26/11/2010

A Ação Leva ao Progresso

Discurso de Shrii Shrii Anandamurti

11 de Julho de 1979, Patna

“Karma Brahmeti, karma bahu kurviita”. O trabalho é Brahma e, portanto, faça mais, mais e cada vez mais trabalho. Nos Vedas está dito que neste mundo visível, os seres humanos atingem Parama Puruśa na forma de ações. Então, uma pessoa deveria fazer cada vez mais trabalho. Uma pessoa que é indolente, que teme o trabalho, e que está completamente dominada pela letargia torna-se um fardo para o planeta. Nos Vedas, há uma menção a um personagem especial chamado Rohit. Rohit era um grande estudioso mas, devido à constante leitura atenta das escrituras, ele acabou tornando-se uma pessoa muito indolente, ao final do seu estudo. Ele parou até mesmo de se mexer. Um tipo de pessoa inativa como essa não pode fazer nenhum bom trabalho para a sociedade: em vez disso, elas tornam-se um fardo para a sociedade.


O pai de Rohit não era um homem estudado, mas ele era sábio. Ele aconselhou o seu filho:

“Veja, Rohit, tudo neste mundo originou-se da ação. O que é ação? Ação é a mudança da posição de um objeto. Tudo o que aconteceu neste universo, aconteceu pela mudança de posição dos vários objetos. Qualquer beleza e atração que hajam neste mundo devem-se somente à mudança de posição de diferentes objetos. Quando os seres humanos forem embora deste mundo, isto continuará sendo verdade. A razão é que os seres humanos não ficam por muito tempo em um mesmo estado – eles não são capazes disso. Uma pessoa que ficou velha pensa: ‘Bem, eu estou velho, então é melhor eu ir embora deste mundo.’ Entretanto, depois disto, quando alguma coisa deste mundo atrai ela novamente, ela diz: ‘Bem, eu vou continuar vivendo neste mundo por mais alguns dias.’ Por trás dessa atração do mundo, a ciência da ação está trabalhando. Portanto, uma pessoa que teme o trabalho e que quer ficar longe dele é uma entidade inanimada e inativa. Quer essas pessoas continuem ou não nesta Terra, pouco importa.”

Então o pai de Rohit disse para ele: “Quando uma pessoa trabalha incansavelmente, tanto que ela fique suando da cabeça aos pés, o corpo inteiro dela torna-se bonito. Não há igual a essas pessoa, no mundo. Até mesmo Indra, o rei dos deuses, anseia pela amizade de um tal pessoa.”

Uma pessoa que perdeu o dharma do movimento está virtualmente morta. A natureza real de um ser vivo é a dinamicidade. A estaticidade é um sinal da morte. Portanto, quando uma pessoa perdeu a dinamicidade, o ritmo do movimento de progresso dela degenera, fazendo com que ela gradualmente perca suas qualidades humanas. Por fim, tais pessoas regressam em direção à animalidade, imersas no vício. Então, não seja como Jada-Bharata – como um objeto inanimado. A única meta da sua vida deveria ser mover-se adiante. Assim, continue trabalhando, cumpra as suas responsabilidades trabalhando, e continue trabalhando, até mesmo enquanto estiver morrendo.

A boa sorte de uma pessoa que está dormindo também dorme. Aqui, “dormir” não significa dormir no sentido mundano. O significado real é ficar mergulhado na escuridão – ou seja: o corpo físico é o de um ser humano, mas as suas atividades não são como as de um ser humano. Até mesmo os pensamentos psíquicos não são como os de um ser humano. Quando uma pessoa sai do sono, a boa sorte dele ou dela também se levanta. Uma pessoa que se levantou vai notar que a boa sorte dela também se levantou. E quando uma pessoa começa a se mover com propósito em direção à sua meta, o destino da pessoa também começa a se mover. Portanto, não se comporto como um tolo, Rohit. Siga em frente, siga em frente, siga em frente. O único mantra da sua vida deveria ser “siga em frente”.

Kalih shayáno bhavati saiňjihánastu Dvápara;

Uttiśt́han Tretá bhavati Krtaḿ sampadyate carań.

O que são essas “Yugas” – Kali Yuga, Dvápara Yuga, Tretá Yuga e Satya Yuga? Em sânscrito, o sufixo “ghaiň” é adicionado à raiz verbal “Yuj”, formando a palavra “Yuga”. Yuga significa um período particular de tempo. Se um objeto aproxima-se de outro objeto, isto é conhecido como uma yuga. A palavra “yuga” origina-se da raiz verbal “yunj”, que significa “conjuntura crítica” – ou seja, uma mudança especial de tempo, [pela qual passa-se] de um período especial para outro período. Em sânscrito, isto é conhecido como “Yugasandhi”.

