Nirgun'a Brahma é o estágio supremo de Brahma, e este estágio é conseguido quando a consciência não está sob a influência qualificadora de Prakrti. Sagun'a Brahma – a Entidade Suprema Qualificada – está sob a influência qualificadora de Prakrti. Sagun'a Brahma também é chamado de Bhagaván. A Consciência (Purus'a), ao se libertar do domínio de Prakrti, alcança o estágio supremo, chegando ao nível de Nirgun'a – a Consciência Não-Qualificada. Átman, ou consciência unitária, por ser um múltiplo da consciência na Entidade Suprema Qualificada, também é um múltiplo de Bhagaván. Portanto, a consciência unitária também é Bhagaván e, ao se libertar do domínio de Prakrti, ela se une a Nirgun'a, alcançando o estágio supremo. No capítulo anterior foi explicado que o sentimento de “eu” do ser humano não é o átman (ou consciência unitária). O conhecimento existencial, ou sentimento de “eu”, é diferente da consciência unitária. Foi também explicado que esse sentimento de “eu” é apenas uma projeção metamorfoseada da consciência unitária. Portanto, o “eu” do ser humano não é Bhagaván. É uma forma modificada ou assumida de Bhagaván. Por exemplo, Rama, enquanto atua numa peça de teatro no papel de Shahjahan, é chamado de Shahjahan e não de Rama. Enquanto atua como Shahjahan, Rama não assume a sua personalidade verdadeira. Ele é somente uma personalidade assumida ou transformada e, enquanto permanece atuando nesse papel, é chamado de Shahjahan e não de Rama. Da mesma forma, enquanto o sentimento de “eu” está conectado à identidade individual, a pessoa é diferente de seu átman (ou Bhagaván) e essa pessoa com esse sentimento de “eu” é apenas uma forma modificada ou assumida da consciência unitária (ou átman). Assim, verifica-se que é o sentimento de “eu” que mantém a pessoa afastada de sua consciência unitária. Na verdade, é este sentimento de “eu” que torna o ser humano uma entidade diferente de Bhagaván. Quando termina a peça em que Rama faz o papel de Shahjahan, ele retorna à sua personalidade original e volta a ser chamado de Rama. Do mesmo modo, ao se libertar deste sentimento de “eu”, a forma modificada ou assumida da consciência unitária deixa de existir, e a consciência unitária (átman) se transforma em nirgun'a (não-qualificado), pois a forma assumida surge somente pela influência qualificadora de Prakrti. O término desta forma modificada ou assumida da consciência unitária significa a libertação do domínio de Prakrti. Portanto, é o sentimento de “eu” que cria a diferença entre a pessoa e sua consciência unitária. Na realidade, é este sentimento de “eu” que mantém a consciência unitária, ou átman, afastada do estágio supremo. O sentimento de “eu” do ser humano é apenas a consciência unitária metamorfoseada; ainda assim, esse “eu” individual é diferente da consciência unitária (ou Bhagaván). Logo, a consciência unitária não é a responsável pela realização das ações e nem é ela que experimenta as suas conseqüências, já que as ações são executadas por esse “eu”. Por exemplo, as conseqüências das ações realizadas por Rama no palco, ao fazer o papel de Shahjahan, não afetam Rama. Podemos afirmar que somente Shahjahan seria afetado, visto que quem age na peça é o personagem representado e não Rama com sua personalidade original. Rama, na sua condição original, apenas testemunha tudo o que o personagem faz ou experimenta. Do mesmo modo, a forma projetada (ou transformada) do “eu” é que age e também experimenta o resultado de todas as ações. A consciência unitária não realiza nenhuma ação nem experimenta nenhum resultado. Ela apenas testemunha as ações e suas conseqüências. No primeiro capítulo, foi dito que a consciência unitária é a entidade conhecedora. Somente ela pode ser considerada como a entidade testemunhal ou conhecedora, enquanto o sentimento de “eu” dos seres humanos é uma outra entidade que lhes proporciona conhecimento existencial e também estabelece a sua existência. A consciência unitária sempre permanece como uma entidade testemunhal, e qualquer ação realizada pelo “eu” individual não tem nenhum efeito sobre ela. Uma entidade conhecedora ou testemunhal não reivindica a autoria de nenhuma ação; portanto, a condição de consciência unitária permanece imutável, como uma testemunha apenas. Somente aquele que semeia é que irá colher. Portanto, somente a entidade com o sentimento de “eu” irá experimentar o resultado de todas as ações, visto que este sentimento é o causador de todas as ações. A entidade testemunhal (ou entidade conhecedora) permanece apenas como espectadora, sem experimentar nenhum resultado, tendo em vista que não atua. Por