1. Varn’apradha’nata’ cakradha’ra’ya’m
“No movimento dos ciclos sociais, sempre há uma classe que
domina.”
Significado: Uma vez que nenhum sistema social evoluiu de
forma coesa nos primórdios da civilização, podemos denominar aquela época de
era Shu’dra. Naqueles tempos todas as pessoas obtinham seu sustento através do
trabalho braçal. Depois veio a era dos líderes de clãs — dos fortes e
destemidos, a qual podemos chamar de era Ks'attriya. A esta seguiu-se a era dos
intelectuais — também conhecida como era Vipra. Finalmente veio a era dos capitalistas
— a era Vaeshya.
Quando guerreiros e intelectuais são subjugados como
trabalhadores braçais, devido à exploração promovida pela era Vaeshya
[Capitalista], ocorre a revolução dos shu’dras. Mas os shu’dras não conseguem
formar um sistema social coeso nem têm intelecto suficientemente desenvolvido
para governar a sociedade. Por conseguinte, o poder na era pós- capitalista
passa logo para as mãos daqueles que comandam a revolução dos shu’dras — os
líderes fortes e corajosos. Assim, começa a segunda era Ks’attriya.
Desta forma, as eras Shu’dra, Ks’attriya, Vipra e Vaeshya
sucedem-se, acompanhadas de revoluções; e em seguida começa uma segunda ordem
cíclica. Assim, os ciclos sociais (sama’ja cakra) prosseguem em seu processo de
rotatividade.
2. Cakrakendre
sadvipra’h cakraniyantraka’h
“Os sadvipras devem se estabelecer no núcleo do ciclo social
e controlar os ciclos sociais.”
Significado: Aquelas pessoas que são moralistas inabaláveis
e espiritualistas sinceras e que desejam combater, mesmo usando a força, a
imoralidade e a exploração são chamadas de sadvipras. Elas não devem atuar na
periferia dos ciclos sociais, porque delas é a responsabilidade de controlar a
sociedade, portanto, elas devem permanecer firmemente estabelecidas no núcleo
dos ciclos sociais.
O movimento rotatório dos ciclos sociais, sem dúvida,
prosseguirá, mas se ocorrer de os dominadores — sejam as pessoas dotadas de
espírito guerreiro da era Ks’attriya, sejam os intelectuais da era Vipra, sejam
os capitalistas da era Vaeshya — se degenerarem em exploradores ambiciosos, ao
invés de atuar como governantes benevolentes, será um dever sagrado dos
sadvipras proteger as pessoas honestas e exploradas e subjugar os exploradores
malévolos, mesmo usando a força.
3. Shaktisampa’tena cakragatibardhanam’ kra’ntih
“Quando o movimento dos ciclos sociais é acelerado, devido
ao uso da força, isto denomina-se evolução.”
Significado: Quando guerreiros se degeneram em exploradores,
os sadvipras devem estabelecer a era Vipra, após subjugar os exploradores
guerreiros. Conseqüentemente, o advento da era Vipra, que deveria ser natural, ocorre com
o uso da força. A uma mudança de era em tais circunstâncias denomina-se
“evolução” (kra’nti). A diferença entre evolução e mudança natural (sva’bha’vik’a parivarttana) é apenas
esta: no processo evolutivo, o movimento dos ciclos sociais é acelerado com o
uso da força.
4. Tiivrashaktisampa’tena gatibardhanam’ viplavah
“Quando o movimento dos ciclos sociais é acelerado, devido
ao uso de uma força extraordinária, isto denomina-se revolução.”
Significado: Quando, num curto período de tempo, uma
determinada era é substituída pela seguinte, ou quando uma força extraordinária
é aplicada para desmontar o domínio fortemente estabelecido em uma era qualquer,
tal mudança é denominada “revolução” (viplava).
5. Shaktisampa’tena vipariitadha’ra’yam’ vikra’ntih
“Quando o movimento dos ciclos sociais tem uma reversão,
devido ao uso da força, isto denomina-se contra- evolução.”
Significado: Se houver reversão de uma era para a
precedente, devido ao uso da força, a tal mudança dá-se o nome de
“contra-evolução” (vikra’nti). Por exemplo, o estabelecimento da era Ks’attriya
em seguida à era Vipra representa uma contra-evolução. A permanência dessa
contra- evolução é extremamente curta. Isto é, em pouco tempo ela é substituída
pela era seguinte ou por aquela que viria imediatamente após esta última. Em
outras palavras, se a era Ks’attriya suceder, repentinamente, a era Vipra,
devido à contra-evolução, então a permanência da era Ks’attriya não será muito
longa. Em pouco tempo, ela será substituída pela era Vipra ou, como
seria natural, pela era Vaeshya.