A história humana revela que a humanidade move-se adiante desta forma. O primeiro capítulo da história humana era a era obscura dos shúdras; depois veio a Era Kśatriya, seguida pela Era Vipra, e finalmente veio a Era Vaeshya. Cada uma dessas transições, de uma era para a seguinte, foi uma “yugasandhi”. Da mesma forma, estes quatro estágios da vida humana – Kali,Dvápara, Tretá e Satya – são conjunturas críticas.

A Kali Yuga é descrita nas escrituras como a condição humana na qual a vida humana, os pensamentos humanos e a existência humana permanecem envoltas pela escuridão – de tal forma que se perde todo o senso de julgamento cuidadoso. Descreve-se a pessoa que está neste estado como adormecida. Todavia, quando a consciência dela é despertada, de modo que ela comece a sentir o que ela deve fazer, o que é apropriado, o que as pessoas devem fazer pela sociedade humana – isto é conhecido nas escrituras como Dvápara Yuga. Após haverem despertado do sono e aberto os seus olhos, quando as pessoas olham para si mesmas e pensam que devem levantar-se, que não devem permanecer inativas, que elas possuem grandes responsabilidades que devem ser cumpridas apropriadamente, então isto, na linguagem das escrituras, é conhecido como Tretá Yuga. E quando elas realmente começam a mover-se adiante, isto é conhecido como Satya Yuga.

Esta é a explicação de Kali, Dvápara, Tretá e Satya Yugas. Há também outras explicações, mas elas não são aceitáveis pois são mitológicas e desconectadas da lógica e da racionalidade.

Então o pai de Rohit disse: “Rohit, siga em frente”. Da mesma forma eu digo a vocês: “Sigam em frente com o seu trabalho – é nisto que está o bem de vocês e também o bem da sociedade. Não a partir de hoje, mas a partir deste exato momento, pulem para o mundo da ação e pavimentem o caminho do seu bem-estar.”

* * *

Tradução: Mahesh, Florianópolis, 20 de janeiro de 2010.

Publicado em: The Electronic Edition of the Works of P. R. Sarkar – versão 7 (EE7)

Ananda Marga Karma Sannyása in a Nutshell [uma compilação – ainda não publicada em português]

Ánanda Vacanámrtam Part 13 [ainda não publicado em inglês]

23/11/2010

Existe Óleo no Gergelim

E o sentimento inteiro de “eu” é chamado de guhá. Ele é guháyita tattva [a entidade dentro do sentimento de “eu”]. Ele reside dentro do seu sentimento de “eu”, mas você não pode sentir a Sua existência. Para sentir a Sua existência, a pessoa tem que fazersádhaná, a pessoa tem que praticar sádhaná. Porque Ele está oculto dentro do seu sentimento de “eu”.

Tileśu taelaḿ dadhiniiva sarpirápah srotahsvarańiiśu cágnih;

Evamátmátmani grhyate’sao satyenaenaḿ tapasá yo’nupashyati.

[Ele está escondido em tudo, como o óleo nas sementes de gergelim, como o ghee na coalhada [curd, em inglês], como a água no fundo do leito de um curso d’água, como o fogo na madeira. Apenas aquelas pessoas que aderem estritamente a satya, e que realizam práticas espirituais, podem bater [churn, em inglês] a mente e realizar a Entidade Suprema de dentro dela.]


Existe óleo no gergelim, mas se você quiser obter óleo, o que você terá de fazer? Você terá de esmagá-lo com a ajuda de uma máquina para prensar, e o óleo sairá. Agora a parte essencial será o óleo, e a outra parte, a parte remanescente, será o resíduo.Tileśu taelaḿ [“Como o óleo nas sementes de gergelim”]. Similarmente, batendo o seu sentimento de “eu”, você irá obter dois fatores: a essência, ou seja, Parama Puruśa, e o resíduo, ou seja, a sua mente depravada.

Dadhiniiva sarpih - “existe sarpi no dadhi, na coalhada existe sarpi”. Sarpi significa “ghee”. Em sânscrito, existem três palavras populares para ghee - sarpi, ghrtam e upasecanam. Agora, existe ghee na coalhada, mas você não pode vê-lo, você não pode pegá-lo. Se você quiser separar o ghee da coalhada, você terá de batê-la. Similarmente, se você quiser separar a faculdade cognitiva do seu sentimento de “eu”, você terá de batê-lo. E o que é essa bateção? Prática espiritual.

Ápah srotahsu. Na estação de verão, você verá que os rios sazonais [i.e., intermitentes] não terão nenhuma água. Um rio sazonal fica cheio de areia, como um deserto. “Mas há água, há uma fluxo subterrâneo de água.” Se você quiser pegar a água, você terá de remover a areia, e você verá que existe um fluxo subterrâneo de água. Similarmente, você não pode vê-Lo em sua mente, mas se você remover as impurezas de sua mente, você verá que Ele está presente ali como a essência da mente - ápah srotahsu.