exemplo, Rama, ao testemunhar um jogo de futebol, nunca terá nenhum mérito de vencer o jogo. Somente o jogador, Shyama, será considerado como vencedor. De fato, o verdadeiro jogador, Shyama, ganhará ou perderá o jogo e somente ele se sentirá cansado por sua participação no jogo. Rama, que é apenas um espectador, não ganhará nem perderá, nem se sentirá esgotado ou cansado. Rama, o espectador, testemunhará o jogo e também o resultado das ações. Ele só conhecerá o resultado do jogo e verá Shyama exausto por ter jogado. Da mesma forma, a consciência unitária, ou átman, é uma espectadora que testemunha todas as ações realizadas pelos seres humanos, e as conseqüências experimentadas por eles. Esta consciência unitária não realiza nenhuma ação e, portanto, não experimenta nenhum resultado. Ela é somente uma força testemunhal – a entidade onisciente. O sentimento de “eu” do ser humano é buddhitattva. Este “eu” proporciona a idéia do conhecimento existencial. Ele não propicia nenhuma idéia de realização de uma ação. O simples sentimento de existência não indica que este “eu” realiza qualquer ação; portanto, não é buddhitattva que age. Já dissemos no primeiro capítulo que aham'tattva, que surgiu por meio da influência qualificadora de Prakrti sobre buddhitattva, é a porção da mente que atua. Aham'tattva (ego) não é buddhitattva, visto que aquele é formado a partir deste último. É uma manifestação mais densa de buddhitattva. É aham'tattva (ego) que atua, e é somente ele que experimenta o resultado das ações. Buddhitattva, entidade distintamente separada de aham'tattva, é meramente o puro sentimento de “eu” e não realiza nenhuma ação; conseqüentemente não poderia vivenciar o resultado das ações. Porém, através de profunda reflexão, vemos que nenhuma ação pode acontecer sem o sentimento de “eu”, ou o conhecimento existencial. Senão, quem mais faria aham'tattva agir? É o sentimento de “eu” e o conhecimento existencial que inspiram aham'tattva a agir. Assim, vemos que buddhitattva, na verdade, não realiza nenhuma ação; mesmo assim, é por conta do conhecimento existencial e do sentimento de “eu” criados por ele que uma pessoa é capaz de trabalhar através de seu aham'tattva. O sentimento de “eu”, portanto, é responsável por realizar as ações e também por assumir o resultado das ações. Para ilustrar isso, podemos citar o exemplo de dois senhores feudais em conflito, que colocam seus trabalhadores em confronto. Disso resulta que as pessoas que participam do confronto, quer dizer, os trabalhadores dos latifundiários ficarão feridos ou até mesmo morrerão, porém, os latifundiários aparentemente permanecerão ilesos. Entretanto, estes são os responsáveis pela luta, uma vez que ela começou devido às suas instigações sobre as pessoas. Assim, aparentemente a pessoa que luta é afetada diretamente, mas na verdade os latifundiários são os que, de modo indireto, experimentam o resultado da luta entre os seus empregados. Só eles serão ganhadores ou perdedores. Da mesma forma, buddhitattva também é responsável indiretamente pelo resultado das ações realizadas por aham'tattva, apesar de o verdadeiro executor das ações ser aham'tattva, que, aparentemente, suporta as conseqüências das ações. No primeiro capítulo, explicamos que citta é criado pela influência qualificadora do princípio estático de Prakrti sobre aham'tattva. Assim, aham'tattva é que se manifesta em uma forma mais densa como citta. O resultado das ações realizadas por aham'tattva é formado em citta. No primeiro capítulo, explicamos em detalhes que, com a ajuda dos dez órgãos (indriyas), citta assume a forma das ações de buddhitattva e aham'tattva. Por exemplo, o próprio citta tem de assumir a forma de um livro, a fim de possibilitar que aham'tattva veja o livro. A mesma coisa se aplica ao som. Citta é uma manifestação densa de aham'tattva, que, por sua vez, é uma manifestação de buddhitattva. Logo, citta é a parte mais densa de buddhitattva, sendo incapaz de realizar ações independentes. Nenhuma ação independente de um ser consciente da ação é tolerada por Prakrti, que tenta se contrapor a cada ação independente da pessoa. Uma vez que os seres humanos possuem consciência plenamente manifestada, eles são capazes de perceber a sua submissão e tentam desafiar a autoridade de Prakrti. Nesse esforço para superar a influência de Prakrti, os seres humanos agem de forma contrária aos desígnios de Prakrti, a qual, por sua vez, coloca-se contra os esforços dos seres humanos de todas as formas possíveis, com o intuito de manter o seu domínio sobre eles. As ações da pessoa, portanto, são inspiradas pela consciência, com