05/12/2013

DEFEITOS DO COMUNISMO

Algumas pessoas dão palestras eloqüentes sobre economia e filosofia e convencem outros de que suas idéias e teorias garantem a independência econômica e podem uní-las. Elas consideram apenas a utilidade que os outros têm; não se importando de lhes dar qualquer incentivo, inspiração ou estímulo ao trabalho e de reconhecer o valor especial da eficiência individual. Quando dão palestras superficiais e professam slogans vazios, elas, na verdade, de forma subreptícia, estão criando desagregação artificial entre os seres humanos. Quando surge mesmo um pequeno ataque a estes sentimentos de desunião, eles se defendem e afirmam que estão envolvidos em questões políticas, as quais não podem ser caracterizadas como crimes sociais, e que não podem ser penalizados.

Muitas pessoas adotam cegamente dogmas de famosas religiões. Uma religião é uma coletânea de “ismos”, e um “ismo” é uma coletânea de dogmas. (Na linguagem comum, religião é equivalente ao termo sânscrito dharma, porém, em linguagem filosófica, “religião” e dharma não são a mesma coisa). A religião que define idéias abstratas relacionadas à consciência unitária, à Consciência Suprema e ao mundo manifesto não é o único tipo de religião. Também, há alguns “ismos” baseados em vários tipos de dogmas que soam e funcionam como a religião da esfera sócio-econômica. Como certas religiões que, com freqüência, orientam incorretamente seres humanos, incitando-os ao conflito comunitário, também esses “ismos” específicos causam a degeneração da raça humana ao nível da animalidade, em nome da luta de classes.

As pessoas que seguem uma mesma religião podem se dividir em vários grupos e subgrupos. Por exemplo, o jainismo tem as seitas Shveta’mbar, Digambar e Thera’panthii. Entre os budistas há as seitas Maha’ya’nii, Hiinaya’nii, La’ma’va’dii, Sthavirva’da, Sammitiiya etc. Da mesma forma, no que diz respeito à religião sócio-econômica, pode-se notar que um determinado partido político ou econômico se fragmenta em diversas tendências, devido a pequenas diferenças de opinião.

Isto já aconteceu, está acontecendo agora e continuará a acontecer no futuro. Portanto, devemos compreender esse fenômeno claramente. Da mesma forma que o mundo hoje padece sob intensa opressão das religiões, também ele se desintegra diante da ameaça alarmante da religião sócio-econômica.

Os seres humanos civilizados e que amam a paz devem encontrar uma forma de se proteger desses problemas. Eles devem agir. No caminho da moralidade, os seres humanos seguirão rumo à liberação, com perseverança e racionalidade. Não há outra possibilidade.

P.R. Sarkar -  Calcutá, 10 de abril de 1988 Shabda Cayanika’ - Parte 1  

Dharma significa retidão. O dharma está sempre firme em uma posição, enquanto os seres humanos estão sujeitos a variações. Às vezes, os seres humanos abandonam o caminho do dharma e causam danos a si mesmo e à sociedade, em conseqüência de intelectos mal-orientados, filosofias imperfeitas, más companhias e orientação incorreta.

Recentemente, vocês devem ter visto marxistas que clamavam em altos brados, até ficarem roucos, não aceitar o dharma. Agora, juntamente com seus líderes, eles caíram na armadilha da própria filosofia inconsistente. Eles mataram centenas de milhares de pessoas simples e inocentes, sob alegações levianas, sem sequer submetê-las a qualquer julgamento. Foi isto um ato humanitário? Esse genocídio bestial ocorreu porque os marxistas se desviaram do caminho do dharma.

Hoje em dia, tais pessoas merecem a condenação severa por parte da humanidade. É um pecado desperdiçar o dinheiro público na construção de monumentos colossais ou estradas, em memória a essas pessoas. Até alcançarem o poder político de um país, esses hipócritas repetem os agradáveis slogans da democracia como papagaios, meramente para o consumo público. Mas, uma vez no poder, sem nenhum escrúpulo, eles jogam a democracia no cesto de lixo e reduzem a pó as sensibilidades humanas sutis e os valores humanos superiores sob o rolo compressor de uma ditadura de partido impiedosa.

P.R. Sarkar - 10 de julho de 1988, Calcutá Shabda Cayanika’ - Parte 17

O termo “comunismo” deriva da palavra “comuna”, que consiste no prefixo “co” e na raiz “muna”. “Co” significa “juntos” e “muna” significa “fazer alguma coisa”, portanto, “comuna” significa “fazer alguma coisa juntos”. “Comuna” mais “ismo” é igual a “comunismo”. O termo “comunismo” só é aplicável onde há o sistema de comuna. Aqueles que seguem o sistema de comuna são comunistas. No sistema comunista não há uma relação que estimule as pessoas a fazer algo juntas, pois tudo é imposto do âmbito superior. Assim, a palavra “comuna”, como usada por Karl Marx, é imprópria e falaciosa.