6. Tiivrashktisampa’tena vipariitadha’ra’yam’ prativiplavah
“Quando o movimento dos ciclos sociais tem uma reversão,
devido ao uso de uma força extraordinária, isto chama-se contra-revolução.”
Significado: Da mesma forma, se num curto período de tempo o
ciclo social se reverter através do uso de uma força extraordinária, a tal
mudança dá-se o nome de “contrarevolução” (prativiplava). A contra-revolução
tem uma duração menor ainda do que a contra-evolução.
7. Pu’rn’a’vartanena parikra’ntih
“A rotação completa de um ciclo social denomina-se evolução
periférica”.
Significado: A rotação completa de um ciclo social,
culminando com a revolução Shu’dra, é chamada de “evolução periférica”
(parikra’nti).
8. Vaecitryam pra’krtadharmah sama’nam’ na bhavis’yati
“A diversidade, e não a igualdade, é uma lei da natureza.”
Significado: A característica inata do Princípio Operativo
Supremo (Prakrti) é a diversidade, e não a igualdade. Dois objetos deste
universo nunca são idênticos: dois corpos, duas mentes, duas moléculas ou dois
átomos. Esta diversidade é uma tendência inerente ao Princípio Operativo
Supremo.
Aqueles que quiserem tornar tudo igual certamente falharão, porque estarão indo de encontro à característica
inata do Princípio Operativo Supremo. Apenas no estado em que o Princípio
Operativo Supremo não tem expressão
tudo é igual. Aqueles que querem tornar todas as coisas iguais,
inevitavelmente, pensam na destruição de todos.
9. Yugasya sarvanimnaprayojanam’ sarves’a’m’ vidheyam
“As necessidades mínimas de uma era devem ser garantidas a
todos.”
Significado: Hararme pita’ Gaorii ma’ta’ savadeshah
bhuvanatrayam. Isto é, a Consciência Suprema (Purus’a) é meu pai, o Princípio
Supremo Operativo (Prakrti), minha mãe e os três mundos*
são minha terra natal. Toda as riquezas do universo formam o patrimônio comum
de todos, ainda que duas coisas em todo o universo não sejam absolutamente
iguais. Portanto, as necessidades mínimas da vida devem estar ao alcance de
todos. Em outras palavras, alimentação, vestuário, assistência médica,
habitação e educação devem ser proporcionados a todos. As necessidades mínimas
dos seres humanos, no entanto, mudam de acordo com a mudança de eras. Por
exemplo, no que diz respeito ao meio de transporte, a bicicleta pode ser a
necessidade básica numa era, enquanto que o avião poderá sê-lo em outra. As
necessidades mínimas devem estar ao alcance de todos, de acordo com a era em
que se está vivendo.
10. Atirikitam’ prada’tavyam’ gun’a’nupatena
“O excedente de riqueza deve ser distribuído entre as
pessoas meritórias, de acordo com o grau do seu mérito.”
Significado: Depois de garantidas as necessidades básicas a
todos, em cada era, o excedente de riqueza deve ser distribuído entre as
pessoas meritórias, de acordo com o mérito de cada uma. Numa era em que a
bicicleta se constituir uma necessidade mínima para as pessoas comuns, um carro
* Os três mundos significam as três forças (ou atributos) do
Princípio Operativo: sutil, mutatória e estática. Elas atuam em conjunto no
universo. Em cada coisa do universo físico ou metafísico uma dessas forças
prevalece sobre as outras duas. A força sutil ajuda na elevação da consciência
individual, a força estática degrada a consciência individual e força mutatória
faz o elo entre essas duas forças. será necessário a um médico. Em
reconhecimento ao mérito das pessoas e para que lhes seja dada maior chance de
prestar serviços à sociedade, elas terão direito a um carro. O ditado “trabalhar de acordo com a capacidade e ganhar conforme a
necessidade” soa agradável ao ouvido, mas não obtém nenhum resultado no solo
árido da terra.
11. Sarvanimnama’nabardhanam’ sama’ja jiivalaks’an’am
“A melhoria no padrão de vida básico das pessoas indica a
vitalidade da sociedade”.
Significado: As pessoas meritórias devem receber algo mais
além dos requisitos básicos assegurados às pessoas comuns, como também deve-se
fazer esforços incessantes para elevar o padrão de vida básico. Por exemplo,
enquanto hoje a necessidade mínima de uma pessoa comum pode ser uma bicicleta,
a de uma pessoa meritória seria um automóvel, mas esforço apropriados devem ser
feitos para que as pessoas comuns tenham acesso aos automóveis. Depois que
estas tiverem automóveis, poderá ser necessário fazer algo para que as pessoas
meritórias tenham a oportunidade de possuir um avião. Depois que estas tiverem
avião, esforços deverão ser feitos para proporcionar aviões às pessoas comuns,
elevando-se, então, o padrão de vida mínimo. Desta forma, os esforços para
elevar o padrão de vida mínimo devem ser incessantes, e deles dependerão o
desenvolvimento material e a prosperidade dos seres humanos.