o objetivo de vencer o domínio de Prakrti, e os resultados que ela experimenta são reações impostas por Prakrti com o propósito de mantê-la sob o seu domínio. Vejamos, agora, como uma ação é executada e por que uma pessoa tem de suportar as suas conseqüências, na forma de uma reação. Cada ação é originada e realizada pela mente, ou seja, por seus três componentes, buddhitattva, aham'tattva e citta. Já foi explicado que citta tem de assumir a forma ou se transformar no resultado de qualquer ação realizada por um ser humano. Isto significa que citta abandona seu formato original e é metamorfoseado no formato resultante de uma ação. Por exemplo, citta tem de tornar-se um livro, para que se possa ver o livro. A mente de uma pessoa tem de deixar a sua forma normal e se deformar para completar uma ação. A criação e a existência da mente se devem à influência de Prakrti sobre a consciência e, quando a consciência deforma a condição normal da mente, ao inspirá-la a atuar, isto não é tolerado por Prakrti. Prakrti, por ser o fator dominante, impõe uma reação a cada ação, conduzindo a mente à sua condição anterior. Isto é chamado de “karmaphala”. Assim, karmaphala é uma manifestação de buddhitattva. Buddhitattva e o sentimento de “eu” são a mesma entidade. Dessa forma, somente o sentimento de “eu” de um ser humano é que, ao se tornar denso, se transforma em citta. Vimos que um livro só pode ser visto quando citta se torna como o livro. Uma vez que citta é uma transformação do sentimento de “eu”, a verdade é que o sentimento de “eu” de um ser humano se transforma em livro, mas não que o livro seja visto pela pessoa. É o próprio ser que se transforma em livro. É este sentimento transmutado do “eu”, conhecido como citta, que se transforma em livro, ao captar a vibração ideativa da forma (rúpa tanma'tra) criada pelos nervos. Para ouvir uma vibração sonora, a pessoa terá de se transformar no próprio som. Portanto, os próprios seres humanos se transformam no resultado de suas ações, e o que quer que uma pessoa veja, ouça, toque ou cheire será o seu próprio sentimento de “eu” ou o seu próprio “eu” transformado. Buddhitattva cria a inspiração para que atuemos. Aham'tattva executa a ação, e citta tem de se transformar no resultado dessa ação. Buddhitattva, aham'tattva e citta constituem a mente, portanto, é a mente que atua. Somente a mente sofrerá as conseqüências. Aquele que planta, colhe. A consciência unitária (átman) está além da esfera mental, portanto, ela não atua nem sofre as conseqüências. Ela apenas permanece como uma espectadora no corpo humano. A consciência (Purus'a) e o Seu princípio qualificador (Prakrti) não recebem nenhuma influência de um sobre o outro enquanto se situam no estágio da Entidade Suprema Não-Qualificada (Nirgun'a), no qual a consciência mantém a Sua posição suprema. No estágio da Entidade Suprema Qualificada (Sagun'a Brahma), a Consciência (Purus'a) submete-se às limitações de Prakrti, o que resulta na criação do universo, de acordo com os desígnios de Prakrti. Aquele processo ou reação que restabelece a forma original da mente, deformada por suas ações, é experimentado como karmaphala (resultado das ações). A mesma intensidade com que uma ação é realizada, deformando a mente, será aplicada à reação (ou karmaphala). A pressão empregada contra Prakrti, ao causar a deformação da mente, será equivalente à pressão aplicada para restaurar o formato normal da mente. Por exemplo, uma bola de borracha pressionada por um dedo da mão cria uma deformação, porém, quando solta, ela volta à sua forma original ou normal. O dedo experimentará uma força igual e contrária no momento da reação. Aqui, a bola de borracha é comparável à mente e o dedo, ao “eu” do ser humano, que faz a mente atuar, criando deformações na mente. Portanto, para a mente retornar à sua forma original, uma pessoa sentirá a reação com a mesma intensidade empregada para criar a deformação. As intenções de Prakrti de restaurar a forma original da mente e também de punir o “eu” que inspira a mente a agir são ambas alcançadas por esse processo de reação. De acordo com as regras de Prakrti, é da natureza da mente retornar à sua forma original por meio de uma reação para cada ação. Portanto, através de reações (karmaphala), os seres humanos sentem as conseqüências de cada ação. De acordo com a lei de Prakrti, a pessoa experimentará a reação de todas as suas ações, sejam elas boas ou más. Por exemplo, se uma pessoa roubar e causar sofrimento a outra pessoa, ela criará uma distorção em sua mente ao usar sua capacidade de infligir dor. A mente reagirá para remover