Arańiiśu cágnih - “No combustível, na madeira, existe fogo”, mas você não pode ver o fogo. Se você quiser ver o fogo, o que você terá de fazer? você terá de criá-lo através de fricção. Similarmente, você não consegue vê-Lo em sua mente, mas como resultado de fricção, você irá obtê-Lo no núcleo do seu coração.

Evamátmátmani grhyate’sao satyenaenaḿ tapasá yo’nupashyati - com a ajuda de satyam [uso correto das palavras] e detapasya [serviço aos outros, às custas do próprio conforto e prazer], você irá obtê-Lo como a essência da sua mente.” Você terá de fazer sádhaná, porque Ele está presente dentro da sua mente, em forma encoberta, não em forma expressa. Ele está dentro da sua guhá.

Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ. Na noite anterior eu disse que Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ [“a essência dedharma está nas profundezas da mente”]. Os rśis [sábios] também dizem isso:

Brhacca taddivyam acintyarúpam sukśmácca sukśmataraḿ vibháti;

Dúrát sudúre tadihántike ca pashyatsvihaeva nihitaḿ guháyám.

[A Entidade Suprema é a entidade mais vasta, a fonte última de todas as emanações cósmicas. A Entidade Suprema, que é difícil de ser concebida, é a mais sutil do sutil. Ele está mais distante do que qualquer outra entidade, mas Ele também está mais próximo do que o mais próximo. Apenas a pessoa que procurar nos recônditos mais internos de si mesma pode realizar a Entidade Suprema.]

Também aqui eles usaram a palavra guháyám.

Brhacca taddivyam acintyarúpam – “Ele é brhat.” Em sânscrito há duas palavras similares [...], brhat e vishála.

Em sânscrito, vishála significa “grande, muito grande, muito muito grande, mas que pode ser medido”. As poderosas montanhas Himalayas - elas são muito grandes, mas você pode medí-las - “Oito mil metros” - você pode dizer algo assim. Ou seja, os Himalayas são muito grandes, mas podem ser medidos. Quando uma entidade muito grande pode ser medida, nós dizemos que ela é vishála. E quando uma entidade muito grande não pode ser medida, nós dizemos que ela é bhrat. Bhrat e vishála. O país Índia é vishála, não brhat. Agora, no universo inteiro, há somente uma entidade que é bhrat, que é Parama Puruśa, o SupremoPuruśa [Consciência Suprema], e não há outra entidade que seja bhrat. Ele [o Ser Supremo] é bhrat. Brhattvád Brahma, brḿhańatvád Brahma - “Ele é chamado Brahma [Entidade Suprema] porque Ele é bhrat; Ele é chamado Brahma porque Ele faz outros serem bhrat.” A faculdade que torna os outros em brhat, aumentando os outros, é chamada brḿhan em sânscrito. Ele é chamado Brahma porque Ele é bhrat e porque Ele tem a faculdade de brḿhan. Brhattvád Brahma, brḿhańatvád Brahma.

Brhacca taddivyam acintyarúpam – “Ele é brhat. Ele está além do escopo de medições.” Brhacca taddivyam acintyarúpam. Esta faculdade divina é brhat e acintyarúpam.

Divya. Divya significa “divina”.

Acintyarúpam. Acintya significa “que não entra dentro da periferia da mente”. As entidades que entram dentro do escopo dos três fatores relativos fundamentais - tempo, espaço e pessoa - fator temporal, fator espacial e fator pessoal - também entram dentro do escopo da mente. E qualquer entidade que não entra dentro do escopo de tempo, espaço e pessoa, que não entra dentro do escopo da causalidade, dentro do escopo da teoria de causa-e-efeito, também não entra dentro do escopo da mente. E é por isso que, neste shloka, foi dito acintya - ou seja, “que não entra dentro do compasso da mente”. Brhacca taddivyam acintyarúpam.

Mas será que Ele é somente bhrat? Não. Sukśmácca - Brhacca taddivyam acintyarúpam sukśmácca sukśmataraḿ vibháti. As pessoas dizem que Ele é pequeno. Bem, Ele não é apenas pequeno. Ele é muito, muito pequeno. “Ele é menor que uma minúscula partícula, menor que um íon.” Ele é muito, muito pequeno. Sukśmácca sukśmataraḿ vibháti. E sukśmatara significa “mais sutil que o mais sutil”. Sukśmácca sukśmataraḿ vibháti - “Ele é mais sutil que o objeto mais sutil deste universo manifesto”. Agora, veja você, no caso de uma entidade muito grande, no caso de uma entidade bhrat, esse objeto não entra dentro da periferia da sua mente porque ele está além do escopo de tempo, espaço e pessoa. E também no caso de uma entidadesukśmatara, ou seja, de uma entidade mais-sutil-que-o-mais-sutil, a entidade não entra no escopo da sua mente. Você não pode ver um átomo com olhos ordinários, e sukśmatara é menor que um átomo, menor que um elétron. Sukśmácca sukśmataraḿ vibháti - quer dizer, neste caso, “Ele é a Entidade Efulgente”.

