16/04/2013

Lutando a Todo e Cada Passo


Shrii Shrii Anandamurti
(discurso gravado em data e local desconhecidos)
 Na sessão anterior, enquanto eu estava explicando o significado básico da palavra “Bhárata” [1], eu disse que a raiz verbal tan significa “expandir”. Agora, a abordagem prática, ou seja, o esforço espiritual de fato, a prática espiritual de fato, é chamada de Tantra. Aqui também a raiz verbal é tanTan significa “expandir”, e tra significa “libertador”. O culto [2] que libera o aspirante espiritual, ajudando-o na expansão da sua mente e do seu espírito, é Tantra: “liberação através da expansão”. Ao menos e até que a mente torne-se grande, uma pessoa não conseguirá obter a liberação, ela não conseguirá alcançar a salvação espiritual. É por isso que o culto espiritual é chamado de Tantra.
Agora, essa expansão – essa expansão da mente, expansão de idéias, expansão do espírito humano – é a [3] única sádhaná.[4] E quando um sádhaka, um aspirante espiritual, tenta alargar sua mente, é natural que forças degradantes tornem-se muito ativas. As forças depravadoras, as forças degradantes, ficam muito ativas, e o sádhaka tem que alargar a sua mente lutando a cada passo, em toda e cada etapa da vida. Na mente dele estarão essas duas forças inimigas – quer dizer: a força espiritual e a força material degradante [5] irão começar a lutar uma contra a outra dentro da mente. Também na vida familiar, [...] na vida social, na vida nacional, em todo e cada âmbito da vida, haverá luta. Ou seja: essas duas forças inimigas fundamentais irão ficar ativas. Uma força tentará elevar você em direção ao Eu Supremo, e a outra força vai querer te degradar, te guiar em direção ao materialismo grosseiro.
Agora, um tântrico, um sádhaka, é chamado de soldado. [Sádhanásamara] [“a batalha da sádhaná”]. Samara significa “guerra”, “batalha”, “luta”. O sádhakaestá metido na luta. Ela [essa luta] é para as pessoas destemidas, para as pessoas corajosas. Sádhanásamara. E esse culto é o culto do Tantra. A pessoa que quer se manter longe da luta está, sem se dar conta, cometendo suicídio – suicídio mental e espiritual. Toda e cada pessoa deveria estar preparada para a luta – luta no âmbito mental, luta no âmbito familiar, luta em todo e cada âmbito da vida. Isto é Tantra.
Agora, no reino da espiritualidade, existe pouco espaço para teóricos. Ele é 99% prático. Sádhaka significa uma pessoa prática. Sádhaná é um culto, não uma teoria. Agora, o que é esse culto? Agora, esse culto é o do movimento subjetivo através do ajustamento objetivo. Vemos aqui, com relação aos indriyasde vocês – quer dizer, os órgãos sensores e motores –, que este mundo é o objeto e eles são os sujeitos. Mas quando se considera a relação entre osindriyas e a citta [a mente objetiva, a substância mental], os indriyas são os objetos e citta é o sujeito. E quando se considera a relação entre citta e [...] o ego, ou ahamcitta é o objeto e aham é o sujeito. Agora, no caso de aham e mahat (aham significa o “eu” agente {que faz ou realiza ações} e mahatsignifica o “eu” puro, “eu existo”), aham é o objeto e mahat – “eu sou”, “eu existo”, aham asmi – é o sujeito. E no caso deste “eu” puro e do átman [alma], este “eu” – “eu existo”, “eu sou” – é o objeto e átman é o sujeito.
“Eu existo”: este sentimento encontra-se dentro de todo e cada ser vivo. Em cada ser há um “eu existo” – “Eu sou Narayanaswami, eu sou de Salem, eu existo.” Então, esse “eu”, esse “eu” de “eu existo”, é mahat. E vocês sabem – vocês sabem – que existe um sentimento de “eu existo” em vocês. E eu sei que existe um sentimento de “eu existo” em mim. Esse “eu sei” – o “eu” de “eu sei” – é o átman. O “eu” de “eu sei” é o átman, e “eu” de “eu existo”, é mahat, o mahattattva, o “eu” mental puro, o “eu” mental supremo, a parte mais sutil da mente. Mas “eu sei que eu existo” – o “eu” de “eu sei” – é o átman. Ele não é da mente, ele é o conhecedor da mente, o conhecedor – de quê? Do sentimento de que “eu existo”. Então o átman é o sujeito dentro da estrutura de vocês, dentro da sua existência. Dentro do reino do microcosmo, o átman é o sujeito, e todos os outros objetos ou são o objeto direto dele, ou os seus objetos indiretos.