essa distorção, e a pessoa causadora da dor experimentará um sofrimento semelhante (em medida mental) como resultado dessa reação. Da mesma forma, se uma pessoa, através de seus atos, proporcionar felicidade aos outros, ela experimentará felicidade semelhante, como resultado da reação mental imprimida para recuperar o seu estado normal. Isto ocorreria porque, de acordo com as leis de Prakrti, a pessoa experimenta uma reação igual e contrária para que a mente restabeleça a sua forma normal. Assim, Prakrti leva o ser humano a suportar as conseqüências (karmaphala) de todas as suas ações com a ajuda do instrumento por Ela criado: a mente. Por isso, independentemente do que o ser humano fizer, seja o bem ou o mal, ele terá de experimentar uma reação similar (karmaphala). Ninguém vive sem realizar uma ou outra ação. Mesmo quando a pessoa está sentada em sossego, ela está fazendo uma ação – o corpo físico poderá não estar se exercitando, entretanto, a mente estará sempre ativa e inquieta. Mesmo quando não ocorre uma ação física, a mente está envolvida em ações, por meio do pensamento ou da imaginação. Uma pessoa poderá pensar mal de alguém, poderá até mesmo planejar matar alguém ou pensar em como ajudar os outros em seus sofrimentos. Tudo isso são ações que não precisam de movimento ou exercício físico. Mesmo a ação física é apenas uma conseqüência da atividade mental. Já explicamos anteriormente que todas as ações são exercidas pela mente e pelos dez órgãos sensoriais e motores (indriyas), sendo estes apenas uma extensão de citta, com o objetivo de transformar as ações mentais em atividades físicas. Todas as ações podem ser classificadas em ações físicas e mentais. As ações realizadas pela mente com a ajuda dos órgãos (indriyas) são físicas, enquanto as ações realizadas sem tal ajuda, e somente pela mente, são ações mentais. Tanto as ações físicas como as ações mentais causarão deformação na mente e provocarão uma reação, a qual terá de ser experimentada, para que a mente recupere o seu estado normal. Portanto, qualquer ação, seja mental ou física, fará o seu autor experimentar uma reação (karmaphala). A consciência totalmente expressada nos seres humanos faz com que eles percebam a sua submissão ao domínio de Prakrti. Como não querem continuar nesse estado de sujeição, eles atuam de forma independente contra Prakrti, que também age, infligindo-lhes punições na forma de reações (karmaphala) às suas ações. Neste planeta somente o ser humano possui uma consciência totalmente expressada. Assim, nenhum ser vivo, exceto o ser humano, pode agir de forma independente. As leis de Prakrti só punem as ações realizadas de forma independente, ou contra o Seu desejo. Aqueles que são incapazes de executar ações independentes não serão punidos por Suas mãos. Portanto, vemos que, com exceção do ser humano, nenhum outro ser vivo experimenta karmaphala por suas ações. Karmaphala terá de ser experimentado por cada ação, benéfica ou maléfica. Os seres humanos não podem permanecer sem agir nem por um só instante, então continuam agindo até o momento da morte. Como isso, ninguém está livre de experimentar reações após a sua morte. Unicamente aqueles que agem é que deverão experimentar as respectivas reações (karmaphala); ninguém poderá substituí-los nessa função. No próximo parágrafo veremos como uma pessoa morta, com seu corpo físico cremado ou enterrado, poderá vivenciar as reações (karmaphala). A consciência unitária (átman) é imortal. Ela é sempre imutável. No seu movimento do estado bruto para o estado sutil, a consciência unitária está completamente expressada no corpo humano, que se constitui dos cinco fatores fundamentais criados pela Consciência Cósmica (Bhúmá Purus'a). Purus'a e Prakrti (a Consciência e o Seu princípio) são inseparáveis. Portanto, a consciência unitária (Purus'a) e seu princípio (Prakrti) residem conjuntamente no corpo humano. Prakrti impõe Sua influência sobre a consciência unitária, provendo-lhe uma mente. A mente – que é uma expressão da consciência unitária – e Prakrti existirão enquanto estes dois, Purus'a e Prakrti, existirem. A consciência unitária e o seu princípio (ou seja, Purus'a unitário e sua prakrti) são contrapartes inseparáveis. Portanto, a mente só existirá junto com a consciência unitária. É apenas na mente que a pessoa conserva o sentimento de “eu” e, enquanto ela existir, o sentimento de “eu” também existirá. Uma vez que a consciência unitária é imortal, a mente conectada a ela não morrerá; e, junto com ela, também o sentimento de “eu” continuará a existir. Concluímos, então, que o sentimento de “eu” também