Dúrát sudúre tadihántike ca. Dúra significa “distante”. Em sânscrito, a palavra dúra é usada quando a distância está dentro do escopo da medição. Tantos quilômetros, tantas milhas. Mas quando a distância não entra dentro do escopo da medição, dizemossudúra. Agora, a este respeito um rśi diz: Se um sádhaka, um aspirante espiritual, uma pessoa - se uma pessoa pensar que ‘Ele está distante de mim’, então Ele não é dúra e sim sudúra para mim”.

Tadihántike ca. Em sânscrito, iha significa “aqui”. Mas você sabe, se nós dizemos “aqui”, então também queremos dizer que há um afastamento que pode ser medido - tantos centímetros ou tantas polegadas - mas ihántika, em sânscrito, significa “o ponto mais próximo, que não entra no escopo da medição”. A pessoa que pensa que Ele é dúra, para ela Ele é sudúra. E a pessoa que pensa que Ele está aqui comigo, para ela Ele é ihántika -- ou seja, “o ponto mais próximo, que não entra no escopo da medição”. Você pode dizer qual é o seu ponto mais próximo? Não. Será este? Não, este. Este? Não, este. Este? Não, este. Qual é o ponto mais próximo? Ninguém pode dizer qual é o seu ponto mais próximo. Dúrát sudúre and tadihántike ca -- “Ele é o ponto mais próximo”.

Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ [“a essência de dharma está na profundeza da mente”]. Aquelas pessoas que têm olhos para ver, o que elas vêem? Nihitaḿ guháyáḿ -- “Ele está escondido dentro de guhá, dentro do próprio sentimento de ‘eu’.” Portanto, se o sádhaka, o aspirante espiritual, deseja desfrutar da Sua proximidade, o que a pessoa tem de fazer? Ela não precisa ir até diversos tiirthas [lugares de peregrinação]. Ela não precisa gritar para Ele em voz alta. Porque Ele é o ponto mais próximo. Ele pode pode ouvir a sua linguagem mental. Então, aquelas pessoas que querem desfrutar da Sua proximidade, o que elas tem de fazer, o que elas deveriam fazer? Elas tem de procurar por Ele dentro de seu próprio sentimento de “eu”, dentro de seu próprioguhá; e isto é chamado de sádhaná.

* * *

Shrii Shriii Ánandamúrtijii

Publicado em: Ánanda Vacanámrtam Part 34

12/11/2010

DMT - The Spirit Molecule

Inner Paths to Outer Space, Part 2

Our conversation with Dr. Rick Strassman continues this week with topic ranging from the importance of psychedelic states in the Old Testament to Strassman's vision for the Cottonwood Research Foundation (www.cottonwoodresearch.org)

06/11/2010

PRINCÍPIOS DE PROUT

PROUT – Teoria de Utilização Progressiva


É um novo sistema sócio-econômico, desenvolvido pelo filósofo indiano P. R. Sarkar na década 60, cujas propostas, baseadas no cooperativismo, equilíbrio ecológico e em valores espirituais universais, buscam harmonia entre crescimento econômico, sustentabilidade ambiental, desenvolvimento social e espiritual.

PROUT é a sigla usada internacionalmente para designar a Teoria da Utilização Progressiva, uma filosofia sócio-econômica elaborada para promover o desenvolvimento físico, mental e espiritual dos seres humanos. O objetivo de PROUT é promover as orientações necessárias à implementação de uma sociedade humana verdadeiramente progressista.

PROUT é uma proposta alternativa para os modelos sócio-econômicos decadentes do capitalismo e do comunismo. Nenhum destes sistemas conseguiu promover o desenvolvimento físico, mental e espiritual da humanidade.

PROUT procura o equilíbrio entre crescimento econômico, desenvolvimento social e preservação do meio ambiente, considerando tanto os interesses individuais como coletivos.

Combinando sabedoria espiritual, visão universalista e esforço pela emancipação econômica de populações pobres, os proutistas (ativistas de PROUT) sedimentam uma nova proposta social e plantam as sementes de uma nova forma de viver.

OS 16 PRINCÍPIOS DE PROUT

1. Varn’apradha’nata’ cakradha’ra’ya’m

“No movimento dos ciclos sociais, sempre há uma classe que domina.”

