20/09/2011

O Advento de Mahásambhúti


          Eu vou narrar um shloka {dístico} do Shriimad Bhagavad Giitá:

Yadá yadá hi dharmasya glánirbhavati Bhárata;
bhyutthánamadharmasya tadátmánam srjámyáham.

[Ó Bhárata, no momento em que o dharma fica distorcido
e o adharma está em ascensão, Eu crio a mim mesmo
a partir dos meus próprios fatores fundamentais.]

Qual é o significado de yadá yadá? Qual é o significado de yadá? Yadá significa “no momento apropriado”, “no momento mais oportuno”. O que é o momento apropriado? O que é o momento mais oportuno? Vocês sabe, para a realização de toda e cada tarefa, para a realização de todo e cada dever, existe um período melhor, e este é o momento mais oportuno. Existe uma hora específica para o plantio de mudas de arroz, e uma hora específica para a colheita. E essa hora, ou essas horas, são os momentos mais oportunos para essas tarefas específicas.
Aqui o Senhor diz:

Yadá yadá hi dharmasya glánirbhavati Bhárata;
bhyutthánamadharmasya tadátmánam srjámyáham.
                     
Ele diz que “Sempre que houver degradação do dharma e desenvolvimento do adharma, o domínio de adharma, o governo de adharma, então, nesse momento em especial, Eu recrio a Mim mesmo.”
Agora, qual é o momento apropriado, qual é o momento mais oportuno? Como vocês sabem, nada neste nosso universo – nenhuma força, nenhuma expressão, nenhuma manifestação – se move em linha reta. O movimento sempre é pulsativo; o movimento sempre é de natureza sistáltica, com pausas e recomeços. Tem de haver um estágio de pausa, e também outro estágio que vem logo após o estágio de pausa: um estágio de movimento. Em todo e cada âmbito de nosso movimento individual e coletivo, todas as impurezas, todos os elementos degradantes, todas as sujeiras, acumulam-se na fase de pausa; e elas são destruídas na fase do movimento.

Na nossa vida coletiva, existem similarmente pequenas pausas e pequenos períodos de velocidade. Mas, na nossa vida coletiva, às vezes depois um longo período, após um longo período de milhares de anos, ou de milhões de anos, surge um certo tipo especial de pausa e de velocidade. Geralmente as pausas e velocidades que encontramos, e as sujeiras acumuladas com que nos deparamos na fase de pausa, são apropriadamente removidas, e a velocidade apropriada é dada à sociedade pelas grandes pessoas da sociedade, pelas grandes personalidades. Na nossa filosofia, eu usei a palavra sadvipra para tais grandes personalidades. Mas após um longo período, quando vem essa fase de pausa, e acumulam-se sujeiras em demasia, acumulam-se impurezas em demasia, torna-se difícil para os sadvipras darem conta do problema. Vai além da capacidade deles resolver o problema. Sob tais circunstâncias, requer-se o serviço de uma personalidade ainda maior. E justamente para dar a dose apropriada de remédio para essa sociedade – essa sociedade que tornou-se como uma poça de água parada –, Parama Purusa1 diz nesse shloka: “Eu venho.” Quando?

Yadá yadá hi dharmasya glánirbhavati Bhárata.

[“Ó Bhárata, quando o dharma estiver distorcido e adharma estiver em ascensão”.]