permeia o corpo físico, quando a consciência unitária (átman) se abriga num corpo humano. No momento em que a consciência unitária deixa o corpo, Prakrti, que é a contraparte inseparável da consciência unitária, também o deixa. A mente, que é uma criação de Prakrti, naturalmente abandona o corpo com Ela. Disto resulta a morte do corpo físico. Assim, a morte não significa o fim da consciência unitária e da mente, significa apenas a desintegração do corpo físico. A consciência unitária (átman) e a mente simplesmente deixam o corpo físico que haviam adotado como abrigo. Isto nos leva a questionar a razão pela qual a consciência unitária abandona o corpo físico. A consciência unitária poderia continuar a sua marcha para o estado sutil com o mesmo corpo físico, até que ela se unisse, total e definitivamente, com a Consciência Cósmica mais sutil (Bhúmácaetanaya). Os corpos dos seres humanos são constituídos dos cinco fatores fundamentais, os quais, como vimos, são formas densas metamorfoseadas da Consciência Cósmica. Os cinco fatores fundamentais surgem na fase da criação em que a Consciência Cósmica se movimenta do estado sutil para o estado bruto. Também o corpo humano físico é formado a partir dessa fase, de acordo com os desígnios de Prakrti e, obviamente, adquire um grande número de fatores que estão em diferentes estágios em sua marcha para o estado bruto. Haverá alguns no estágio do fator etéreo, e outros no aéreo, no luminoso, no líquido e no sólido. Aqueles que estão no fator etéreo terão de mover-se para o aéreo e assim por diante, até que se transformem no mais rudimentar, que é o fator sólido. Este é o desejo de Prakrti e, na criação, a Consciência Cósmica move-se segundo este padrão. Se este padrão – que é a lei de Prakrti – tem de ser seguido, a mudança do corpo humano será inevitável e, para realizar essa mudança, a morte se faz necessária. Se presumíssemos que a consciência unitária poderia continuar em um corpo até que se unisse à Consciência Cósmica, nos defrontaríamos com a possibilidade de um corpo permanecer vivo por milhões de anos, tendo em conta que a cadeia de ações e reações não libertaria a consciência unitária antes disso. Isto resultaria num total estancamento da evolução dos fatores existentes em um corpo, por milhões de anos, uma vez que a cadeia de ações e reações não estaria seguindo o padrão da criação e as leis de Prakrti. De acordo com a natureza de Prakrti, a criação tem que se transformar do estado sutil para o estado bruto e, com o decorrer do tempo, o ser humano também tem que abandonar o seu corpo, inevitavelmente. Isto também mostra que o corpo humano é feito de inumeráveis unidades dos cinco fatores fundamentais, nos diferentes estágios da criação, as quais, de acordo com o padrão da criação e as leis de Prakrti, se transformarão em inumeráveis consciências unitárias totalmente refletidas, habitando inumeráveis corpos humanos. Portanto, a morte é inevitável. Todos terão de deixar o seu corpo físico. A morte significa apenas que a consciência unitária e a mente se desassociam do corpo. A mente, por ser uma criação de Prakrti, sempre permanecerá com a consciência unitária. A individualidade dos seres humanos, ou a idéia de existência, consiste no seu sentimento de “eu”, o qual é uma parte da mente e sempre permanece com ela. Vimos anteriormente que a morte é apenas a dissociação da mente do corpo e não a morte da mente. Portanto, a individualidade do ser humano e o seu sentimento de “eu” não morrerão. Este “eu” continuará a existir com a consciência unitária enquanto a influência de Prakrti mantiver a mente. No momento em que Prakrti deixar de ter influência sobre a consciência unitária e se tornar incapaz de manter a existência da mente, este “eu” também deixará de existir. Os seres humanos, individualmente, e os seus “eus” não mais existirão, alcançando a emancipação (mukti). O ser humano atua com a sua mente e também experimenta as reações (karmaphala) através dela. É a mente que converte a ação mental em atividade física com a ajuda dos dez órgãos (indriyas) e é somente ela que experimenta as reações (karmaphala), como dor ou prazer. A morte ocorre somente no corpo físico, enquanto a mente simplesmente deixa o corpo. A mente, que é quem realiza todas as ações e suporta todas as conseqüências, sobrevive para poder vivenciar as reações decorrentes das ações feitas até o último momento da morte física. A questão sobre qual entidade deveria vivenciar as conseqüências das ações não é plausível. A mente é a entidade que age e que não morre. Portanto, somente ela terá de vivenciar as reações (karmaphala). A