06/09/2009

BHAKTI - DEVOÇÃO

A palavra
Bhakti (devoção) significa veneração. Para que haja veneração, tanto a pessoa que venera como Ele, o que é venerado, devem estar presente. Por essa razão, enquanto houver diferença entre o devoto e Deus existirá a oportunidade de Bhakti sádhana.

Bhakti significa desejo intenso pelo Supremo. Então surge a questão se bhakti é natural ou antinatural para os seres vivos. Todas as coisas que vemos neste universo manifestado, sejam as conscientes, seja a matéria bruta, exercem atração umas sobre as outras. Esta atração é o dharma (natureza) do universo criado e, como conseqüência, a continuidade das projeções de pensamentos da Mente Cósmica é mantida. Portanto, eu digo que a atração é natural em tudo. É devido à atração mútua de miríades de corpos celestes que oscilam no espaço infinito que o equilíbrio é mantido no firmamento. Há um esforço para auto preservação. A abelha voa ao redor das flores em busca do mel apenas com o objetivo de preservar a existência. Pode ser notado que todos os seres buscam sempre o que lhes é mais duradouro e seguro e que pode assim lhes proporcionar uma segurança maior. As pessoas correm atrás do dinheiro unicamente porque acreditam que podem manter suas vidas sob sua proteção, isto é, que somente o dinheiro pode salvá-las. Mas não sabem que o dinheiro não pode dar nem estabilidade permanente nem uma proteção garantida. Durante o período de suas vidas, o dinheiro irá e virá muitas vezes. Algumas vezes, sua fascinação ofuscará seus olhos e outras, a sua falta os fará chorar, com fome.

Sem falar apenas do dinheiro, todos os objetos finitos têm essa característica. O que não é infinito não pode permanecer para sempre como objeto de seu prazer. Não pode ser seu refúgio permanente, já que a existência de todos esses objetos finitos é dependente de outros, determinada por limites de tempo, lugar e pessoa.

Se a extraordinária velocidade com que o homem extrovertido persegue objetos finitos for introvertida em direção ao Ser Supremo de sua vida, ele pode alcançar Brahma, ele pode realizar o Estado Supremo.

O devoto recita:

“Oh, Senhor, Todo Poderoso, que a atração que o homem ignorante mantém em direção aos objetos de sua mente se torne um eterno amor por Ti, através de Tua lembrança.”

Você compreende, por certo, que a bhakti pura não pode ser baseada em objetos finitos, já que estes causam extroversão de sentimentos. Mas, observo, tristemente, que muitos homens limitam seu amor e devoção aos objetos finitos. Qual é o resultado? Eles não alcançam a visão abrangente que o amor confere. Não compreendem que cada ínfimo átomo do vasto universo é uma manifestação criativa da própria Consciência Cósmica, Sua grandiosa expressão. Gastam milhões na criação de ídolos, mas ignoram as aflições da humanidade sofredora.

O mundo é um fenômeno mutável. Portanto, é imprudente apegar-se a qualquer objeto neste mundo instável. O próprio nome e a forma sofrerão mudança com a variação do tempo e do lugar. A criança se torna jovem, o jovem se torna velho, e o velho um cadáver. Mas, se homens sábios vêem todos os objetos do mundo como expressão única da Consciência Cósmica, então, ao verem a mudança no nome e na forma de um objeto em particular, não serão afetados nem por dor, nem por prazer. A Consciência Cósmica, para eles, permanecerá Consciência Cósmica e eles nada perderão.

Os métodos e tipos de bhakti Yoga são numerosos. Cada um adota o processo de bhakti sádhana de acordo com sua própria natureza.

DEVOÇÃO PRIMÁRIA (támasika bhakti):

Aqueles que buscam prazeres finitos ao invés de Bem–Aventurança Suprema e que estão sob a influência da violência, da arrogância e inveja, são sádhakas primários.

DEVOÇÃO MUTATIVA (rájasika bhakti): os que realizam as praticas espirituais com o objetivo de alcançar um objetivo finito em particular são chamados os sádhakas mutativos. Os sádhakas mutativos estão absorvidos na realização de seus objetivos egoístas, embora não prejudiquem os outros. Veneram o Senhor de modo materialista, com flores e adornos para obtenção de objetos mundanos, fama ou riqueza; eles desejam aqueles objetos e não o Senhor.