12.* Sama’ja’deshena vina’ dhanasaincayah akartavyah
“Nenhum indivíduo deve acumular qualquer riqueza material
sem a permissão ou a aprovação clara do corpo coletivo”.
Significado: O universo é uma propriedade de todos. Todas as
pessoas têm direito ao usufruto mas não à má utilização da propriedade
coletiva. Se uma pessoa adquire e acumula riqueza em excesso, ela diretamente
priva outros na sociedade de conforto e felicidade. Tal comportamento é
flagrantemente anti-social. Portanto, ninguém deveria acumular riqueza sem o
consentimento da sociedade.
13. Sthu’lasu’ks’maka’ran’es’u caramopayogah prakartavyah
vica’ra samarthitam’ van’t’anainca
“Deve haver máxima utilização e distribuição racional de
todo o potencial do universo, em todos os planos: mundano, supramundano e
espiritual.”
Significado: As riquezas e os recursos disponíveis dos
mundos denso, sutil e causal devem ser desenvolvidos para o bem-estar de todos.
Todos os recursos inexplorados no mundo qüinqüelemental — sólido, líquido,
luminoso, aéreo
* Os princípios de números 12 a 16 são denominados os
“Cinco Princípios Fundamentais de PROUT”. Foram originalmente enunciados, em
inglês, em 5 de junho de 1959, no discurso denominado The Cosmic Brotherhood (A
Fraternidade Cósmica), publicado no livro Idea and Ideology (Idéia e
Ideologia). Dois anos depois, ao lançar o livro A’nanda Su’tram (Escrituras da
Bem-aventurança), no capítulo 5, o autor enunciou os onze primeiros princípios
e acrescentou a estes cinco seus “significados” e aforismos em sânscrito. e
etéreo — devem ser utilizados em sua totalidade, e o esforço nesse sentido
garantirá o desenvolvimento máximo do universo. As pessoas devem explorar com pertinácia a terra, o mar e o espaço, para descobrir, extrair e processar as
matérias-primas fundamentais às suas necessidades. Deve haver uma distribuição
racional da riqueza acumulada da humanidade. Em outras palavras, a todas as
pessoas devem ser garantidas as necessidades mínimas. Além disso, as
necessidades das pessoas meritórias e, em certos casos, das pessoas com
carências especiais devem ser consideradas.
14.Vyas’t’isamas’tisha’riirama’nasa’dhya’tmika
sambha’vana’ya’m’ caramo’ payogashca
“Deve haver máxima utilização dos potenciais físico,
metafísico e espiritual da sociedade humana, tanto do indivíduo como do corpo
coletivo “.
Significado: A sociedade deve assegurar o desenvolvimento
máximo do corpo coletivo, da mente coletiva e do espírito coletivo. Não deve
ser esquecido que o bem-estar coletivo consiste no do indivíduo e que o bem-
estar individual consiste no da coletividade. Se não garantirmos o conforto de
cada indivíduo, fornecendo-lhe apropriadamente gêneros alimentícios, luz, ar,
habitação e assistência médica, jamais alcançaremos o bem-estar do corpo coletivo.
Com o ímpeto de promover o bem-estar coletivo, nós devemos incentivar o
bem-estar individual. Se não fizermos corretamente uma conscientização social que
encoraje o espírito de serviço social e desperte o conhecimento em cada
indivíduo, será impossível desenvolver a mente coletiva. Assim, inspiradas no
pensamento de promover o bem-estar da mente coletiva, as pessoas devem promover
o bem-estar da mente individual.
A ausência de
moralidade espiritual e de espiritualidade nos indivíduos quebrará a espinha
dorsal da coletividade. Assim, para garantir o bem-estar coletivo, é necessário
despertar a espiritualidade em cada indivíduo. O mero fato de existir uma meia
dúzia de pessoas fortes e bravas, um pequeno número de intelectuais ou alguns
poucos espiritualistas não indica o progresso de toda a sociedade. A
potencialidade de desenvolvimento nos planos físico, mental e espiritual é
inerente a todos os seres humanos. Essa potencialidade tem de ser desenvolvida
e desfrutada.
15. Sthu’lasu’ks’maka’ran’o’payoga’h susantulita’h vidheya’h
“Deve haver um ajuste apropriado quanto à utilização nos
planos físico, metafísico, mundano, supramundano e espiritual.”
