O significado correto de
Brahmacarya é permanecer conectado a Brahma.
“Brahma Vicarana’na’m
Brahmacaryam”.
Sempre que uma pessoa faz um
trabalho, ou pensa em fazê-lo, considera o objeto com o qual entra
em contato como uma entidade finita. Devido à constante aspiração
por ganhos materiais, a mente é tão absorvida pelos objetos
materiais que a sua consciência torna-se densa. O significado da
prática de Brahmacarya Sádhaná é o de considerar os
objetos com os quais a pessoa entra em contato como diferentes
expressões de Brahma, e não como formas materiais. Por esta
concepção, mesmo que a mente vagueie de um objeto a outro, ela não
se afasta de Brahma porque extrai sentimentos cósmicos de cada
objeto. Como resultado disso, Preya Sádhaná (enfoque
extrovertido) é convertido em Shreya Sádhaná (enfoque
introvertido) e Kama converte-se em Prema (Preya
quer dizer atração pelos objetos materiais, enquanto Shreya
quer dizer atração pela realidade derradeira. Kama quer
dizer desejo pelos objetos finitos e Prema desejo pelo
infinito).
Muitos interpretam erradamente
Brahmacarya como sendo a preservação de sêmen. Deveria ser
lembrado que nenhuma das duas palavras “Brahma” e “Carya”
tem relação com a palavra sêmen. Além do mais, mesmo
fisiologicamente, a preservação do sêmen é um blefe. Seja por
causa de doenças em certas glândulas seja por outros processos
similares, a menos que alguém se torne mutilado, não será possível
observar esse tipo de Brahmacarya.
Sem dúvida é certo que, se o
significado natural da palavra Brahmacarya (isto é, sentir a
Entidade Cósmica em todos os objetos materiais) é aceito, o
controle na vida do homem se torna essencial, porém, este controle
não implica infligir as leis da natureza. O controle significaria
seguir as leis da natureza de forma apropriada. A prevenção da
perda seminal por algumas medidas apropriadas, ou a prevenção da
formação de excedente através do jejum é, em geral e erradamente,
denominada de Brahmacarya.
Mas, para aqueles que não são
casados, este suposto Brahmacarya, (que na verdade não é
Brahmacarya), tem importância, porque reduz a possibilidade
de excitação sexual e, assim, previne a perda seminal, que pode
ocorrer devido à excitação enquanto acordado, dormindo ou
sonhando. Isto ocorreria porque, quando não há excesso de sêmen,
não surge o desejo físico para despendê-lo. Posteriores
considerações mostrarão, contudo, o quanto vale este suposto
Brahmacarya. Não seriam a mesma coisa prevenir a formação
de sêmen em excesso e a perder o excesso? Tudo o que deve ser dito é
que a primeira alternativa é boa para os solteiros e a segunda para
os casados.
As pessoas que, por diferentes
métodos repressivos, tentam prevenir a perda de sêmen, na verdade,
sofrem reações físicas e mentais negativas. Seus corpos se
desenvolvem grosseiramente e falta-lhes vivacidade. A supressão do
desejo sexual dá origem a outros desejos, especialmente a raiva, sob
uma forma mais terrível. Em tempos muito antigos, apenas o sentido
autêntico de Brahmacarya era aceito. Mais tarde, quando a
sociedade foi dominada pelos intelectuais, a “intelligentsia”, os
assim-chamados monges que tinham se dedicado à exploração,
pensaram que, se fosse permitido a um cidadão comum dedicar-se às
práticas espirituais, eles perderiam a qualquer momento o esquema de
exploração, ao qual estavam apegados. Eles pensavam: “Se o homem
comum for inspirado por ideais espirituais, sua racionalidade
crescerá cada vez mais. Por isso, o povo deve ser mantido
desamparado e indefeso. O medo e o complexo de inferioridade devem
ser infundidos no homem para explorá-lo.” Eles sabiam que esta
massa explorada consistia de gente comum, cuja maioria era de pessoas
casadas. Se portanto, a perda de sêmen fosse declarada
anti-religiosa, eles conseguiriam sua meta sem dificuldade. O intento
foi imediatamente alcançado. O homem comum começou a pensar que, ao
levar a vida de casado, cometia um grave erro, um pecado abominável,
entregando-se a atividades contra Brahmacarya. Os monges
observavam o celibato e se tornaram, portanto, muito superiores. Os
assim-chamados reclusos aproveitavam-se da situação e exploravam a
sociedade sem dificuldade.