Dirigindo-se a Arjuna, Ele diz “Bhárata”. “Bhárata” aqui quer dizer Arjuna. A palavra bhárata vem de duas raízes verbais do sânscrito: bhr e ta. Bhr significa “alimentar”, bharana. Ta significa “expandir”, “desenvolver”. Bhr + al = bhara, que significa “entidade que alimenta”. E tan + d a = ta. Ta significa uma “entidade expansiva” que ajuda você na sua expansão todo-abrangente. Então, bharata significa “entidade que alimenta você e que lhe ajuda em seu desenvolvimento todo-abrangente”. Bha, ra, ta. E bharata mais sna, bhárata, significa “referente a bharata”.
Esta nossa terra [a Índia] é conhecida como Bháratavarsa. Em sânscrito, a palavra varsa tem três significações: Um significado de varsa é estação chuvosa; outro significado de varsa é “ano”. 1979 é uma varsa. E o terceiro significado de varsa é um desha [país] que pode ser identificado, que pode ser propriamente mostrado ou apontado. Este é o significado em “Bháratavarsa”. “Bháratavarsa” é “o país que alimenta você e que também lhe ajuda em seu desenvolvimento todo-abrangente”.
Aqui, “Bhárata” significa um rei. Arjuna era um rei. Então ele é “Bhárata”, porque era dever dele alimentar o seu povo e ajudar o seu povo em seu desenvolvimento todo-abrangente. Ao dirigir-se a Bhárata, ao dirigir-se ao representante, o Senhor Krsna diz que: “Sempre que houver degradação do dharma e sempre que adharma ficar proeminente, tornar-se o fator dominante, e sob tais circunstâncias tornar-se difícil para os sadvipras, para as personalidades desenvolvidas, enfrentarem a situação, e sob tais circunstâncias Eu não tive outra alternativa que vir até aqui – tadátmánam srjámyáham – ‘sob tais circunstâncias Eu crio a mim mesmo’ ”.

Agora, o que é dharma? Krsna diz: “Sempre que houver degradação do dharma, depravação do dharma, degeneração do dharma...” Então primeiro temos que saber o que é dharma. Existem palavras sinônimas em sânscrito: dhrti, dháranam, dháraná and dharma. Dhrti (dhr + ktin = dhrtisignifica “que sustenta um objeto”, ou seja: “sustentáculo”, “entidade que sustenta”. Todas as atividades de vocês, todas as suas manifestações físicas ou psíquicas, são mantidas ou controladas pelo dharma, são controladas por uma qualidade específica, por uma característica específica; e essa qualidade específica, esse atributo específico, é conhecido como dharma. Para os animais, existe um certo dharma. Para os seres humanos existe um certo dharma. E toda e cada entidade terá de se ater aos códigos do dharma, ao seu próprio código de dharma. E sob nenhuma circunstância um ser humano ou um ser vivo ou um ser inanimado deveriam desviar-se do caminho do dharma2.

Shreyán svadharmo vigun'ah paradharmát svanusthitát;
Svadharme nidhanam' shreyah paradharmo bhayávahah.

[É melhor seguir o seu próprio dharma humano, mesmo
que lhe faltem algumas qualidades, do que seguir
os dharmas de outros seres. É melhor morrer como
ser humano do que viver como um animal.]

Um ser humano deveria morrer como ser humano, e não encorajar as propensidades da animalidade.”

Svadharme nidhanam shreyah  
“É melhor morrer como ser humano do que viver como um animal”.

Paradharmo bhayávahah
  Paradharma significa “Aquilo que não é o dharma dos seres humanos3.


Shrii Shrii Anandamurti
18 de Fevereiro de 1979, Bangalore-Índia

1 Nota do Tradutor (N.T.): Isto é, a “Consciência Suprema”
2 N.T.: Em geral, no caso de outros seres que não os humanos, a questão de não seguir o dharma não se coloca; o surgimento do chamado livre arbítrio está em geral associado com os seres humanos.
3 Nota do Tradutor da versão em inglês (N.T.i.): A segunda metade deste discurso, a qual tem menos relevância para os assuntos de Krsna e a Giitá, aparece como “The Ten Characteristics of Dharma” em Ánanda Vacanámrtam Part 8.

Título original:
The Advent of Mahásambhúti
Publicado em:
(ainda não publicados em português)
Ánanda Vacanámrtam Part 8
Discourses on Krsna and the Giitá [uma compilação]
Tradução, revisão e notas:
Mahesh (Florianópolis)
Traduzido em 11 de setembro de 2009; 7-8 de outubro de 2010.
Revisão:
Mahesh (Florianópolis) e Ramesh (Rio Branco/AC)