DEVOÇÃO SUTIL (sattvik bhakti): Os que exercem na sua prática com a prece:

“Ó senhor, que meu karma seja aniquilado. Emancipa-me do ciclo da vida e da morte”.
Os que exercem sua prática como um dever; e também os que exercem por temer que as pessoas possam censurá-los são classificados como sádhakas sutis. Visto que eles não procuram o Supremo, mesmo esta sattvika sádhana não pode ser considerada como uma sádhana Suprema, porque nenhum desses motivos controla as energias dos aspirantes e as dirige ao adorado, o Brahma Supremo. O objetivo do aspirante é canalizado numa direção diferente, ele busca uma meta inferior.

Estes três tipos de devoção, primária, mutativa e sutil são uma forma inferior de devoção.

DEVOÇÃO NÃO QUALIFICADA (nirguna bhakti) aqui, o aspirante não tem nenhum outro propósito; ele vai em direção ao Brahma Supremo conduzido apenas por seu próprio espírito. Se lhe perguntam porque O ama e se consagra a Ele, responde então:

“Porque O amo? Não sei. Eu O amo tão somente porque gosto de amá-Lo. Eu não deveria amá-Lo? Ele é a Vida de minha vida a Alma de minha alma.”

DEVOÇÃO COMPLETA (kevala bhakti): se o aspirante percebe desde o início a permanência da devoção não qualificada, perguntas como “o que eu já consegui?”, “que pretendo atingir?” etc. não lhe surgem na mente. Isto é a culminação do bhakti. Se existe a indivisibilidade do conhecimento com o objeto, então, existe uma e apenas uma entidade, e é por isso que tal devoção é chamada kevala bhakti. Kevala bhakti não é conseguida através de banhos, exercícios ou esforços. Aqueles que não foram abençoados pelo menos um pouco , com a graça Divina, não podem realizá-la.

Ao falar em bhakti o uso de palavra bháva (ideação espiritual) é indispensável. O que significa bháva? Bháva é aquilo através de que o conteúdo da mente (citta) é purificado e dominado pelo princípio sutil (sattvik), brilhante com os raios de sol do amor. Como resultado de bháva o homem dirige suas forças atrativas naturais ao adorado. Mas, aqui, o adorado não está fora dele: o adorado é a Vida de sua vida, a Mente de sua mente e o Mestre vital de toda a sua existência. Quando este sentimento de devoção pelo adorado desperta a introversão de suas tendências, ele é absorvido por essa bháva. Ele alcança o estado de auto-realização.

Quando há medo ou qualquer outra propensão grosseira na mente, não pode haver bhakti pura. A devoção gerada através do medo não é, de forma alguma, bhakti, mas sim um lamentável estado de crueza mental.

Alguns por medo do inferno e outros por medo da tortura e retribuição na próxima vida oram ao Senhor e, em particular, anseiam por salvação. Isto revela falta de conhecimento da verdade. Não se deve estimular esse complexo de inferioridade. Os que aceitam ou conhecem o Senhor como seu próprio Eu, não tem razão alguma para nutrir medo Dele. Esse movimento sem temor em direção ao Senhor é chamado amor.

Quando a mente atinge a serenidade Suprema, e quando se desenvolve um sentimento de afeição por todos os seres vivos, os sábios chamam isso, amor. O amor não pode ser desenvolvido por qualquer coisa desprezível ou finita. O amor e paixão são tendências mutuamente antagônicas.

O apego por uma coisa finita é uma expressão de energia extrovertida, enquanto a atração pelo Infinito é uma expressão de energia introvertida. É por isso que ambos não podem nunca coexistir. O aspirante terá, portanto, que transformar, habilmente, paixão em amor. Você ama seu filho? Não, não, você não ama seu filho. Você ama Brahma na forma de seu filho. Amando seu filho como um filho, você não pode amar o Senhor. Onde há sentimento de filho, não há o Senhor, e onde há o Senhor, não há o filho. Onde você existe, Ele não existe, e onde Ele existe, você não existe.

Agora, essa sádhana que é a sádhana para a união completa, para a unificação, começa com amor temeroso. O amor tem que existir. A menos que haja amor não pode haver unificação.. Assim, o amor tem que existir, mas ele começa com amor temeroso e termina com amor intrépido e o espaço entre amor temeroso e o amor intrépido é o espaço de sádhana. O que é sádhana? Sádhana é a transformação do amor temeroso em amor intrépido.”