Se esses monges são realmente
Naesthika Brahmacariis (aqueles que não perdem nenhum sêmen),
isto não pode ser decidido por argumentos. Isto só poderia ser
decidido por um exame médico. Pode-se dizer, sem a menor dúvida,
que muitos desses monges não passariam por esse exame.
O casamento é uma função
natural, como tomar banho, comer, dormir etc. Portanto, nada
há de condenável nele, nem ele é contra o Dharma. Uma vez
que um homem honrado ou um Sádhaka elevado não está
proibido de comer, não há qualquer razão para ele evitar o
matrimônio. Porém, é preciso um controle adequado sobre o comer e
o dormir, aliás, sobre cada passo da vida. A falta desse controle
leva a doenças. A comida é necessária para a vida; porém, comer
sem controle causa indigestão. O banho é refrescante, porém, a
falta de controle do banho, isto é, o banho muito prolongado pode
acarretar resfriado. Do mesmo modo, o casamento é útil, porém, a
vida de casado sem controle pode causar doenças ao corpo e à mente.
O matrimônio é um pouco
diferente das outras funções naturais da vida, tais como comer,
dormir etc. O matrimônio não é tão essencial à vida como
o comer e o dormir. A necessidade do casamento varia de acordo com o
indivíduo. Por isso, segundo a opinião da Ananda Marga, cada
indivíduo tem liberdade completa no que concerne ao casamento. Por
exemplo, o casamento de pessoas que sofrem de doenças físicas ou
mentais, ou as que não estão bem de finanças, ou que se acham em
circunstâncias não favoráveis ao casamento (ou seja, se o
casamento puder causar infelicidade), não é desejável. Aqueles que
estão constantemente comprometidos no cumprimento de um ideal ou
aqueles que têm de passar a maior parte do dia ganhando a própria
subsistência ou com outras ocupações mentais, não deveriam se
casar, porque eles não poderiam cumprir seus deveres familiares
adequadamente. O casamento de tais pessoas é nocivo à sociedade em
muitos casos.
Embora o casamento não seja
recomendável àqueles que têm certas doenças, ou que estejam em
condições pessoais desfavoráveis ao casamento, existe a
possibilidade de eles se entregarem a vícios velados, devido ao fato
de não serem casados. Para evitar essa possibilidade, eles devem se
esforçar para atingir um ideal elevado ou se engajar em práticas
espirituais laboriosas [serviço social]. A degeneração psicológica
resultante da supressão das tendências naturais pode ser evitada
apenas com o esforço para realizar um ideal elevado.
Foi dito anteriormente e
continuo a repetir que o homem deve exercer o autocontrole em cada
aspecto da vida, seja ele grande ou pequeno. Este controle não
implica suprimir o desejo, mas sim controlá-lo. Desejos e tendências
são atributos naturais dos seres humanos. Portanto, para aqueles que
desejam suprimir os desejos, melhor seria adotar um método mais
fácil, ou seja, o suicídio, ao invés de buscar práticas
espirituais difíceis. Eu não vejo nenhuma razão que justifique o
suposto Brahmacarya adotado por shaevas, shaktas,
vaesnavas, ou aqueles que acreditam nas Puranas, porque
seu Deus — Shiva, Visnu, Krs’n’a e outros mais — eram
pessoas comuns. As Puranas mencionam os nomes de suas esposas
e seus respectivos filhos.
O Dharma é baseado em
Satya. “Dharma Sahna Yatra na Satyamasti”. “Onde
não há Satya não há Dharma”.
A interpretação errônea de
Brahmacarya pode conter qualquer coisa, exceto Satya.
Portanto, não há Dharma ou Brahma nela.
O homem deve progredir ao
máximo, aceitando o que é simplesmente a verdade. Este é o caminho
de um Sádhaka; este é o caminho de Dharma. Pode ser
um privilégio dos profissionais religiosos parasitas negar o que é
simplesmente a verdade na vida prática, porém, nesse caso a
santidade de Dharma não é mantida. Não é o caminho de
Satya; é o que se chama de hipocrisia.
Um Guia Para A Conduta Humana - Shrii Shrii Ánandamúrtijii.
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