Embora Marx tenha professado muitos conceitos, nossa discussão aqui é se restringe àquilo que, em sua filosofia, vai de encontro à psicologia humana. Isto é, estamos preocupados apenas com a parte de sua filosofia que pretende construir castelos de areia.

O comunismo baseia-se em uma filosofia materialista rudimentar. A meta é aproveitar o que é produzido, submetendo todos a privações. Não há chance de se conduzir a mente num fluxo intelectual direcionado para a entidade mais elevada. Quando a mente absorve a forma do objeto — quando a mente toma a forma do seu objeto — quer o objeto seja denso ou sutil, a mente é pulverizada. A tendência natural da mente é decair, mas quando a ideação se fixa na entidade mais sutil, ela lentamente se converte em espírito. Um aspirante espiritual deve elevar sua mente.

Quando o objeto da mente é sutil, ela se torna sutil, e quando a sutileza se estabelece na estrutura psíquica, o poder do pensamento é desenvolvido, permitindo o surgimento de idéias mais elevadas. Se a pessoa concentra-se em temas materialistas, a mente se torna densa e materialista. Se a mente meditar sempre no sistema de comunas, ela se tornará sutil ou densa? Certamente ela se tornará densa, porque o sistema comunista é desprovido de humanidade e moralidade. A própria teoria do comunismo torna a mente densa.

O comunismo não consegue estabelecer um ambiente apropriado ao desenvolvimento de uma forte e sólida estrutura psíquica e intelectual. Por este motivo, a força moral — a santidade moral — não existe em países comunistas. Tal fenômeno ocorreu na Índia, no período imediatamente anterior ao da era budista, por causa da influência da filosofia Ca’rvaka. A filosofia Ca’rvaka, embora fosse de natureza materialista, surgiu em protesto contra a superficialidade védica. Durante esse período não havia um mínimo sequer de moralidade — a sociedade perdeu toda sua força moral. Hoje a mesma coisa está ocorrendo e continuará a ocorrer nos países comunistas. Em países comunistas não há nenhuma santidade em relação à vida moral — a sociedade não possui princípios morais.

Em nome dessa teoria inconsistente um dos governantes da [ex] União Soviética assassinou mais de 500 mil pessoas e enviou muito mais do que isto aos campos de concentração, na Sibéria. Dentre todas as teorias anti-humanas e homicidas estabelecidas neste mundo, o comunismo é a mais bárbara. É chegado o dia de atirá-la para sempre no cesto de lixo.

Há alguns dias saiu num jornal uma reportagem relatando que na China comunista nascem um milhão de crianças ilegítimas por ano. Isto é uma prova de que o comunismo encoraja a imoralidade. Se esta imoralidade prosseguir desenfreadamente, ela devorará a humanidade e causará a decadência moral da ordem social. Um certo dia, toda a estrutura social será desmantelada. Não podemos tolerar tal filosofia. O simples ato de pensar nessa filosofia causa repugnância.

Os países cujos cidadãos são trabalhadores e têm intelecto desenvolvido nunca aceitaram o comunismo. Por exemplo, Karl Marx nasceu na Alemanha, mas esta teoria não foi aceita nesse país. Da mesma forma, a Inglaterra acolheu Marx, mas não aceitou sua teoria. O movimento cooperativo teve início na Inglaterra e o espírito de cooperação se reflete em muitos aspectos da sociedade britânica; por conseguinte, o marxismo não foi capaz de se firmar na Inglaterra. O Japão está cercado por países comunistas, como a Coréia do Norte e a China, [inclusive, no passado, a União Soviética], mas não aceitou o comunismo. Os cidadãos desses países, bem como os de outros países, são trabalhadores e, também, têm o intelecto desenvolvido, daí o fato de terem rejeitado o comunismo. Algum tempo atrás, na Índia, alguns estudantes talentosos costumavam selecionar o marxismo como a melhor dentre tantas outras teorias falhas, mas eles não a adotavam como ideologia de vida. Hoje, a nata dos estudantes universitários não se sente mais atraída pelo marxismo, por ser um símbolo do vazio intelectual.

A atitude de intelectuais com relação ao comunismo deveria ser semelhante ao ataque do furão contra a cobra. Do mesmo modo que é natural para o furão devorar a cobra, também as pessoas intelectualmente desenvolvidas podem facilmente expor os defeitos do marxismo.