Há três níveis de devotos: inferiores, intermediários e superiores. Aqueles que não têm conhecimento nem fervor, são devotos inferiores. Aqueles que têm reverência, mas não têm o conhecimento das shástras (escritura, filosofia), são do tipo intermediário de devotos. Aqueles versados nas shástras, competentes nas práticas de sádhana e de mente firme, são os devotos de grau mais alto. Kevala bhakti é conseguida apenas pelo mais alto grau de devotos. Apenas eles alcançam a evolução infinita de suas almas.

Portanto, ó devotos, lembrem-se do nome do Senhor, do contrário todos os seus esforços se reduzirão a zero. Sob todas as circunstâncias e em meio a todas as atividades, estabeleça a si mesmo firmemente no Seu nome. O dharma da infância é estudar e praticar Brahma sádhana; o dharma da juventude é ganhar dinheiro e praticar Brahma sádhana e o dharma da velhice, quando você se torna incapacitado para todas as atividades físicas, é apenas praticar Brahma sádhana.

Os verdadeiros devotos amam o mundo, a sociedade e tudo a seu redor, porque vêem todas as manifestações da engenhosa Prakrti (Energia Cósmica), repletas do sentimento do Espírito Universal único. Eles amam o finito como parte do Universal. Amam os prazeres do mundo como bem aventurança divina diversificados pelo tempo, lugar e pessoa. Eles mantém suas mentes absortas nas correntes eternas do fluxo divino. Somente tais aspirantes devotados são os verdadeiros desfrutadores, e seu objeto de satisfação é o Brahma Supremo.

Os aspirantes de bhakti entregam tudo de si a seu Adorado. Todas as coisas objetivas estão dentro da mente, daí, se a própria mente é entregue a Brahma, tudo automaticamente também o é.

O universo é o Teu lar, a própria Suprema Prakrti (Energia Cósmica) é Tua consorte. Ó Senhor, Tu de nada necessitas. Ó Senhor, que posso eu oferecer-Te? Ah! Sim! Eu me lembro de uma coisa. Teus verdadeiros devotos arrebataram Tua mente. Tu necessitas de uma coisa – Tua mente está perdida. Ó Senhor,eu Te ofereço minha mente. Agracia-me com tua aceitação.”

Quando a profundidade devocional chega, o amor também transborda cheio de sentimentos elevados. Apenas nesse estágio ocorrerá a sua realização final da Consciência Suprema. Onde “eu” está, “Ele” não está...onde “Ele” está “eu” não está. Lembre-se a devoção é o pré-requisito da sádhana. A maturidade da devoção é o amor, e a maturidade do amor é Ele.”
A Graça de Bábá - Shrii Shrii Ánandamúrtijii

03/09/2009

JINÁNA, KARMA E BRAKTI - CONHECIMENTO, AÇÃO E DEVOÇÃO

Deve-se entrar em contato com o Pai Divino, alcançá-Lo, através de Jinána, Karma e Brakti. O que é Jinána? Jinána é o conhecimento espiritual e não o conhecimento mundano. O conhecimento mundano é um conhecimento distorcido. Não é conhecimento, absolutamente. O conhecimento espiritual é o verdadeiro conhecimento. Mas o que é conhecimento espiritual? A pessoa deve saber quem ela é e qual é o seu objetivo. Este é o conhecimento espiritual
Em seguida vem Karma. Karma significa ação. Se a pessoa sabe o que ela é, qual é sua aspiração, terá que se mover em direção à meta de sua vida. Este movimento, esta abordagem prática, esta ação é chamada Karma. E depois de karma, quando o indivíduo chega perto Dele deve unir-se a Ele, tornando-se um com Ele.


O Bhakti Yoga pode ser dividido em duas grandes categorias; uma é a devoção atributiva e a outra é a devoção não atributiva. Na devoção atributiva, há três estágios. O primeiro é a devoção estática. Nesta, o devoto diz:
“Ó meu Senhor, eu sou Teu devoto. O Sr. X é meu inimigo. Por favor, dá-lhe um fim”.
No caso da devoção estática, o devoto não quer estar com o Senhor. Ele quer que alguma coisa de ruim ou cruel seja feita a seu inimigo. Essa é a devoção do pior tipo. Como não era seu desejo se tornar um com o Pai, ele nunca irá estar unido com o Pai. Como o Pai Supremo também é o Pai Supremo daquele inimigo, Ele poderá ou não matá-lo. A devoção estática não é devoção.
Depois vem a devoção mutativa. Neste caso, o devoto diz ao Senhor:

“Eu sou Teu devoto. Por favor, dá-me dinheiro. Por favor, dá-me nome e fama.”