Significado: Uma vez que nenhum sistema social evoluiu de forma coesa nos primórdios da civilização, podemos denominar aquela época de era Shu’dra. Naqueles tempos todas as pessoas obtinham seu sustento através do trabalho braçal. Depois veio a era dos líderes de clãs — dos fortes e destemidos, a qual podemos chamar de era Ks'attriya. A esta seguiu-se a era dos intelectuais — também conhecida como era Vipra. Finalmente veio a era dos capitalistas — a era Vaeshya.

Quando guerreiros e intelectuais são subjugados como trabalhadores braçais, devido à exploração promovida pela era Vaeshya [Capitalista], ocorre a revolução dos shu’dras. Mas os shu’dras não conseguem formar um sistema social coeso nem têm intelecto suficientemente desenvolvido para governar a sociedade. Por conseguinte, o poder na era pós- capitalista passa logo para as mãos daqueles que comandam a revolução dos shu’dras — os líderes fortes e corajosos. Assim, começa a segunda era Ks’attriya.

Desta forma, as eras Shu’dra, Ks’attriya, Vipra e Vaeshya sucedem-se, acompanhadas de revoluções; e em seguida começa uma segunda ordem cíclica. Assim, os ciclos sociais (sama’ja cakra) prosseguem em seu processo de rotatividade.

2. Cakrakendre sadvipra’h cakraniyantraka’h

“Os sadvipras devem se estabelecer no núcleo do ciclo social e controlar os ciclos sociais.”

Significado: Aquelas pessoas que são moralistas inabaláveis e espiritualistas sinceras e que desejam combater, mesmo usando a força, a imoralidade e a exploração são chamadas de sadvipras. Elas não devem atuar na periferia dos ciclos sociais, porque delas é a responsabilidade de controlar a sociedade, portanto, elas devem permanecer firmemente estabelecidas no núcleo dos ciclos sociais.

O movimento rotatório dos ciclos sociais, sem dúvida, prosseguirá, mas se ocorrer de os dominadores — sejam as pessoas dotadas de espírito guerreiro da era Ks’attriya, sejam os intelectuais da era Vipra, sejam os capitalistas da era Vaeshya — se degenerarem em exploradores ambiciosos, ao invés de atuar como governantes benevolentes, será um dever sagrado dos sadvipras proteger as pessoas honestas e exploradas e subjugar os exploradores malévolos, mesmo usando a força.

3. Shaktisampa’tena cakragatibardhanam’ kra’ntih

“Quando o movimento dos ciclos sociais é acelerado, devido ao uso da força, isto denomina-se evolução.”

Significado: Quando guerreiros se degeneram em exploradores, os sadvipras devem estabelecer a era Vipra, após subjugar os exploradores guerreiros. Conseqüentemente, o advento da era Vipra, que deveria ser natural, ocorre com o uso da força. A uma mudança de era em tais circunstâncias denomina-se “evolução” (kra’nti). A diferença entre evolução e mudança natural (sva’bha’vik’a parivarttana) é apenas esta: no processo evolutivo, o movimento dos ciclos sociais é acelerado com o uso da força.

4. Tiivrashaktisampa’tena gatibardhanam’ viplavah

“Quando o movimento dos ciclos sociais é acelerado, devido ao uso de uma força extraordinária, isto denomina-se revolução.”

Significado: Quando, num curto período de tempo, uma determinada era é substituída pela seguinte, ou quando uma força extraordinária é aplicada para desmontar o domínio fortemente estabelecido em uma era qualquer, tal mudança é denominada “revolução” (viplava).

5. Shaktisampa’tena vipariitadha’ra’yam’ vikra’ntih

“Quando o movimento dos ciclos sociais tem uma reversão, devido ao uso da força, isto denomina-se contra- evolução.”

Significado: Se houver reversão de uma era para a precedente, devido ao uso da força, a tal mudança dá-se o nome de “contra-evolução” (vikra’nti). Por exemplo, o estabelecimento da era Ks’attriya em seguida à era Vipra representa uma contra-evolução. A permanência dessa contra- evolução é extremamente curta. Isto é, em pouco tempo ela é substituída pela era seguinte ou por aquela que viria imediatamente após esta última. Em outras palavras, se a era Ks’attriya suceder, repentinamente, a era Vipra, devido à contra-evolução, então a permanência da era Ks’attriya não será muito longa. Em pouco tempo, ela será substituída pela era Vipra ou, como seria natural, pela era Vaeshya.

6. Tiivrashktisampa’tena vipariitadha’ra’yam’ prativiplavah

“Quando o movimento dos ciclos sociais tem uma reversão, devido ao uso de uma força extraordinária, isto chama-se contra-revolução.”

Significado: Da mesma forma, se num curto período de tempo o ciclo social se reverter através do uso de uma força extraordinária, a tal mudança dá-se o nome de “contrarevolução” (prativiplava). A contra-revolução tem uma duração menor ainda do que a contra-evolução.