Agora, considerando a relação do átman com Paramátman [6], o átman é objeto e Paramátman é o sujeito. Portanto, Paramátman é a Subjetividade Suprema. Ele é o Sujeito Supremo de todos os outros objetos. Ele é o múltiplo supremo de todas as outras multiplicidades manifestas. Como Ele é o supremo – em sânscrito, “supremo” é parama –, Ele é conhecido como Paramátmá. Ele é o Sujeito Supremo.
Eu disse: “O que é [esse] culto?” Ele é uma abordagem subjetiva – quer dizer: o movimento de vocês é em direção àquele Sujeito Supremo, não em direção ao conhecimento livresco. Não para auto-engrandecimento, mas para guiar a vocês mesmos no caminho da beatitude, em direção ao Sujeito Supremo. Portanto, a abordagem do culto é uma abordagem subjetiva. A abordagem de vocês é subjetiva. Mas enquanto estão se movendo em direção ao Sujeito Supremo, enquanto se movem em direção ao Ponto Final [7] das suas vidas, enquanto se movem em direção ao ponto culminante das suas vidas, vocês têm de atravessar o mundo das objetividades. Assim, tem de haver um equilíbrio em vocês, um balanço, uma equiparação entre abordagem subjetiva e ajustamento objetivo. Vocês têm que atravessar este mundo dos objetos mantendo um contato próximo e um equilíbrio [...] com este mundo objetivo; vocês não devem ignorar este mundo.
Vocês não devem ignorar este mundo; vocês não devem se iludir dizendo que todas as coisas são ilusórias, que não são coisa nenhuma. Não, elas não são coisa nenhuma; elas são alguma coisa. Quando vocês dizem essas palavras com ajuda da energia física, então essa energia física também é nada; e quando vocês dizem “Elas não são coisa nenhuma”, então essa frase também é coisa nenhuma.[8] Porque vocês estão falando com ajuda da energia. Mas [se] a energia é nada, [se] as cordas vocais são nada, [se] o som é nada, então a fala de vocês também é nada. Portanto, um sádhaka não deveria se iludir dizendo esse tipo de coisa. Um sádhaka não deveria se meter num esquema de auto-enganação. A abordagem dele deveria ser muito clara: uma abordagem subjetiva através de ajustamento objetivo. Então, esse é o caminho supremo. Esse é o caminho adequado. Esse é o caminho. Vocês não têm nada que ver com a extravagância intelectual de assim-chamados lógicos e filósofos.
 Yudhisthira disse:
 Shrutayo vibhinnáh smrtayo vibhinnáh naekamuniryasya mataḿ na bhinnam;
Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ mahájano yena gatah sa pantháh.
 [As escrituras divergem, os códigos sociais divergem; cada sábio tem uma opinião diferente. A essência do dharma [9] encontra-se nas profundezas da mente; o caminho percorrido por pessoas realizadas é o verdadeiro caminho.]
 “É o caminho.”
Ele disse: Shrut[ayo] vibhinnáh. O que é shrutiShruti significa “livro espiritual” – os Vedas. Por que “shruti”? Porque em tempos antigos os arianos que chegaram aqui na Índia vindos da Ásia Central eram analfabetos – eles não sabiam escrever. A linguagem deles, a linguagem védica, era uma língua falada, não uma língua escrita. Não havia escrita [naquela época]. [...] A linguagem védica não tinha escrita. Quando eles chegaram aqui eles aprenderam a escrever. [...] E por fim muitas e muitas escritas indianas foram desenvolvidas. [...]
Aqueles que compuseram os hinos védicos eram chamados de rśis. O que quer que os rśis dissessem, os discípulos, os estudantes, aprendiam de ouvido. O ouvido era chamado de shruti em sânscrito. É por isso que os Vedas são conhecidos como shruti.
Agora, shrut[ayo] vibhinnáh. Yudhisthira, o sábio Yudhisthira, disse: Shrut[ayo] vibhinnáh – “Esses shrutis – o Rgveda, o Yajurveda, o Atharvaveda e tantas e tantas outras escrituras espirituais – divergem entre si, divergem umas das outras.” [10] Elas divergem umas das outras. A pessoa comum deve seguir – a quem? A quem seguir?