O menino quer apenas brinquedos de sua mãe. Se o menino começa a chorar, a mãe deve deixar seus afazeres para atender a criança. Mas, se a criança quer apenas os brinquedos, ela nunca terá a mãe. Aqui, também o sádhaka não expressou seu desejo de se tornar um com o Pai; assim ele não conseguirá a salvação. Ele não quer tornar-se um devoto. Yogui significa aquele que está finalmente unificado com o Eu Supremo. Também este tipo de devoto pediu coisas mundanas. Você sabe, as coisas mundanas são limitadas. O dinheiro pode ser muito, mas não é infinito. Assim, o Senhor pode satisfazer ou não seu desejo. Ele tem que cuidar dos interesses de tantos filhos! Ele tem tantos filhos.Ele não pode satisfazer seu desejo injusto. Portanto, esta devoção mutativa não é absolutamente devoção.
Agora vem o terceiro tipo de devoção atributiva, a devoção sutil. Neste caso, o devoto diz:
“Eu sou Teu devoto. Mas, Ó Senhor, sou um homem velho. Dá-me alguma coisa concreta. Eu quero a salvação. Sabes que estou enfastiado deste mundo. Meus órgãos digestivos se tornaram desordenados. Não posso comer. Por favor, dá-me paz”.
Esta é a devoção sutil, porque aqui, o aspirante, o devoto, não quer nada material. Esta é melhor do que devoção estática e mutativa, porque ele pede salvação ao Pai Supremo. Mas ele não quer o Pai Supremo. Portanto, ele não é um Yogui. Um Yogui tem que se unificar com o Pai. Um Yogui não pedirá brinquedo algum ao pai.
Em seguida, vem a devoção não atributiva. Na devoção não atributiva há duas fases. Uma é chamada rágánugá bhakti, a outra é chamada rágámiká. Na devoção rágánugá bhakti o devoto diz:
“Ó meu Senhor, eu Te amo, porque Te amando sinto prazer. Não quero nada de Ti. Eu quero amar-Te, porque sinto prazer”.
Esta é a devoção não atributiva, mas não é a forma mais elevada de devoção.
A forma mais elevada de devoção é chamada rágámiká. Em rágámiká o devoto diz:
“Ó Senhor, eu Te amo. Eu quero amar-Te. E porque quero amar-Te? Quero que meu amor Te dê prazer. Eu não quero nenhum prazer. Eu Te amo para não sentir prazer, mas para Te dar prazer”.
Esta é mais elevada forma de devoção. E por meio deste tipo de devoção, devoção rágámiká, o yogui entra no mais intimo contato com o Ser Supremo e se torna um com Ele. Quando o seu amor é para dar prazer ao Senhor e não para desfrutar prazer, sua mente fica subjetivada, Isto é, sua mente se torna metamorfoseada na mente do Senhor, e é por isso que esta devoção rágámiká é a única devoção. Através desta devoção o yogui se estabelece na posição de Beatitude Suprema. O homem e seu Deus se tornam um. Este é o único objetivo da vida humana - tornar-se Um com Ele.

“Conhecer si mesmo, é o verdadeiro conhecimento, servir a todos com ideação de Deus é a verdadeira ação e o voto de dar prazer ao Senhor é a verdadeira devoção".

Quando se chega perto do Pai Supremo, é preciso se dirigir ao Pai:

“Ó Pai, dá-me proteção em Teu colo abençoado, em Teu colo cheio de graça”.
Para dizer isto, têm que se estabelecer um relacionamento de fé implícita e do mais sincero amor ao Pai. Esta fé implícita juntamente com o zelo espiritual é chamada devoção. Assim, o conhecimento e a ação vão ajudá-lo a desenvolver devoção, mas sua unificação com o Ser Supremo se estabelece apenas com a ajuda da devoção. Onde há ação e conhecimento, mas há ausência de devoção, nada pode ser feito. Na vida de um aspirante espiritual, na vida de um yogui, nada pode ser feito se há ausência de devoção. Assim, vocês filhas, vocês filhos devem lembrar–se que terão que desenvolver devoção, devoção implícita juntamente com zelo espiritual. E essa devoção os ajudará. A devoção é a única faculdade que pode ajudá-los, que pode estabelecê-los na Beatitude Suprema.
A Graça de BáBá - Shrii Shrii Ánandamúrtijii

Quem sou eu ?