7. Pu’rn’a’vartanena parikra’ntih

“A rotação completa de um ciclo social denomina-se evolução periférica”.

Significado: A rotação completa de um ciclo social, culminando com a revolução Shu’dra, é chamada de “evolução periférica” (parikra’nti).

8. Vaecitryam pra’krtadharmah sama’nam’ na bhavis’yati

“A diversidade, e não a igualdade, é uma lei da natureza.”

Significado: A característica inata do Princípio Operativo Supremo (Prakrti) é a diversidade, e não a igualdade. Dois objetos deste universo nunca são idênticos: dois corpos, duas mentes, duas moléculas ou dois átomos. Esta diversidade é uma tendência inerente ao Princípio Operativo Supremo. Aqueles que quiserem tornar tudo igual certamente falharão, porque estarão indo de encontro à característica inata do Princípio Operativo Supremo. Apenas no estado em que o Princípio Operativo Supremo não tem expressão1 tudo é igual. Aqueles que querem tornar todas as coisas iguais, inevitavelmente, pensam na destruição de todos.

9. Yugasya sarvanimnaprayojanam’ sarves’a’m’ vidheyam

“As necessidades mínimas de uma era devem ser garantidas a todos.”

Significado: Hararme pita’ Gaorii ma’ta’ savadeshah bhuvanatrayam. Isto é, a Consciência Suprema (Purus’a) é meu pai, o Princípio Supremo Operativo (Prakrti), minha mãe e os três mundos* são minha terra natal. Toda as riquezas do universo formam o patrimônio comum de todos, ainda que duas coisas em todo o universo não sejam absolutamente iguais. Portanto, as necessidades mínimas da vida devem estar ao alcance de todos. Em outras palavras, alimentação, vestuário, assistência médica, habitação e educação devem ser proporcionados a todos. As necessidades mínimas dos seres humanos, no entanto, mudam de acordo com a mudança de eras. Por exemplo, no que diz respeito ao meio de transporte, a bicicleta pode ser a necessidade básica numa era, enquanto que o avião poderá sê-lo em outra. As necessidades mínimas devem estar ao alcance de todos, de acordo com a era em que se está vivendo.

* Os três mundos significam as três forças (ou atributos) do Princípio Operativo: sutil, mutatória e estática. Elas atuam em conjunto no universo. Em cada coisa do universo físico ou metafísico uma dessas forças prevalece sobre as outras duas. A força sutil ajuda na elevação da consciência individual, a força estática degrada a consciência individual e força mutatória faz o elo entre essas duas forças.

10. Atirikitam’ prada’tavyam’ gun’a’nupatena

“O excedente de riqueza deve ser distribuído entre as pessoas meritórias, de acordo com o grau do seu mérito.”

Significado: Depois de garantidas as necessidades básicas a todos, em cada era, o excedente de riqueza deve ser distribuído entre as pessoas meritórias, de acordo com o mérito de cada uma. Numa era em que a bicicleta se constituir uma necessidade mínima para as pessoas comuns, um carro será necessário a um médico. Em reconhecimento ao mérito das pessoas e para que lhes seja dada maior chance de prestar serviços à sociedade, elas terão direito a um carro. O ditado “trabalhar de acordo com a capacidade e ganhar conforme a necessidade” soa agradável ao ouvido, mas não obtém nenhum resultado no solo árido da terra.

11. Sarvanimnama’nabardhanam’ sama’ja jiivalaks’an’am

“A melhoria no padrão de vida básico das pessoas indica a vitalidade da sociedade”.

Significado: As pessoas meritórias devem receber algo mais além dos requisitos básicos assegurados às pessoas comuns, como também deve-se fazer esforços incessantes para elevar o padrão de vida básico. Por exemplo, enquanto hoje a necessidade mínima de uma pessoa comum pode ser uma bicicleta, a de uma pessoa meritória seria um automóvel, mas esforço apropriados devem ser feitos para que as pessoas comuns tenham acesso aos automóveis. Depois que estas tiverem automóveis, poderá ser necessário fazer algo para que as pessoas meritórias tenham a oportunidade de possuir um avião. Depois que estas tiverem avião, esforços deverão ser feitos para proporcionar aviões às pessoas comuns, elevando-se, então, o padrão de vida mínimo. Desta forma, os esforços para elevar o padrão de vida mínimo devem ser incessantes, e deles dependerão o desenvolvimento material e a prosperidade dos seres humanos.

12.* Sama’ja’deshena vina’ dhanasaincayah akartavyah

“Nenhum indivíduo deve acumular qualquer riqueza material sem a permissão ou a aprovação clara do corpo coletivo”.