Shrut[ayo] vibhinnáh smrtayo vibhinnáhSmrti significa “código social”. Shruti significa “código espiritual” e smrti significa “código social”. Então, os códigos sociais também têm diferenças entre si. Em tempos antigos existia o Vyása Saḿhitá.[11] Existia o Nárada Saḿhitá. Existia o Manu Saḿhitá. No Manu Saḿhitá existem duas escolas principais: Dáyabhága e Mitákśará – Dáyabhága para Bengala, Mitákśará para o resto da Índia. [...] Em alguns lugares existe a ordem patrilinear – quer dizer, a propriedade do pai será herdada pelo filho – e em alguns lugares existe a ordem matrilinear. [...] Em alguns lugares existe uma mistura das ordens patrilinear [...] e matrilinear. [...] E em alguns lugares existe uma fusão das ordens patrilinear e matrilinear. [...] Portanto, os códigos sociais variam entre si. A quem seguir? Até mesmo em Mitákśará existem cinco ou seis escolas [12] – pelo menos cinco escolas. A quem seguir?Smrtayo vibhinnáh. [...] A quem seguir?
Naekamuniryasya mataḿ na bhinnam – “e todo e cada muni difere dos demais munis.” Muni significa “intelectual”. No reino da sádhaná espiritual, Na munirdughdabálakah munih saḿliinamánasah [“Um muni não é uma criança pequena no peito da sua mãe – um muni é alguém que fundiu a sua mente (no Supremo)”]. Se um certo homem diz “Eu sou um muni”, ele não é um muniMuni significa “aquele que estabeleceu sua personalidade, que estabeleceu o seu tudo, no patamar supremo.” Quer dizer, aquele que se fundiu no Supremo Puruśa é um muniMunih saḿliinamánasah – “Aquele que fundiu sua mente no Supremo Puruśa é um muni.” Naekamuniryasya mataḿ na bhinnam.
Então, a quem seguir? O que as pessoas comuns devem fazer? O que os aspirantes espirituais devem fazer? A quem seguir? Esse é um problema muito difícil.
Então, Yudhisthira diz: Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ – “O espírito do dharma, a essência do dharma” – [nihitaḿ] – “está oculta em” – nihitaḿ guháyáḿ. Em sânscrito, a palavra guhá tem dois sentidos, dois significados.[13] Um é “caverna” – cavernas dos Himalayas nas quais os rśis costumavam sentar-se em meditação. Outro significado de guhá, que eu acabei de mencionar, é mahatattva, “eu existo”, “eu sou”. Esse sentimento de “eu sou” é chamado de guhá. Então, [Yudhisthira] diz: “A essência do dharma, o espírito supremo do dharma, está escondido no seu próprio sentimento de ‘eu’ ”. Vocês não precisam ir até as cavernas dos Himalayas e para tantos e tantos tiirthas [lugares de peregrinação] à procura do próprio espírito interno de vocês. Ele está escondido dentro de vocês. O coração de vocês é o melhor tiirtha. Ele é o supremo tiirtha. O Senhor Shiva disse:
Idaḿ tiirtham idaḿ tiirthaḿ bhramanti támasáh janáh;
Átmatiirthaḿ na jánanti kathaḿ mokśa varánane.
[Aqui está um lugar de peregrinação, ali está outro. Pessoas de natureza estática vagueiam de um lugar para outro. Mas sem encontrarem o verdadeiro local de peregrinação dentro de si mesmas, como é que elas alcançarão a salvação?]
“Ó Párvatii! As pessoas, os aspirantes espirituais, movem-se em busca de Deus para tantos e tantos tiirthas, mas elas não sabem do tiirtha interno [14] no qual o Senhor está escondido.” Portanto, Dharmasya tattvaḿ nihitaḿ guháyáḿ – “A essência do dharma está escondida no seu sentimento de ‘eu’ dentro de vocês.”
mahájano yena gatah sa pantháh [“o caminho percorrido por pessoas realizadas é o verdadeiro caminho”]. Mahájana significa uma pessoa prática – quer dizer, não é um teórico mas alguém que realmente tentou materializar, ou melhor, que materializou o conhecimento em ação.[15] Tais pessoas são chamadas de mahájanas. Um sádhaka, um aspirante espiritual, não deve tentar entrar em contato com teóricos, não deve tentar seguir teóricos. Ele deve tentar seguir pessoas práticas, ele deve seguir os mahájanas que experimentaram o Eu supremo, o patamar supremo, em suas vidas práticas. Vocês devem ser pessoas práticas, e vocês devem seguir os aspirantes práticos.