mente é sutil e tem de ser auxiliada por uma base mais densa (ádhára) para poder concretizar as ações. Esta base densa (ádhára) é o cérebro humano, e é com a ajuda dessa base (ádhára) que a nossa mente é capaz de atuar. A mente e o cérebro têm uma ligação tão estreita que um não pode atuar sem o outro. O cérebro sem a mente pára de funcionar. Da mesma forma, se a base da mente, o cérebro, não estiver funcionando corretamente, ela não será capaz de agir. Um cadáver possui um cérebro que não funciona porque está morto e porque não tem uma mente conectada a ele. Da mesma forma, quando uma pessoa fica inconsciente ou é levada a esse estado pelo efeito de uma substância anestésica, o seu cérebro se torna não-funcional por algum tempo e, por conseguinte, a mente também deixa de funcionar, tendo em conta que a sua parte física, o cérebro, não está em condições de funcionar. O estado de inconsciência não é o estado de morte; logo, nem a consciência unitária nem a mente abandonam o corpo. Nesse estado, mesmo permanecendo no corpo, a mente não funciona, porque o cérebro não funciona adequadamente e a pessoa é incapaz de compreender qualquer coisa. Dessa forma, é necessário que a mente esteja abrigada em um cérebro, utilizando-o como sua base física, para poder funcionar e também experimentar as reações (karmaphala) de suas ações. Após a morte, a mente abandona o corpo e também a sua base física, o cérebro. Entretanto, como estava fazendo uma ou outra ação até o momento da morte, terá de vivenciar as reações (karmaphala) dessas ações. Na verdade, visto que precisa vivenciar essas reações e por ser incapaz de vivenciá-las sem um cérebro, a mente tem de adquirir um novo corpo por meio de um nascimento subseqüente. A mente surge pela influência qualificadora de Prakrti sobre a consciência unitária, e como a consciência unitária e o seu princípio (Prakrti) são inseparáveis, a consciência unitária também assume um novo corpo junto com a mente. Em outras palavras, ambas, a mente e a consciência unitária, reencarnam. Elas terão de reencarnar de novo para vivenciar as reações referentes às ações da vida anterior. Conclui-se que, por ter nascido, a pessoa tem de confrontar a morte e que seu renascimento após a morte é também inevitável. Isso continuará alternadamente até que a jornada da consciência unitária do estado bruto para o estado sutil (até a união final com a Consciência Cósmica) termine. A consciência unitária terá de prosseguir nessa jornada por um período infinito, assumindo novos corpos, após se descartar dos anteriores. Após a morte, a mente não pode agir, porque não tem um cérebro como base física; por isso, tem de reencarnar para vivenciar as reações de suas ações passadas. Portanto, a concepção de céu e inferno, para onde se supõe que os seres humanos vão depois da morte, é inteiramente incorreta. Acredita-se que a pessoa experimentará os prazeres do céu, de acordo com o resultado de suas ações boas, e o sofrimento do inferno, se tiver cometido más ações. Entretanto, prazer e sofrimento não podem ser experimentados pela mente no estado em que ela se encontra após a morte, pois ela permanecerá não-funcional até adquirir um novo cérebro, por ocasião do renascimento. A concepção de um mundo de céu e inferno após a morte é uma fantasia equivocada. Não há nenhum outro mundo onde possa existir céu e inferno. É somente neste mundo mortal que a pessoa terá de renascer, para experimentar os prazeres do céu e os sofrimentos do inferno. A reencarnação também nos comprova que não existe nenhum espírito ou alma que se torne fantasma (pretátman). Se a reencarnação for aceita racionalmente, a questão da existência de fantasmas não surgirá. Por ser incapaz de agir e vivenciar as reações, a mente tem de renascer juntamente com a consciência unitária. Isso significa dizer que a mente não pode experimentar qualquer reação até que reencarne e, portanto, não pode sentir prazer nem dor sem a sua base física, o cérebro. Entre as teses da reencarnação e da existência de fantasmas, somente uma delas terá de ser aceita, porque se constituem como teses contraditórias. Racionalmente, a reencarnação deve ocorrer, já que a mente não pode ter nenhuma função e nem vivenciar os resultados (ou reações) sem um cérebro, o qual só pode ser obtido com um novo corpo, por ocasião do renascimento. Se a mente pudesse funcionar sem cérebro na sua existência pós-morte, ela prosseguiria sua prática intuitiva até o fim de sua jornada para unir-se à Consciência Cósmica, mas isto não é possível. A mente nunca poderá funcionar sem um cérebro. Devido a essa característica (dharma) da mente, é que se deve aceitar a reencarnação e rejeitar a existência de fantasmas, considerando-a como uma hipótese imaginária. Tendo em conta que a consciência unitária e a mente deixam seu receptáculo físico por ocasião da morte, a mente se torna não-funcional, devido à ausência de um cérebro. Estando a pessoa viva, sua mente pode se tornar não-funcional no estado de inconsciência, quando o cérebro – a base física da mente – deixa de funcionar por algum tempo. Os estados de inconsciência e morte são similares, exceto pelo fato de que o primeiro é momentâneo, uma situação em que a mente perde a consciência do ambiente, sem abandonar o corpo. O segundo, ou seja, a morte, é um estado mais prolongado, e a mente não-funcional deixa aquele corpo para sempre. A consciência e o seu princípio, Prakrti, são contrapartes inseparáveis. Quando a consciência unitária deixa o corpo físico, o qual é uma criação de Prakrti, também a mente deixa o corpo e se refugia na consciência unitária. A mente, mesmo nesse estado, está deformada devido às ações realizadas antes da morte. Para retornar ao seu estado normal, a mente terá de vivenciar as reações resultantes de suas ações, as quais os seres humanos recebem como prazer e sofrimento. Estando desprovida de cérebro, a mente se torna não-funcional após a morte, devendo, conseqüentemente, ficar com as deformações causadas pelas reações potenciais. É nesse estado de reações potenciais que a mente deixa o corpo e se refugia na consciência unitária. Essas reações são chamadas de sam'skáras. A deformidade mental adquirida por causa das ações realizadas até o momento da morte se estabelecerá na consciência unitária como reações em estado potencial (sam'skára), após a morte. Essas reações, devido ao fato de a mente tornar-se não-funcional, não podem se expressar como resultados de ações passadas (karmaphala); então, permanecem com a consciência unitária, até que ela assuma um novo corpo e adquira um cérebro para fazer a mente funcionar novamente. Assim, vemos que o renascimento ocorre somente para que as reações potenciais possam ser manifestadas e vividas como resultado das ações. A expressão e a vivência das reações começam a acontecer a partir do momento exato do nascimento, com o mesmo formato que a mente adquiriu ao comprimir e transformar suas reações potenciais (sam'skára) por ocasião da morte. O exemplo de uma bola de borracha representando a mente explicará esse processo mais claramente. Ao se fazer, com o dedo polegar, uma compressão na bola, pode-se deformá-la. A bola, de acordo com as leis de Prakrti, tentará recuperar o seu estado normal. A mente, com suas expansões e compressões, é semelhante à bola. Porém, devido à morte, não é possível a ela recuperar o seu estado normal, uma vez que nenhuma ação pode ser realizada após a morte. A mente apenas será capaz de realizar o seu propósito de recompor a sua forma normal com o renascimento, quando adquirir um novo cérebro. A reação deveria dar à mente o seu formato normal; porém, devido à morte, ela permanece incompleta e se refugia na consciência unitária como força ou energia em potencial (sam'skára). Com o intuito de eliminar essa reação é que a consciência unitária assume um novo corpo por ocasião do renascimento; e a reação potencial (sam'skára), ou força, se expressa e faz a mente reaparecer com as deformações efetivadas na vida anterior. A ação, seja boa ou má, causa deformidade na mente e, no processo de recuperação da sua forma normal, a pessoa vivencia as reações boas, como resultado de suas boas ações, e as reações más, como resultado das ações maléficas. Após a morte, a mente, com suas reações potenciais (sam'skáras), refugia-se na consciência unitária. A consciência unitária, para conseguir que essas reações potenciais adquiram expressão, terá de encontrar um corpo apropriado à expressão dessas reações. Por exemplo, Rama morre e a sua mente se refugia na sua consciência unitária (átman), na forma de reações potenciais (sam'skáras). Rama, de acordo com as suas ações desta vida, teria de vivenciar como reação (karmaphala) a dor equivalente, em termos mentais, à dor da fratura de um braço, com a idade de oito anos, e a ventura de conseguir uma fortuna, com a idade de dez anos, e o sofrimento da perda do pai, com a idade de onze anos. Ele terá de vivenciar tudo isso para que a sua mente deformada recupere o seu estado normal. Aqui, é importante esclarecer que a forma real do sofrimento não é predeterminada. Não podemos dizer qual será exatamente a reação para cada ação em particular. Por exemplo, não está predeterminado, no caso de