Significado: Para que o bem-estar dos indivíduos e da
coletividade seja garantido, deve haver um ajuste apropriado quanto à
utilização nas esferas física, mental e espiritual e nos mundos denso, sutil e
causal. Por exemplo, a sociedade tem a responsabilidade de prover os requisitos
básicos a cada indivíduo. Mas se alimentação e habitação forem asseguradas sob
o impulso dessa responsabilidade, a iniciativa individual será negligenciada.
As pessoas, gradativamente, ficarão letárgicas. Portanto, a sociedade deve
assegurar às pessoas que, através de seu trabalho e de acordo com sua
capacidade, elas possam receber o dinheiro suficiente à aquisição das
necessidades mínimas. A melhor forma de melhorar o padrão das necessidades
básicas é aumentar o poder aquisitivo das pessoas.
Por “ajuste apropriado” entende-se que a sociedade deve
adotar uma política ajustada quando se tratar de serviços prestados por uma
pessoa com capacidade física, mental e espiritual. Quando usufruir dos serviços
de uma pessoa, a sociedade deve levar em consideração a habilidade predominante
na pessoa, nos planos físico, intelectual e espiritual. Com aqueles que têm
maior desenvolvimento físico e intelectual, a sociedade deve adotar uma
política equilibrada, exigindo deles mais serviço intelectual e menos serviço
físico, porque a capacidade intelectual é comparativamente mais sutil e rara.
Daqueles que são física, mental e espiritualmente desenvolvidos, a sociedade
deve obter o máximo de serviço espiritual, um pouco de serviço intelectual e
muito menos de serviço físico.
No que diz respeito ao bem-estar social, as pessoas providas
de força espiritual podem prestar os melhores serviços, seguidos daqueles
providos de capacidade intelectual. Aqueles que só têm força física, embora
sejam importantes, não podem fazer nada de forma independente. O que quer que
façam, o fazem instruídos por pessoas providas de capacidade intelectual ou
espiritual. Desta forma, a responsabilidade de controlar a sociedade não deve
ser atribuída às pessoas que só têm força física, ou às pessoas apenas
corajosas, ou ainda àqueles que só têm desenvolvimento intelectual, ou às
pessoas providas exclusivamente de conhecimento do mundo material. O controle
social deve ser uma responsabilidade de pessoas que sejam elevadas
espiritualmente, inteligentes e corajosas, ao mesmo tempo.
16. Deshaka’lapa’traeh upayoga’h parivarttante te upayoga’h pragatishiila’h bhaveyuh
“O método de utilização deve variar de acordo com as
mudanças de tempo, lugar e pessoa e a utilização deve ser de natureza
progressiva.”
Significado: A utilização apropriada de qualquer objeto deve
variar com as mudanças de tempo, lugar e pessoa. Aqueles que menosprezam este
princípio elementar permanecem apegados ao esqueleto do passado e, por isso,
são rejeitados pelo dinamismo da sociedade. Sentimentos egoístas, como
nacionalismo, regionalismo, orgulho da ascendência familiar etc., induzem
certas pessoas a desprezar este princípio fundamental, então, elas nunca o
reconhecem como uma verdade elementar, sem reservas. Conseqüentemente, essas
pessoas, depois que causam estragos indescritíveis ao país, aos cidadãos e a si
mesmo, são obrigadas a retirar-se furtivamente para o anonimato.
O método de utilização de cada objeto deve variar de acordo
com os fatores tempo, lugar e pessoa. Isto tem que ser aceito, e quando
reconhecerem este fato, as pessoas utilizarão cada objeto e cada idéia de
maneira progressiva. Por exemplo, a energia aplicada por uma pessoa forte no
manuseio de uma marreta deveria, com o apoio de recursos científicos, ser
aplicada no manejo de mais de um equipamento, evitando-se o desperdício de
energia. Em outras palavras, a pesquisa científica dirigida por idéias
progressistas deve utilizar cada vez mais o potencial humano. Não é sinal de
progresso o uso de tecnologia defasada, numa era de desenvolvimento da ciência.
A sociedade terá de enfrentar bravamente os diferentes tipos
de obstáculos, grandes ou pequenos, que possam surgir devido à utilização de materiais e recursos diversos com
idéias progressistas e tecnologia moderna. Por meio da luta, a sociedade
seguirá atuante em direção à vitória, no caminho da realização plena na vida.
Pragatishiila upayogatattvamidam’ sarvajanahita’rtham’
sarvajanasukha’rtham’ praca’ritam
Esta é a Teoria da Utilização Progressiva, que foi elaborada
para a felicidade e o bem-estar geral de todos.
Jamalpur, 28 de junho de 1961
A’nanda Su’tram