, é muito fácil
terem idéias incorretas injetadas em suas mentes. Através da
constante propaganda de sua teoria inconsistente, os comunistas treinam as
pessoas que lhes dão apoio, mas elas sofrem de debilidade
intelectual. Quando os intelectuais lhes perguntam qualquer coisa que
não são capazes de responder, elas ficam revoltadas.
Nos países comunistas os líderes de partido
usavam todo o poder e todos os meios possíveis — forças
armadas, terror e cerceamento da liberdade de expressão — para
manter o povo oprimido. Mas hoje os líderes comunistas conscientes
se revoltam contra esses métodos. Esta é a razão pela qual a China
não conseguiu suprimir, por um longo tempo, os movimentos
estudantis. Os países comunistas estão abandonando o inconsistente
sistema de comunas, uma vez que ele gera penúria, em virtude da
escassez de alimento, e também porque tal sistema roto afeta a saúde
da sociedade. Os próprios líderes comunistas, que se passavam como
"orientadores", abandonaram o caminho do comunismo. Já
estava claro que o marxismo havia falhado na teoria, mas agora ele
fracassou na prática também, nos países em que foi adotado. Os
pecados cometidos pelo marxismo foram a causa de sua aniquilação.
Qualquer teoria, princípio, idéia ou proposição
deve estar baseada em alicerces firmes. Esta é uma necessidade
fundamental. Tudo que está relacionado aos mundos físico e psíquico
se move no âmbito dos três fatores relativos supremos: tempo,
espaço e individualidade. As teorias e proposições não são
exceções a esta regra.
A democracia é um tipo de progresso procrastinado
— o progresso não tem dinamismo nem aceleração. Na democracia
capitalista o voto pode ser comprado. Deste modo, as pessoas pobres
não podem ser eleitas. Seria possível haver algum ajuste entre
pseudo-capitalismo e pseudo-comunismo, como se tentou fazer no
euro-comunismo? O pseudo-comunismo foi professado por Adolf Hitler e
Mussolini. O pseudo-comunismo se parece com o comunismo, mas na
prática não. Entre os nacional-socialistas da Europa incluíam-se
Mussolini, na Itália, Hitler, na Alemanha, e Franco, na Espanha.
A proposta comunista não tem um alicerce firme
onde possa se sustentar. Sua própria base é oscilante. Não é nem
uma teoria, nem um princípio, nem uma proposição. O comunismo de
hoje pode ser chamado de “revisionista” ou de
“pseudo-revisionista”. “Pseudo” é uma palavra de origem
germânica. Não significa “falso”. Significa “até certo ponto
o original, mas não exatamente o original”. Qualquer política
pseudo-revisionista está contra o princípio da potencialidade vital
— está contra a potencialidade existencial. É um movimento
contra-psíquico e nocivo à germinação da força vital, portanto,
não deveria nunca ser aceito. É como o brilho temporário de uma
chama — perdura apenas por um curto período de tempo —, então,
após sua pesarosa extinção, não deixa nenhuma marca permanente
para a história humana. Este será o destino do comunismo. É uma
política ou proposição baseada no pseudo-revisionismo.
Tal pseudo-revisionismo é contrário à
potencialidade existencial e por isso deve ser descartado na fase
inicial. É um fenômeno afeto apenas ao mundo da intelectualidade.
Por isso, o comunismo teve sua morte precipitada.
Se qualquer teoria inconsistente se propaga por um
longo tempo, quando finalmente se desencadeia uma reação contra
ela, esta reação tem duração curta e é imensamente destrutiva,
como um furacão. Hoje o comunismo está ardendo no fogo de seu
próprio fracasso e é a tarefa de vocês adicionar combustível a esse fogo.
Toda a sociedade humana terá de suportar a
expiação dos pecados cometidos pelo comunismo — nem mesmo os
inocentes serão poupados. Essa perigosa teoria cometeu muitas
atrocidades contra a sociedade, e continuará a fazêlo, até que
seja abolida, não só em teoria como também em nome. Embora o
comunismo esteja morto em teoria, continua a existir em nome. Como
esta teoria é extremamente prejudicial à existência humana vocês
devem se garantir de que ela será erradicada também em nome, o mais
rápido possível.
P.R. Sarkar - Calcutá, 14 de julho de 1988