Significado: O universo é uma propriedade de todos. Todas as pessoas têm direito ao usufruto mas não à má utilização da propriedade coletiva. Se uma pessoa adquire e acumula riqueza em excesso, ela diretamente priva outros na sociedade de conforto e felicidade. Tal comportamento é flagrantemente anti-social. Portanto, ninguém deveria acumular riqueza sem o consentimento da sociedade.

* Os princípios de números 12 a 16 são denominados os “Cinco Princípios Fundamentais de PROUT”. Foram originalmente enunciados, em inglês, em 5 de junho de 1959, no discurso denominado The Cosmic Brotherhood (A Fraternidade Cósmica), publicado no livro Idea and Ideology (Idéia e Ideologia). Dois anos depois, ao lançar o livro A’nanda Su’tram (Escrituras da Bem-aventurança), no capítulo 5, o autor enunciou os onze primeiros princípios e acrescentou a estes cinco seus “significados” e aforismos em sânscrito. e etéreo — devem ser utilizados em sua totalidade, e o esforço nesse sentido garantirá o desenvolvimento máximo do universo. As pessoas devem explorar com pertinácia a terra, o mar e o espaço, para descobrir, extrair e processar as matérias-primas fundamentais às suas necessidades. Deve haver uma distribuição racional da riqueza acumulada da humanidade. Em outras palavras, a todas as pessoas devem ser garantidas as necessidades mínimas. Além disso, as necessidades das pessoas meritórias e, em certos casos, das pessoas com carências especiais devem ser consideradas.

13. Sthu’lasu’ks’maka’ran’es’u caramopayogah prakartavyah vica’ra samarthitam’ van’t’anainca

“Deve haver máxima utilização e distribuição racional de todo o potencial do universo, em todos os planos: mundano, supramundano e espiritual.”

Significado: As riquezas e os recursos disponíveis dos mundos denso, sutil e causal devem ser desenvolvidos para o bem-estar de todos. Todos os recursos inexplorados no mundo qüinqüelemental — sólido, líquido, luminoso, aéreo o mar e o espaço, para descobrir, extrair e processar as matérias-primas fundamentais às suas necessidades. Deve haver uma distribuição racional da riqueza acumulada da humanidade. Em outras palavras, a todas as pessoas devem ser garantidas as necessidades mínimas. Além disso, as necessidades das pessoas meritórias e, em certos casos, das pessoas com carências especiais devem ser consideradas.

14. Vyas’t’isamas’tisha’riirama’nasa’dhya’tmika sambha’vana’ya’m’ caramo’ payogashca

“Deve haver máxima utilização dos potenciais físico, metafísico e espiritual da sociedade humana, tanto do indivíduo como do corpo coletivo “.

Significado: A sociedade deve assegurar o desenvolvimento máximo do corpo coletivo, da mente coletiva e do espírito coletivo. Não deve ser esquecido que o bem-estar coletivo consiste no do indivíduo e que o bem- estar individual consiste no da coletividade. Se não garantirmos o conforto de cada indivíduo, fornecendo-lhe apropriadamente gêneros alimentícios, luz, ar, habitação e assistência médica, jamais alcançaremos o bem-estar do corpo coletivo. Com o ímpeto de promover o bem-estar coletivo, nós devemos incentivar o bem-estar individual.

Se não fizermos corretamente uma conscientização social que encoraje o espírito de serviço social e desperte o conhecimento em cada indivíduo, será impossível desenvolver a mente coletiva. Assim, inspiradas no pensamento de promover o bem-estar da mente coletiva, as pessoas devem promover o bem-estar da mente individual.

A ausência de moralidade espiritual e de espiritualidade nos indivíduos quebrará a espinha dorsal da coletividade. Assim, para garantir o bem-estar coletivo, é necessário despertar a espiritualidade em cada indivíduo. O mero fato de existir uma meia dúzia de pessoas fortes e bravas, um pequeno número de intelectuais ou alguns poucos espiritualistas não indica o progresso de toda a sociedade. A potencialidade de desenvolvimento nos planos físico, mental e espiritual é inerente a todos os seres humanos. Essa potencialidade tem de ser desenvolvida e desfrutada.

15. Sthu’lasu’ks’maka’ran’o’payoga’h susantulita’h vidheya’h

“Deve haver um ajuste apropriado quanto à utilização nos planos físico, metafísico, mundano, supramundano e espiritual.”

Significado: Para que o bem-estar dos indivíduos e da coletividade seja garantido, deve haver um ajuste apropriado quanto à utilização nas esferas física, mental e espiritual e nos mundos denso, sutil e causal. Por exemplo, a sociedade tem a responsabilidade de prover os requisitos básicos a cada indivíduo. Mas se alimentação e habitação forem asseguradas sob o impulso dessa responsabilidade, a iniciativa individual será negligenciada. As pessoas, gradativamente, ficarão letárgicas. Portanto, a sociedade deve assegurar às pessoas que, através de seu trabalho e de acordo com sua capacidade, elas possam receber o dinheiro suficiente à aquisição das necessidades mínimas. A melhor forma de melhorar o padrão das necessidades básicas é aumentar o poder aquisitivo das pessoas.

