Para os seres humanos, a realidade é aquilo que eles podem perceber com seus órgãos sensoriais. Qualquer coisa percebida diretamente é real. Como pode uma pessoa conceber um objeto? Através de um processo pelo qual o objeto alcança as portas de nossos órgãos sensoriais por meio de várias ondas aferentes, sejam elas ondas de som, tato, forma, cheiro ou gosto.
Estas ondas de expressões vibratórias nunca são lineares ou retas, mas sempre sistálticas por natureza. Em cada fase de tais ondas, há pulsação e sístole. Cada expressão vibratória é pulsativa. O que quer que emanemos ou expressemos através de nosso órgãos sensoriais ou motores se processa por meio do movimento sistáltico. As ondas aparecem por uma fração de segundo e, no momento seguinte, desaparecem. Portanto, quando uma onda surge, nós podemos percebê-la. Por exemplo, quando dizemos que estamos vendo um elefante ou um camelo, não os vemos ininterruptamente – ora eles aparecem, ora desaparecem. A soma total de todas essas aparições constitui o objeto que vemos.
A tendência natural da psicologia humana é conseguir algo. Ela sempre tem uma tendência positiva para conseguir, pegar ou provar algum objeto. É por isso que, no processo da expansão mental, sintetizamos em nossa mente qualquer objeto do qual nos aproximamos e dizemos que vimos esse ou aquele objeto – que tocamos ou cheiramos isso ou aquilo.
Se a mente estiver absorta no estado negativo, então, mesmo depois de ver um elefante ou um camelo, a pessoa alegará que não viu coisa alguma. Isto indica quais as idéias que são positivas e quais as que são negativas. Geralmente, vemos alguma coisa quando as tendências positivas dominam a mente e, nesse estado, tocamos ou percebemos essa coisa. Por qualquer razão, se a mente estiver absorta no estado negativo, ela não poderá perceber nada.
Portanto, aquilo que chamamos de realidade possui duas condições – positiva e negativa. De fato, a dualidade sempre existe. Devido à existência dessa dualidade, a realidade não pode ser uma entidade absoluta. A realidade não se consubstancia em tal estado de dualidade. Obviamente, o estado que chamamos de realidade não é real de maneira alguma – temos tendências positivas na mente e assim podemos perceber as coisas.
Um ponto a mais deve ser mencionado em relação a isso. Qual é ele? O processo de percepção por meio dos órgãos sensoriais poderá ser imperfeito. Suponhamos que vocês estejam olhando para as areias de um deserto, à noite, de uma longa distância. Na escuridão as areias podem parecer para vocês como um oceano ou como folhas onduladas de metal. Tais alucinações ocorrem devido a uma função defeituosa dos seus órgãos visuais. Os órgãos sensoriais têm sua capacidade limitada a um ponto além do qual eles não podem funcionar apropriadamente. Além disso, há objetos que podemos ver com a ajuda de um microscópio, mas que não podem ser percebidos a olho nu. Percebermos o objeto com a ajuda de ondas eletromagnéticas. Poderíamos, então, denominar tal percepção de percepção dos órgãos visuais? Não, não podemos chamá-la assim. É por isso que o que chamamos de realidade ou de realidade material, na qual todo o conceito do materialismo se baseia, de nenhuma forma é real. Assim, de onde e como o materialismo pode extrair a sua base? O materialismo, ou o assim-chamado materialismo, se baseia na realidade, mas essa realidade é defeituosa e está distorcida pela ambigüidade.
Agora, o que existe na intelectualidade?
Neste domínio, as ondas do “eu-objetivado” [citta] se movem. Tais ondas são sistálticas, com altos e baixos, e estão sempre em movimento. Devido a todas essas ondas, a intelectualidade algumas vezes parece verdadeira e outras vezes não. Quando a mente humana se mantém em movimento positivo, ela sintetiza todas as coisas que recebe como reais e alega que viu o objeto – seja um elefante seja um camelo. Agora, suponhamos que a mente esteja absorta no estado negativo, o que acontecerá? Neste caso, mesmo que a mente projete um elefante internamente, ela não poderá percebê-lo. Mesmo quando a mente pensa sobre ele, ela não pode ver esse objeto. Devido a esse defeito ou desordem psíquica, a mente sofre alucinações positivas ou negativas. Da mesma forma, nos pensamentos de vocês, algumas vezes tais alucinações positivas ou negativas podem ocorrer. Obviamente, o que quer que um intelectual pense no domínio de seu intelecto é completamente imperfeito. Sempre existirá espaço para a dúvida na esfera intelectual. Portanto, a intelectualidade não possui nenhuma base no verdadeiro sentido.
Os intelectuais pensam que não são pessoas comuns. Eles pesam que podem fazer muitas coisas e que conhecem muitas coisas. Mas eles devem ter em mente que os seus pensamentos podem ser imperfeitos, porque nas suas ondas de pensamentos há altos e baixos sempre operando. Algumas vezes a mente humana pensa e outras não, permanecendo num estado de pausa psíquica. Se a soma de todas as pausas psíquicas for considerada como uma única, então, a intelectualidade corresponde a zero.
A intelectualidade não depende das ondas de pensamento. Aqui o ponto crucial não é saber se as ondas de pensamento são defeituosas ou não, mas se elas se tornam defeituosas devido à mente objetivada [citta, ou placa mental]. Como resultado, a mente pensa que um objeto não existe embora ele esteja lá. Da mesma forma, algumas vezes para a mente, um objeto parece existir embora a sua existência não ocorra. Este tipo de intelectualidade está tomado pela dúvida e a possibilidade de tal dúvida permanece, já que os movimentos positivos da mente são sistálticos.
Agora, qual deve ser a nossa conclusão final? Nem a intelectualidade nem a realidade possui qualquer existência. Por isso, podemos dizer com segurança que neste mundo nenhuma delas existe. Dessa foram, qual a direção que as pessoas inteligentes e sábias devem tomar neste mundo? Elas devem procurar uma entidade que esteja além dos movimentos sistálticos e dos diferentes estados de mobilidade. E essa entidade não é nada mais do que a espiritualidade.
O movimento da espiritualidade, por natureza nunca, é pulsativo mas linear, ele flui por uma linha reta. Devido a esse movimento retilíneo, ela não tem curvatura, nem positiva nem negativa. Mesmo assim, podemos dizer que a existência humana reside no ponto extremo da positividade. Seja a pessoa inteligente ou não, o ponto inicial do progresso individual é na Negatividade Extrema. Portanto, o movimento de um ser vivo se inicia na Negatividade Extrema e, gradualmente, o curso de seu movimento se torna linear à proporção que ele flui na direção da Positividade Extrema, isto é, para a espiritualidade. Este é o caminho verdadeiro. No final, nada existe, nem a intelectualidade nem a realidade – somente a espiritualidade, que permeia todas as coisas. Nenhuma entidade no mundo externo pode reivindicar a condição de entidade absoluta. Somente a espiritualidade é a entidade absoluta, e sua busca consiste na verdadeira intelectualidade. Qualquer outra coisa que as pessoas façam não passará de uma expressão de suas propensões distorcidas.
P.R. SARKAR (Abhimata, 5/37)
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