KIIRTAN-Babanam Kevalam

17/09/2011

Akhanda kiirtan. Siddha Mantra

EDUCAÇÃO E NEO-HUMANISMO

        Vocês sabem, a natureza de todos os seres vivos é buscar a expansão na esfera física, e, para isso, ou melhor, devido a essa característica  — que não passa de uma característica entre outras — eles exploram os outros, eles esquecem os interesses dos outros seres vivos. Eu afirmei que esta é uma natureza comum a todos os seres vivos, tanto os seres humanos como os animais. No caso dos seres humanos, existe um outro hábito, outro instinto inato, que simplesmente é o de se expandir na esfera psíquica. Assim, ao contrário dos outros animais, os seres humanos possuem uma capacidade que é a de dirigir os seus anseios físicos para os espirituais, para as aspirações espirituais. Os outros animais não possuem isso. Porém, devido a esse hábito psíquico, eles exploram os outros, tanto no nível psíquico quanto no nível físico, e esta exploração no nível psíquico é mais perigosa do que no nível físico.

            Portanto, para que não haja nenhuma extravagância intelectual ou nenhuma subjugação física, os seres humanos necessitam de um treinamento apropriado, tanto fisicamente quanto mentalmente. E isto é o que é chamado de educação – o treinamento apropriado da existência física e também do mundo psíquico. Se não houver treinamento na ocasião certa, não haverá nenhuma coordenação, nenhum ajuste entre o ser interno e o ser externo. Algumas vezes, as pessoas são muito sinceras no que dizem, mas não existe nenhum pouco de sinceridade no seu íntimo, no seu mundo interior. E isto é o que acontece no mundo moderno. A existência tanto individual como coletiva se tornou unilateral, isto é, perdeu o seu equilíbrio. Devido a isso, o que mais precisamos é de um sistema apropriado de educação.
            Apenas para demonstrar sinceridade em seus objetivos ou o quanto são desenvolvidas, algumas pessoas, às vezes, falam sobre desarmamento. Elas dizem: deve haver uma parada, um controle sobre a fabricação de armamentos, sobre as armas letais. Elas dizem isto da boca para fora. Elas expressam essa idéia apenas para manter os outros sob sua servidão no plano físico, mas internamente permanecem prontas para produzir armas piores ou mais letais. Isto não passa de um tipo de brutalidade estúpida. Certa pessoa, que foi líder, disse: “Mantenham as expectativas de paz, mas conservem também as armas prontas.” É isso o que acontece hoje em dia. Podemos dizer que este anseio material, ou melhor, esta ansiedade pelo mundo físico dever ser dirigida para os anseios psíquicos. Porém, não será o suficiente dirigi-la para os anseios psíquicos através de uma educação mundana apropriada. Neste caso, ainda permanecerá o medo da subjugação psíquica. Portanto, o remédio está em outra esfera.
            Sim, eles devem ser guiados pelos sentimentos humanos, pelas idéias humanas. Sem dúvida será bom que os sentimentos humanos atuem no controle moral dessa disputa bélica, mas isso não será a última palavra; os sentimentos humanos não podem controlar a luta interna, o tipo de luta que prevalece entre os seres humanos. Para isso devemos ter um enfoque com duas variantes. O que deve ser feito para treinar essa mente turbulenta? A primeira coisa é prover educação apropriada. As pessoas devem receber uma educação específica. Não uma educação genérica, mas uma educação sobre as verdades, sobre as idéias do neo-humanismo. Isto ajudará os seres humanos a treinarem suas mentes. E, ao mesmo tempo, a prática espiritual deve continuar, para promover a remodelação psíquica adequada. Isto é o que mais necessitamos. Não há outra alternativa.

P.R.Sarkar(Calcutá, 25/05/1985)

07/09/2011

Princípios da Educação Neo-Humanista


Quando o espírito inerente ao humanismo é estendido a tudo, animado e inanimado, neste universo – eu chamei a isto Neo-Humanismo. Este Neo-Humanismo vai elevar o humanismo a universalismo: amor por todos os seres criados deste universo”.            P.R. Sarkar

A filosofia da educação reconhece, sobretudo a importância da aprendizagem do repeito e do amor. Isto se chama Neo-Humanimo. O Neo-Humanismo expande a filosofia implícita no humanismo para abranger com amor toda a criação e compreender a inter-relação de todas as coisas.