A filosofia de Gandhi se extinguiu antes de a Índia conseguir a independência — morreu muito antes do próprio Gandhi. Mas o comunismo sobreviveu por muito tempo após a morte de Marx. Sobreviveu somente devido ao poder das armas e à constante propaganda. Se uma coisa é freqüentemente alardeada, então, as pessoas começam a pensar que há alguma verdade no que está sendo propagado. Por exemplo, se alguém diz constantemente que Gopal é um menino muito mau, então, as pessoas um certo dia passarão a acreditar no que ouvem. Gopal se tornará um mau menino para eles. Os comunistas estão sempre se vangloriando de sua teoria. Por isso as pessoas recebem lavagem cerebral e, nessa condição, é muito fácil terem idéias incorretas injetadas em suas mentes. Através da constante propaganda de sua teoria inconsistente, os comunistas treinam as pessoas que lhes dão apoio, mas elas sofrem de debilidade intelectual. Quando os intelectuais lhes perguntam qualquer coisa que não são capazes de responder, elas ficam revoltadas.

Nos países comunistas os líderes de partido usavam todo o poder e todos os meios possíveis — forças armadas, terror e cerceamento da liberdade de expressão — para manter o povo oprimido. Mas hoje os líderes comunistas conscientes se revoltam contra esses métodos. Esta é a razão pela qual a China não conseguiu suprimir, por um longo tempo, os movimentos estudantis. Os países comunistas estão abandonando o inconsistente sistema de comunas, uma vez que ele gera penúria, em virtude da escassez de alimento, e também porque tal sistema roto afeta a saúde da sociedade. Os próprios líderes comunistas, que se passavam como "orientadores", abandonaram o caminho do comunismo. Já estava claro que o marxismo havia falhado na teoria, mas agora ele fracassou na prática também, nos países em que foi adotado. Os pecados cometidos pelo marxismo foram a causa de sua aniquilação.

Qualquer teoria, princípio, idéia ou proposição deve estar baseada em alicerces firmes. Esta é uma necessidade fundamental. Tudo que está relacionado aos mundos físico e psíquico se move no âmbito dos três fatores relativos supremos: tempo, espaço e individualidade. As teorias e proposições não são exceções a esta regra.

A democracia é um tipo de progresso procrastinado — o progresso não tem dinamismo nem aceleração. Na democracia capitalista o voto pode ser comprado. Deste modo, as pessoas pobres não podem ser eleitas. Seria possível haver algum ajuste entre pseudo-capitalismo e pseudo-comunismo, como se tentou fazer no euro-comunismo? O pseudo-comunismo foi professado por Adolf Hitler e Mussolini. O pseudo-comunismo se parece com o comunismo, mas na prática não. Entre os nacional-socialistas da Europa incluíam-se Mussolini, na Itália, Hitler, na Alemanha, e Franco, na Espanha.

A proposta comunista não tem um alicerce firme onde possa se sustentar. Sua própria base é oscilante. Não é nem uma teoria, nem um princípio, nem uma proposição. O comunismo de hoje pode ser chamado de “revisionista” ou de “pseudo-revisionista”. “Pseudo” é uma palavra de origem germânica. Não significa “falso”. Significa “até certo ponto o original, mas não exatamente o original”. Qualquer política pseudo-revisionista está contra o princípio da potencialidade vital — está contra a potencialidade existencial. É um movimento contra-psíquico e nocivo à germinação da força vital, portanto, não deveria nunca ser aceito. É como o brilho temporário de uma chama — perdura apenas por um curto período de tempo —, então, após sua pesarosa extinção, não deixa nenhuma marca permanente para a história humana. Este será o destino do comunismo. É uma política ou proposição baseada no pseudo-revisionismo.

Tal pseudo-revisionismo é contrário à potencialidade existencial e por isso deve ser descartado na fase inicial. É um fenômeno afeto apenas ao mundo da intelectualidade. Por isso, o comunismo teve sua morte precipitada.

Se qualquer teoria inconsistente se propaga por um longo tempo, quando finalmente se desencadeia uma reação contra ela, esta reação tem duração curta e é imensamente destrutiva, como um furacão. Hoje o comunismo está ardendo no fogo de seu próprio fracasso e é a tarefa de vocês adicionar combustível a esse fogo.

Toda a sociedade humana terá de suportar a expiação dos pecados cometidos pelo comunismo — nem mesmo os inocentes serão poupados. Essa perigosa teoria cometeu muitas atrocidades contra a sociedade, e continuará a fazêlo, até que seja abolida, não só em teoria como também em nome. Embora o comunismo esteja morto em teoria, continua a existir em nome. Como esta teoria é extremamente prejudicial à existência humana vocês devem se garantir de que ela será erradicada também em nome, o mais rápido possível.

P.R. Sarkar - Calcutá, 14 de julho de 1988

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