Shrii Prabhat Ranjan Sarkar
Dezembro de 1966.
Os seres humanos não são capazes de propagarem uma grande ideologia somente com seu conhecimento, seus intelectos ou através de suas posições sociais. A conduta humana torna-se purificada através de práticas intuicionais [1]. Não é necessário que a pessoa provenha de uma família assim-chamada distinta, ou que ela tenha completado um estudo universitário. Em vez disso, esses fatores podem criar uma falsa vaidade na mente da pessoa, que ao final irá colocar-se como obstáculo no caminho da reforma da sua própria conduta.
Neste nosso universo, duas forças estão operando lado a lado: a sutil e a estática. Algumas vezes a força sutil domina, e em outros momentos, a força estática domina. Não há espaço para um pacto entre essas forças. Os seres humanos terão de marchar adiante em meio à batalha incessante entre essas forças opositoras. Na sociedade, por um lado vemos as hordas de elementos antissociais, e por outro lado, percebemos um sentimento de frustração entre os moralistas [2]. Esses moralistas desenvolveram, assim, uma tendência a saírem da sociedade. Com mais riqueza e força, os elementos antissociais estão em um posição vantajosa, e os moralistas parecem ser os culpados. Esse estado de coisas não é nem desejável, nem apropriado, e não se deve permitir que continue.
Portanto, o dever de vocês é triplo.
[1] O seu primeiro dever é seguir a moralidade e fazer práticas intuicionais. Sem isso, vocês não conseguirão ter determinação mental.
[2] O seu próximo dever é unir os moralistas do mundo – pois, de outro modo, o Dharma não sobreviverá. As massas exploradas que não seguem Yama e Niyama – os princípios morais fundamentais – não têm capacidade para lutar contra o seu próprio sentimento de frustração. Portanto, é necessário unir os moralistas. Esse será o verdadeiro Dharma de vocês. Vocês se tornarão grandes fazendo isso, porque a ideação no Grande torna uma pessoa grande.
[3] E no terceiro estágio, vocês terão de lutar impiedosamente contra o pecado, onde quer que ele esteja enraizado neste mundo.
Você precisam propagar essa missão de porta em porta. Nenhum partido político, ou nenhuma instituição assim-chamada religiosa, poderão trazer a salvação. Louvar Deus em concertos com tambores e címbalos tampouco irá trazer a salvação, porque isto não fará com que os pecadores se curvem. Para conter o ataque maciço dos imoralistas hoje em dia, armas são mais necessárias do que tambores e címbalos.[4]
Não é possível lutar contra o pecado enquanto houver alguma fraqueza na mente de vocês. Nessa luta, o objetivo de vocês não é o pecado ou o pecador: o objetivo de vocês é a Consciência Suprema. Qualquer coisa que se interponha no caminho rumo a isso terá de ser removida sem piedade. Quando nuvens se adensam em torno da estrela polar e a cobrem, o dever de vocês é remover as nuvens e seguir a estrela polar sem se importar em olhar aonde as nuvens foram parar.[5] Se vocês sempre pensarem no seu inimigo, as suas mentes irão adotar as más qualidades do seu objeto de ideação – mas se o Ser Supremo for a meta de vocês, as suas mentes serão metamorfoseadas no próprio Ser Supremo.
Lembrem-se: vocês têm que servir a humanidade. Vocês têm que dedicar-se à causa da humanidade como um todo. A vida de vocês é valiosa; o tempo de vocês é ainda muito mais valioso. Vocês não deveriam desperdiçar nenhum momento. A tarefa é gloriosa. A tarefa é nova. Levem uma vida de guerreiros e lutem constantemente contra todos os males. Vocês serão vitoriosos. Portanto, marchem avante!
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Título Original: “Your Mission”
Tradução: Mahesh – Florianópolis: 30 de novembro; 04 de dezembro de 2010.
Fonte: Edição Eletrônica das Obras de P. R. Sarkar – versão 7.5 (em inglês).
Publicado em:
Prout in a Nutshell Volume 4 Part 18 [uma compilação]
Supreme Expression Volume 2 [uma compilação]
(Obras ainda não publicadas no Brasil.)
[1] Práticas intuicionais (também denominadas coletivamente de sádhaná) são aquelas que propiciam o desenvolvimento da intuição de cada indivíduo – ou, dito de outra forma mais ampla, o seu desenvolvimento espiritual; subentende-se pelo termo “práticas” que isto se dá através de uma abordagem prática e sistemática. A meditação, ou um sistema de meditação, são exemplos disso.
[2] “Moralistas” são, neste contexto, aquelas pessoas que seguem princípios éticos universais (sintetizados na forma dos dez princípios de Yama e Niyama) – ou, também, que estão comprometidas com o seu dharma (e portanto empenhadas em desenvolvê-lo).
[3] Esta é uma referência indireta à batalha de Kurukshetra no Mahabharata, em que o exército dos cinco pandavas (liderados por Krishna) derrotou o exército dos cem kaoravas.
[4] Vendo os horrores de guerras motivadas por interesses escusos e justificadas com mentiras, muitas pessoas que buscam a paz acabam pregando a não-violência como alternativa à violência irracional. A personalidade de Mahatma Gandhi e o movimento liderado por ele aparecem como exemplos ou mesmo ícones desse suposto método de resolução de injustiças sociais. O autor procurou expôr e demonstrar, argumentando abundantemente, as falhas dessa abordagem.
[5] Um exemplo disso – com uma boa dose de imaginação, ou exercício de futurologia – pode ser o esforço para se implementar ou construir uma democracia econômica. A descentralização econômica que inevitavelmente acompanhará esse esforço necessariamente implicará na redução e eventual eliminação do poder econômico dos grandes capitalistas, pois tenderá a solapar a concentração ou centralização econômica na qual o poder deles se baseia. Naturalmente eles irão sentir isso, e tenderão a buscar as causas dessa oposição e lutar para eliminá-las, para prolongarem seu poder. Nisto eles poderão enfrentar dificuldades e, caso não tenham sucesso, podemos supor que sofrerão com suas perdas. Mas que razão temos para nos preocupar com a perda das suas fortunas acumuladas, e dos seus impérios econômicos, e de toda a rede de dominação social que encabeçam, quando comparamos o sofrimento dessas pessoas com o das pessoas que sofrem por não terem o que comer, ou onde morar?