alguém que comete um roubo, que suas coisas, com o mesmo valor, sejam roubadas como uma reação. O sofrimento é medido em termos de intensidade do sofrimento mental causado aos outros por ocasião do roubo. Assim, o padrão de medida para vivenciar o resultado de uma ação é mental, em termos de prazer e sofrimento, sendo que a forma real da experiência não tem nenhuma importância, neste aspecto. Rama terá de vivenciar o sofrimento e o prazer de todos esses acontecimentos; portanto, a sua consciência unitária terá de encontrar um corpo para renascer, no qual a oportunidade de experimentar tudo isso esteja disponível. Para sofrer a agonia mental da perda de seu pai na idade de onze anos, Rama terá de nascer numa família em que o pai, de acordo com suas próprias ações, também terá de morrer quando Rama atingir essa idade. Se assim não for, Rama não poderá vivenciar a reação (karmaphala) de sofrer com a perda do pai. Portanto, vemos que a consciência unitária e a reação potencial (sam'skára) não podem se abrigar em qualquer corpo indistintamente quando do renascimento. Um corpo apropriado, que possa proporcionar a oportunidade e o potencial de expressar as reações (karmaphala) da pessoa, terá de ser encontrado. Somente um corpo assim é que a consciência unitária, junto com todas as reações potenciais, buscará e, nele, renascerá. A consciência unitária e a reação potencial (sam'skára) têm de procurar um corpo que lhes proporcione um ambiente adequado para vivenciar o resultado de suas ações. Qual é o agente que seleciona esse ambiente apropriado para eles? A consciência unitária não pode realizar nenhuma ação. Ela é somente uma expectadora, e a mente se refugiou nela como uma força ou energia em potencial, na forma de reações potenciais (sam'skáras); logo, a mente é também não-funcional. Vimos anteriormente que a pessoa tem de vivenciar as reações de acordo com a lei de Prakrti; assim, é também uma responsabilidade de Prakrti fazer-nos vivenciar as reações remanescentes. Conseqüentemente, sob a lei de Prakrti a pessoa terá de renascer e também Prakrti que terá de encontrar o ambiente e o corpo apropriado para as reações potenciais (sam'skáras) e a consciência unitária. É por isso que se diz que, após a morte, Prakrti seleciona o ambiente apropriado para as reações potenciais. Tal ambiente poderá estar disponível em um dia, ou podem ser necessários milhões de anos para encontrá-lo, pois a mente não poderá ser abrigada em um corpo até que se obtenha o ambiente apropriado para a expressão das reações potenciais. Portanto, nunca será possível dizer onde nem quando uma pessoa será capaz de renascer após sua morte. Pode haver inúmeros planetas onde exista vida. A consciência unitária e as reações potenciais poderão encontrar um ambiente apropriado em qualquer um deles. Portanto, não é nem mesmo necessário que a pessoa tenha de renascer somente nesta Terra. Dessa forma, fica claro que aqueles que renascem aqui na Terra possuem um campo de ação adequado para este planeta e que eles assumem um corpo com o único objetivo de vivenciar as reações de suas ações passadas. Os seres humanos continuam a realizar novas ações ao mesmo tempo em que vivenciam as reações de suas ações passadas. Esta experiência do resultado das ações passadas é chamada de futuro desconhecido, ou destino (adrs't'a). A pessoa vivencia o resultado de suas ações na vida subseqüente, mas não consegue se lembrar das ações que resultam em felicidade ou sofrimento, porque a memória da pessoa não é suficientemente ampla para relembrar ou conhecer as ações de sua vida passada. As reações que os seres humanos vivenciam são acumuladas na vida anterior; por isso, na vida presente, eles não podem compreender a causa de tais experiências. Assim, eles as consideram como destino, ou futuro desconhecido. Freqüentemente, as pessoas consideram Parama Purus'a como o responsável pelos infortúnios que acontecem consigo mesmas, mas elas são as responsáveis, uma vez que um destino marcado pelo sofrimento é apenas a reação das próprias ações passadas. Como Parama Purus'a poderia ser o responsável? Os seres humanos são responsáveis por seu destino, visto que somente suas ações é que o constituem. Apenas eles terão de passar pelas conseqüências de todas as suas ações. Ninguém mais poderá substituí-los. As suas ações boas produzem bons resultados enquanto as ações más produzem maus resultados, e eles terão de vivenciar ambos os resultados, sem exceção. Esta é a lei de Prakrti, e ninguém poderá mudá-la.
P.R. Sarkar - Filosofia Elementar da Ananda Marga
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