O tópico do discurso de hoje é A espiritualidade perfeita e o neo-humanismo.
O espírito interno do caminho da Sádhaná
é expresso no verso abaixo:
Yacchet Va’un Manasi
Pra’jinas’
Tad Yacchet Jina’nama’tmani
Jina’nama’tmani Mahati Niyacchate
Tad Yacchet
Cha’ntamatmani
A fase completa do culto
divino está dividida em diferentes subfases. Na primeira fase, a pessoa retrai
sua mente do mundo físico externo e se estabelece no domínio do “eu-objetivado”
(Citta[1]),
isto é, no sentimento do “eu” objetivado (o “eu” objetivado externo-interno e
não o “eu” objetivado intro-externo). E, sob tais circunstâncias, o que
acontece? Certamente ela estabelece controle total ou parcial sobre o mundo
físico, ficando assim na posição de poder ajudar o mundo nessa área, senão
totalmente por certo parcialmente. Porém, quando a mente é guiada por certos
dogmas, ela não pode ter uma idéia clara do mundo físico. Assim chegará o dia
em que ela falhará no cumprimento de sua obrigação na esfera do movimento extro-interno.
Da mesma forma, na segunda fase, o “eu-objetivado”,
os sentimentos do eu-objetivado da mente são retraídos da esfera da ação e
estabelecidos no sentimento puro do “eu-realizador” (Ahamtattva). Sob tais circunstâncias, é natural que as pessoas
sintam todas as agonias e sofrimentos, todos os prazeres e alegrias da mente
humana e ajudem o mundo de acordo com as necessidades – ajudem o mundo inteiro,
não apenas o mundo vivo, mas também o inanimado, tornando-se assim legados para
toda a sociedade humana. Quer dizer, a sua abordagem deve ser neo-humanista.
Porém, se a mente não estiver pura, se estiver influenciada por dogmas, então,
certamente, mesmo que as pessoas sejam aspirantes espirituais, não poderão se
tornar um legado para a sociedade humana. Mesmo que façam Sádhaná 20 horas por dia, podem estar certos de que a Sádhaná delas não será a do caminho
correto, porque o seu caminho não será o do neo-humanismo. Será um caminho
imperfeito – um caminho dividido pelos dogmas.
E a terceira fase é quando o ego (Ahamtattva) se une ao sentimento do “eu”
puro (Mahatattva). Aqui a pessoa
experimenta o encanto não somente de todas as mentes humanas, mas o encanto de
todas as criaturas vivas – na verdade, o encanto da vida em todo o universo.
Pra’na’n’h
Yatha’tmano’bhiist’ah
Bhu’ta’na’m
Api te Tatha’
A’tmaopamyena
Bhu’ta’na’m
Dayam’
Kurvanti Sa'dhavah.
“Da mesma forma que a vida
de uma pessoa é preciosa para ela, a vida das outras criaturas é igualmente
preciosa para elas. Aqueles que percebem esta verdade são os verdadeiros Sádhakas.”
Nesta fase da Sádhaná,
os Sádhakas adquirem a consciência de
que os seres vivos são semelhantes a eles. Participando da dor e da alegria de
todos os seres vivos, eles ajudam todas as criaturas.
E vocês sabem, este charme da vida não está
associado apenas à flora e à fauna, mas também a todas as entidades, mesmo os
objetos inanimados – o ouro, o ferro, a água e todas as coisas – porque todas
essas coisas vivem neste universo, tudo está dançando no ritmo de Parama Purusá.
Mas onde essa mentalidade está ausente, quando as
pessoas são guiadas mais por Ahamtattva (ego),
elas dizem “Eu faço, eu dou. Isto foi feito por mim, aquilo foi feito por mim
etc.” No final, isto culminará no sentimento puro do eu (Mahatattva), o qual não é afetado por nenhum senso de ego ou
vaidade. Mas, embora as pessoas neste estágio estejam se movendo no caminho da Sádhaná, mesmo assim ainda existe alguma
imperfeição nelas. Suas mentes não inspiram e nem sensibilizam as mentes dos
outros. Elas não despertam sentimentos de sublimação do “eu” nos outros, porque
estão muito preocupadas consigo mesmas. A sua abordagem é defeituosa; o seu
caminho não é o caminho do neo-humanismo.