Por “ajuste apropriado” entende-se que a sociedade deve adotar uma política ajustada quando se tratar de serviços prestados por uma pessoa com capacidade física, mental e espiritual. Quando usufruir dos serviços de uma pessoa, a sociedade deve levar em consideração a habilidade predominante na pessoa, nos planos físico, intelectual e espiritual. Com aqueles que têm maior desenvolvimento físico e intelectual, a sociedade deve adotar uma política equilibrada, exigindo deles mais serviço intelectual e menos serviço físico, porque a capacidade intelectual é comparativamente mais sutil e rara. Daqueles que são física, mental e espiritualmente desenvolvidos, a sociedade deve obter o máximo de serviço espiritual, um pouco de serviço intelectual e muito menos de serviço físico.

No que diz respeito ao bem-estar social, as pessoas providas de força espiritual podem prestar os melhores serviços, seguidos daqueles providos de capacidade intelectual. Aqueles que só têm força física, embora sejam importantes, não podem fazer nada de forma independente. O que quer que façam, o fazem instruídos por pessoas providas de capacidade intelectual ou espiritual. Desta forma, a responsabilidade de controlar a sociedade não deve ser atribuída às pessoas que só têm força física, ou às pessoas apenas corajosas, ou ainda àqueles que só têm desenvolvimento intelectual, ou às pessoas providas exclusivamente de conhecimento do mundo material. O controle social deve ser uma responsabilidade de pessoas que sejam elevadas espiritualmente, inteligentes e corajosas, ao mesmo tempo.

16. Deshaka’lapa’traeh upayoga’h parivarttante te upayoga’h pragatishiila’h bhaveyuh

“O método de utilização deve variar de acordo com as mudanças de tempo, lugar e pessoa e a utilização deve ser de natureza progressiva.”

Significado: A utilização apropriada de qualquer objeto deve variar com as mudanças de tempo, lugar e pessoa. Aqueles que menosprezam este princípio elementar permanecem apegados ao esqueleto do passado e, por isso, são rejeitados pelo dinamismo da sociedade. Sentimentos egoístas, como nacionalismo, regionalismo, orgulho da ascendência familiar etc., induzem certas pessoas a desprezar este princípio fundamental, então, elas nunca o reconhecem como uma verdade elementar, sem reservas. Conseqüentemente, essas pessoas, depois que causam estragos indescritíveis ao país, aos cidadãos e a si mesmo, são obrigadas a retirar-se furtivamente para o anonimato.

O método de utilização de cada objeto deve variar de acordo com os fatores tempo, lugar e pessoa. Isto tem que ser aceito, e quando reconhecerem este fato, as pessoas utilizarão cada objeto e cada idéia de maneira progressiva. Por exemplo, a energia aplicada por uma pessoa forte no manuseio de uma marreta deveria, com o apoio de recursos científicos, ser aplicada no manejo de mais de um equipamento, evitando-se o desperdício de energia. Em outras palavras, a pesquisa científica dirigida por idéias progressistas deve utilizar cada vez mais o potencial humano. Não é sinal de progresso o uso de tecnologia defasada, numa era de desenvolvimento da ciência.

A sociedade terá de enfrentar bravamente os diferentes tipos de obstáculos, grandes ou pequenos, que possam surgir devido à utilização de materiais e recursos diversos com idéias progressistas e tecnologia moderna. Por meio da luta, a sociedade seguirá atuante em direção à vitória, no caminho da realização plena na vida.

Pragatishiila upayogatattvamidam’ sarvajanahita’rtham’ sarvajanasukha’rtham’ praca’ritam

Esta é a Teoria da Utilização Progressiva, que foi elaborada para a felicidade e o bem-estar geral de todos.

P.R. Sarkar - Jamalpur, 28 de junho de 1961

A’nanda Su’tram

1 O universo infinito é composto de dois princípios: Consciência Suprema — ou Paramá Purus’a, em sânscrito; e Energia Suprema — ou Prakrti. A Consciência controla a Energia no primeiro estágio, quando não há criação. A partir de um momento indefinível em tempo e lugar, a Consciência permite à Energia que atue sobre uma parcela de Si, dando-se início à criação. Mas o estado original da Consciência continua imutável, em paz e igualdade absoluta, onde a Energia não tem qualquer expressão. Para um maior aprofundamento na filosofia espiritual, recomendamos a leitura de outros livros publicados pela editora.

Quem sou eu ?