As crianças são estimuladas para que aprofundem e estendam sua preocupação não somente para o bem estar dos seres humanos, mas também para de outros seres vivos, por exemplo as plantas e os animais.As crianças veêm o universo como um todo integrado com todos os fenômenos correlacionados e interdependentes.
A educação Neo-Humanista baseia-se em 10 princípios que norteiam todo trabalho:
1.Despertar a sede pelo conhecimento e o desenvolvimento de toda a personalidade humana:
A Educação Neo-Humanista se baseia na premissa de que as crianças possuem um desejo inato de aprender a desenvolver-se. O objetivo é despertar a sede de conhecimento que se encontra no interior delas. Reconhece que existe em cada criança uma gama enorme de potencialidades e crê que ela pode esforçar-se para alcançar algo de grandioso.
A educação Neo-Humanista facilita o desenvolvimento de todos os níveis da personalidade humana: físico mental e espiritual. Reconhece que cada criança evolui em seu própro rítmo, e procura satisfazer suas necessidades individuais.
2. A educação baseada na ética:
A ética é a essência do desenvolvimento moral da criança.Os valores morais são a base de indivíduo equilibrado e de uma sociedade harmoniosa. O Neo-Humanismo tem 10 conceitos éticos universais que são permanentemente incentivados:
- Não cometer danos;
- Veracidade;
- Não roubar;
- Amor Universal;
- Vida simples;
- Limpeza;
- Coração contente;
- Solidariedade;
- Leitura inspiradora;
- Meditação e auto-aperfeiçoamento.
3. O despertar da consciência espiritual:
O processo de aprendizagem se enraíza na convicção de que o Universo é um todo integrado, dentro do qual se concebem as coisas. Isto fomenta um profundo sentimento de conecção consigo mesmo,e com os demais.Criando uma mudança de postura de vida mecânica e materialista para a totalidade e interdependência.
A apreciação espiritual significa um compromisso de cuidar toda a criação e de estimulr o desejo inato de saber "quem sou e qual é meu destino".
4. Enfoque integrador da aprendizagem
Em lugar de dividir o conhecimento em disciplinas acadêmicas separadas, a educação Neo-humanista estimula a multidisciplinariedade. Educação significa muito mais do que acumulação de dados, é a experiência viva do mundo como uma totalidade dinâmica e interrelacionada.
5. Cultivo da estética em todas as disciplinas:
Na educação Neo-humanista a apreciação e a experiência estética se difundem em todos os aspectos da aprendizagem. O currículo inclui a exploração organizada para desenvolver a imaginação criativa. A sutil expressão de beleza na música, arte, literatura e outros eleva a vida humana e nutre uma consciência maior.
6. Valorização da cultura própria e a de outros lugares:
O Neo-humanismo reconhece a importância da cultura na formação da cidadania de uma pessoa .Enfatiza o ensino da língua e as tradições locais, mas também reconhece a beleza e a importância de todas as culturas. As crianças aprendem a valorizar as semelhanças e diversidades culturais.
7. Uma nova consciência do meio ambiente:
A educação ambiental desenvolve as habilidades e valores necessários para a administração responsável dos recuros do nosso planeta. Desta forma ajuda as crianças a desenvolverem uma íntima e viva relação com a rede viva que os rodeia.
8. O educador como exemplo
O papel do educador é de suma importância. Já que o ensino pelo exemplo é primordial, os professores devem personificar as qualidades mais nobres da humanidade.
9. O espírito de serviço
A educação Neo-humanista não considera a educação como passaporte ao prestígio, ao previlégio, mas como uma responsabilidade de servir aos demais. A arte, ciência e o conhecimento estão dedicados ao serviço e ao bem estar de todos.
10. Expansão da consciência e sentido de justiça:
A educação Neo-humanista estimula a participação ativa nas mudanças sociais positivas. Os estudantes necessitam desenvolver uma consciência social e um sentido de justiça, para dessa forma discernir as estratégias de manipulação e os sentimentos discriminatórios que causam sofrimento a todos os seres.
 "O professor deve possuir qualidades tais como: força de caráter, retidão, espírito de serviço social, uma personalidade inspiradora, desinteresse e habilidades de liderança".                
                                                                                                              (P.R.Sarkar)
       Texto fundamentado nos ensinamentos de P.R.Sarkar

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