Quando os aspirantes espirituais entrarem na fase
final e se tornarem um com Parama Purusá,
por certo não permanecerá nenhuma dualidade neles. Eles irão para Ele, todas as
coisas virão d’Ele, permanecerão n’Ele e retornarão a Ele. Não haverá qualquer
dualidade para eles. Todas as coisas serão deles, e eles serão de todos os
seres.
Assim, sob tais circunstâncias, as pessoas não podem
afirmar: “Eu sou o mensageiro de Deus, e o que eu digo é a verdade. Aqueles que
me seguem são abençoados e os outros são amaldiçoados.” Aqueles que pensam
assim não são guiados pelo espírito do universalismo, e, deve-se compreender
que eles nunca alcançarão o Objetivo Supremo da vida. Eles não são nem
apóstolos, nem profetas, nem almas realizadas. Eles mesmos estão seguindo um
caminho imperfeito – não um caminho do neo-humanismo – e explicam as coisas de
uma forma errada para os outros. Até agora, as pessoas os têm obedecido por
medo, mas, na realidade, eles apenas as confundem.
Agora, a questão final é que aqueles que estão
estabelecidos no Conhecimento Cósmico, no Principio Cognitivo Cósmico,
certamente fazem alguma coisa pelo universo, tanto através de seus atos como de
seus pensamentos. Aqueles que nada fazem estão distantes dessa Posição Suprema
ou a perderão no último momento, exatamente antes de alcançarem a salvação.
Porém, aqueles que de fato alcançaram a salvação, a
emancipação final, devem se estabelecer no neo-humanismo no momento exato de
sua união com Parama Purusá – nem que
seja por alguns momentos. De outra forma, será impossível para eles se
estabelecerem na espiritualidade perfeita e alcançarem Parama Purusá. O neo-humanismo é a última palavra para alcançar Parama Purusá.
Aqueles que não aceitaram o neo-humanismo desde o
princípio – que só o aceitaram no estágio final – também seguiam um caminho
imperfeito. Talvez, pessoalmente, eles não tenham perdido nada, mas certamente
houve perda coletiva para toda a humanidade, pois o mundo foi privado de seus
serviços. Se eles realmente tivessem aceito o neo-humanismo desde o primeiro
passo de seu movimento espiritual, então, as árvores, as plantas e os animais e
as outras criaturas – todo o mundo animado e inanimado teriam sido muito
beneficiados. Mas como eles não aceitaram isso na sua jornada inicial, o mundo
saiu perdendo.
E aqueles que declaram estar estabelecidos na
espiritualidade pura, na espiritualidade perfeita, mas não mostram nenhum
reflexo do neo-humanismo ao lidar com o mundo material – aqueles que têm as
suas mentes tomadas por tendências que propiciam a divisão, que querem manter
uma comunidade separada da outra e criar confusão na mente dos outros, em nome
das escrituras – é preciso que fique bem claro que, o quer que tenha sido dito
sobre essas pessoas, não é verdadeiro. Se o caminho que alguém segue não é
verdadeiro, então, é impossível chegar ao objetivo. O neo-humanismo é o único
caminho – os seres humanos terão que aceitá-lo mais dia, menos dia.
P.R.Sarkar (S.S. Parte XVI – D.M.C., Ánanda Nagar,
01/01/1983)
[1] N.T.: A mente humana possui
três estados: 1) o estado mais denso é Citta¸
ou placa mental, que é onde se formam as imagens captadas pelos sentidos;
2) Ahamttava, ou ego, representa o
sentimento de “eu faço” – é parte que julga o que é ouvido, visto ou sentido,
determinando se é bom ou ruim e se aquilo deve ser desejado ou evitado; 3) Boddhi, ou Mahattatva, é o sentimento de “eu existo” – a parte que leva a
pessoa a se questionar se sua existência está relacionada como Cosmo, com o
Todo. Além desses, existe Atma, ou
alma, que é a contraparte da Consciência Cósmica no indivíduo, dando uma razão
divina para sua existência.