Essa outra entidade parece ser a dona do átman e do corpo. Então, qual é essa outra entidade?
O sentimento puro de “eu” é apenas uma idéia abstrata. Uma pequena introspecção mostraria que este sentimento de “eu existo” é uma idéia. Ele surge como resultado do pensamento. Esse sentimento de “eu” só pode existir onde há consciência. Assim, é com a consciência, ou jinána, que uma pessoa pode ter uma idéia, pensar e realizar alguma ação. Portanto, o sentimento de “eu” é uma projeção mental da consciência ou, para ser mais claro, podemos dizer que sem a consciência, ou jinána, o conhecimento da existência e, conseqüentemente, a idéia do sentimento de “eu” não pode ser formada. Átman é a consciência unitária (ou purusá unitário), e, uma vez que está dentro do domínio de Sagun'a Brahma, ele será qualificado pelos princípios de Prakrti, da mesma forma como ocorre com Purus'a em Sagun'a Brahma. Átman adquire o conhecimento da sua existência ou surge o sentimento puro do “eu” devido à influência qualificadora do princípio sutil de Prakrti. É por causa dessa idéia de existência que o sentimento de “eu” é formado; portanto, a identidade do indivíduo como “eu” é somente essa idéia. Desse modo, a idéia é somente uma projeção formada pela influência qualificadora da Prakrti sutil sobre a consciência unitária. Esse sentimento de “eu” não é, portanto, o átman (ou consciência unitária). A individualidade do ser humano ou o seu sentimento de “eu” não é a consciência unitária. É apenas uma idéia objetiva da consciência unitária, que passa a ser conhecida devido à influência qualificadora de Prakrti.
Conseqüentemente, o sentimento de “eu” do ser humano depende inteiramente da consciência unitária, assim como a existência de uma tábua de madeira depende de uma árvore. A tábua não pode ser chamada de árvore e, da mesma forma, esta entidade do “eu” não pode ser a consciência unitária. Ela é somente uma idéia, dependente da consciência unitária, formada como um resultado da influência qualificadora da Prakrti sutil sobre ela.
Mostramos anteriormente que buddhitattva surge devido à influência qualificadora do princípio sutil de Prakrti sobre a consciência unitária. Também surge o sentimento de “eu”, que cria o conhecimento da existência da consciência unitária. Dessa forma, a entidade individual do “eu” não é a consciência unitária; ela é buddhitattva, que é somente uma parte de sua mente.
A entidade do “eu” dos seres humanos é buddhitattva, que é mais sutil do que aham'tattva e citta. Então, o que são aham'tattva e citta? Já explicamos no primeiro capítulo que aham'tattva (ego) se forma por causa da influência qualificadora do princípio mutatório de Prakrti sobre buddhitattva, o qual, por sua vez, se manifesta como aham'tattva. Áham'tattva (ego), ao ser depois qualificado pelo princípio estático de Prakrti, se manifesta como citta. Na verdade, é buddhitattva (ou sentimento puro do “eu”) que se manifesta como aham'tattva (ego) e como citta, devido à influência qualificadora dos princípios mutatório e estático de Prakrti, respectivamente. Aham'tattva (ego) e citta são somente formas funcionais mais densas da entidade do “eu” do ser humano. A mente do ser humano é, conseqüentemente, uma projeção do seu sentimento de “eu” (buddhitattva), sendo composta apenas desta entidade.
A consciência unitária, ou átman, é refletida somente quando existe um corpo físico constituído pelos cinco fatores fundamentais do Macrocosmo.
Buddhitattva é criado como resultado da influência da Prakrti sutil sobre a consciência unitária; portanto, buddhitattva (ou sentimento de “eu”) também depende de um corpo físico. Uma vez que buddhitattva permeia cada partícula do corpo, a pessoa sente a presença do “eu” em cada parte do corpo, identificando esse “eu” com o corpo. Porém, já explicamos anteriormente que esse sentimento de “eu” e o corpo não são a mesma entidade. Eles são diferentes – o sentimento de “eu” é buddhitattva e o corpo físico é meramente um abrigo (ádhára) para ele.
O sentimento de “eu” de um ser humano não é, dessa forma, nem a consciência unitária nem o corpo; é apenas uma criação mental da consciência unitária, denominada buddhitattva, sendo que este “eu” se manifesta em seguida como as duas outras formas funcionais da mente – aham'tattva (ego) e citta.
P.R.SARKAR - Filosofia Elementar da Ánanda Márga.
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