Vocês devem seguir os mahájanas e [...] esses mahájanas são a vanguarda da espiritualidade, eles são os pioneiros da espiritualidade. Vocês têm que se mover ao longo do caminho deles. Esse caminho é a abordagem subjetiva. Nessa abordagem, enquanto estão movendo-se ao longo do caminho da subjetividade suprema, vocês não devem ser negligentes com o mundo. Vocês devem servir a todo e cada objeto do universo atribuindo a condição deNáráyańa [16] aos mesmos. Vocês encontram-se em meio a tantas e tantas diminutas expressões de Náráyańa. Toda e cada expressão é Náráyańa em uma forma particular, é Náráyańa em um formato particular, é Náráyańa em um estilo particular. Vocês devem serví-las, e esse serviço a Náráyańa em forma humana é o ajustamento objetivo de vocês; e o movimento de vocês em direção ao Supremo Puruśa Não-atribuicional [17] é a abordagem subjetiva de vocês.
 *      *      *
Título Original: “Fighting at Each and Every Step”
Fonte: Edição Eletrônica das Obras de P. R. Sarkar – versão 7.5 (em inglês).
Publicado em: Ánanda Vacanámrtam Part 34 (Obra ainda não publicada no Brasil.)
Tradução e Notas: Mahesh – Florianópolis(novembro de 2012; abril de 2013)


[1] Nota dos Editores (N.E.): Um nome popular da Índia; também um nome de Krśńa enquanto rei da Índia.
[2] Nota do Tradutor (N.T.): Culto significa aqui “um processo psíquico prático”.
[3] N.T.: Este discurso foi gravado em fita cassete e o texto em inglês é resultado da transcrição da gravação em fita. Neste ponto, como em diversas outras partes do texto, uma ou mais palavras, e em alguns pontos até mesmo séries de frases inteiras, encontram-se inaudíveis na gravação. Como essas lacunas parecem não ter sido extensas a ponto de prejudicar o sentido geral do discurso, e para poupar os leitores dessas notas em particular, vamos nesta versão em português omitir as notas dos editores da versão inglês indicando o local e extensão dos trechos inaudíveis. No ponto do texto em que estavam situadas a numeração dessas notas vamos colocar a marca “[...]”, mas serão mantidas as notas que têm maior relevância para o conteúdo do texto.
[4] N.T.: Sádhaná significa, neste contexto, o processo de percorrer ou completar o caminho espiritual; de atingir a realização espiritual. Portanto, significa “prática espiritual”.
[5] N.T.: Essas forças são também denominadas pelo autor de Vidyámáyá e Avidyámáyá, respectivamente, significando a força da introversão e a da extroversão. Elas são “inimigas”, estão em oposição, mas não são essencialmente diferentes, pois são ambas diferentes expressões dePrakrti, ou de Máyá, o Princípio Operativo.
[6] N.T.: Paramátman significa a “Alma Suprema”.
[7] N.T.: “Ponto Final” é uma tradução para o termo que o autor usa em latim, Terminus.
[8] N.T.: O autor está sugerindo uma posição filosófica tal como a defendida pelo filósofo Shankaracarya na sua doutrina de Máyáváda (Doutrina da Ilusão), cuja principal proposição, segundo o autor, é:
Brahma satyaḿ jaganmithyá jiivah Brahmaeva náparah – “Somente Brahma é real; jagat [a criação, ou o universo] é falso ou ilusório; todos os jiivas [seres unitários] não são nada mais que Brahma.” [Fonte: “Vraja Krsna and Vishuddha Advaetavada – 1 (Discourse 10)”. Namámi Krśńasundaram.]
É de se salientar aqui que o termo Brahma é usado em sentido bastante diferente do que o usado pelo autor: como um equivalente ou sinônimo do termo Shúnya, conforme usado pela doutrina Shúnyaváda, uma linha filosófica do budismo Maháyána a qual, segundo o autor, “era um tipo de nihilismo”. Ainda conforme o autor, súnya significa literalmente “zero” e designaria também um estado de vacuidade mental ou ainda, conforme certa interpretação, “uma representação simbólica da ausência de quaisquer conceitos”. [Fonte: “Káliká to Káliuṋga (Discourse 24)”. Shabda Cayaniká Part 4.]
[9] N.T.: Dharma significa a essência ou característica básica, aquilo que sustenta a existência de uma entidade. Nesta citação, a referência é ao dharma humano, que tem como sua meta suprema alcançar a realização suprema ou espiritual.
[10] N.E.: Diversas frases aqui, ainda que não estejam plenamente audíveis, claramente dão exemplos de discrepâncias entre as escrituras.
[11] N.E.: Parte da frase seguinte estava inaudível na fita. As palavras “...épocas [times, no original]... Parasara Saḿhitá” podem ser reconhecidas.
[12] N.E.: Uma frase aqui, ainda que não completamente audível, claramente é uma lista das diferentes escolas.
[13] N.E.: Outro significado aqui estava inaudível na fita. (N.T.: Mas é retomado pelo autor logo a seguir.)
[14] N.T.: O autor fala, em inglês, de “I-tiirtha”, que se poderia traduzir literalmente como “eu-tiirtha”.
[15] Uma frase aqui, ainda que não completamente audível, parece dizer que essa materialização do conhecimento em ação não deveria ser entendida como significando poder oculto.
[16] N.T.1: O termo Náráyańa significa a Entidade Suprema. Conforme o autor:
A palavra “Náráyańa” vem do sânscrito. É uma palavra composta: nára + ayanan. Em sânscrito a palavra “nára” tem três significados. Um dos significados de nára é “niira”, “água”; outro significado é Paramá Prakrti [o Princípio Operativo Cósmico]; e o terceiro significado é “devoção” (bhakti). [...] E “ayana” significa ashraya [abrigo]. [...]  Náráyańa significa o ayana de nára, o ayana do Princípio Operativo, o ayana de Paramá Prakrti. Quem é o ayana, o abrigo de NáraParama Puruśa [Consciência Cósmica] é o abrigo deParamá Prakrti. Portanto, Náráyańa significa Parama Puruśa – a  Consciência Cósmica, a Faculdade Cognitiva. [Fonte: “Interpretation of “Ráma” and “Náráyańa”. Ánanda Vacanámrtam Part 2.]
N.T.2: No original em inglês a expressão é “Náráyańa-hood”, que se poderia traduzir ainda como a qualidade, propriedade ou característica deNáráyańa, ou ainda como Náráyańa-lidade – ou talvez com uma formação mais correta, como “Náráyańidade”. Ou seja, no sentido de que todos os objetos são, em essência, Náráyańa ou Consciência Suprema – ainda que pareçam não ser na medida em que a diversidade de objetos deriva de a Faculdade Cognitiva nos mesmos estar sujeita aos atributos de Prakrti. Entretanto, trata-se de uma abordagem psicológica – em realidade, de uma prática espiritual – em que a pessoa busca lidar e entrar em contato com a essência comum a todos os objetos, em vez de lidar com a aparente e costumeira diversidade que se associa ou atribui aos mesmos, o que implicaria reforçar a percepção dessa diversidade em vez do contato com a unidade subjacente à mesma.
[17] N.T.: Na filosofia do autor, o universo criado é resultado da interação do Princípio Operativo (Prakrti) e da Faculdade ou Princípio Cognitivo (Puruśa – a Consciência). Assim, todas as entidades criadas são basicamente constituídas de consciência qualificada ou limitada pelos três princípios qualificadores ou atributos que coletivamente são chamados de Prakrti. Entretanto, afora uma porção da Consciência Cósmica que é assim qualificada, o todo permanece livre da influência do Princípio Operativo; é a essa entidade transcendental que o autor se refere com “Puruśa Não-atribuicional”.
Em consonância com a explicação do autor sobre o termo Náráyańa (vide nota anterior), entende-se que Prakrti (i.e, Nára), apesar de qualificar ou submeter parte da consciência a seus atributos, em verdade está “abrigada” na própria Consciência Cósmica – ou seja, é parte dela e antes de começar a qualificar a consciência não tem influência sobre ela: os atributos de Prakrti estão subordinados à Consciência Cósmica Não-atribuicional.

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